CONFIRMAÇÃO MEDIÚNICA
Por Enrique Eliseo Baldovino
Comunicação na
Revista Espírita confirma a existência real do misterioso personagem
considerado como lendário, conhecido na História por esse apelido
Estudando as
páginas notáveis da Revista Espírita, do mês de dezembro de 1859 (RE dez.
1859–V d: Palestras Familiares de Além-Túmulo – Michel François [Sociedade, 11
de novembro de 1859], pp. 382-384), especialmente o 5º artigo (V), conversação
nº 4 (d), encontramos uma informação histórica de altíssima relevância,
principalmente na questão nº 10, onde é confirmada a existência dum misterioso
personagem francês que se acreditava ser lendário e que as páginas da Revue
Spirite revelam agora como sendo real.
Allan Kardec,
o insigne Codificador do Espiritismo, conversou na Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas com o Espírito Michel François que, quando encarnado (fins do
século XVII), tinha a profissão de ferrador, que à época era considerado um
trabalho de plebeu. O Sr. Michel François era médium e foi protagonista da
seguinte manifestação notável:(1) um espectro lhe apareceu, ordenando-lhe que
fosse revelar ao rei Luís XIV certas coisas secretas de grande importância.
Esse espectro era o Espírito do irmão do citado rei francês. O Espírito revela
que, quando encarnado, foi encarcerado pelo próprio irmão Luís XIV, por motivos
ainda desconhecidos, que ordenou lhe colocassem no rosto uma máscara de ferro,
pessoa que ficou conhecida na História como O Homem da Máscara de Ferro.
Citaremos a
histórica e reveladora Conversação da Revista na íntegra, intercalando os
nossos comentários e pesquisas com letra cursiva.
Michel
François
(Sociedade,
11 de novembro de 1859)
O ferrador
Michel François, que vivia no fim do século XVII, dirigiu-se ao intendente de
Provence e lhe anunciou que um espectro lhe aparecera e ordenara que fosse
revelar ao rei Luís XIV certas coisas muito importantes e muito secretas.
Mandaram-no para a corte no mês de abril de 1697. Dizem uns que ele falou ao
rei; outros, que o rei se recusou a vê-lo. O que é certo, acrescenta-se, é que
em lugar de o mandarem para a prisão, deram-lhe dinheiro para a viagem, isenção
de talha e de outros impostos reais.
Talha:
imposto direto, na França, pago pelos plebeus desde a Idade Média (século XII)
até 1789 (ano da Revolução Francesa). “A palavra talha provinha do costume que
os arrecadadores tinham de marcar numa talha de madeira o que os contribuintes
haviam pago” (Voltaire). À época, existiam a talha do senhorio – contribuição
obrigatória paga ao senhor feudal pelos servos e os plebeus – e a talha real –
imposto direto em proveito do tesouro real, pago principalmente pelos
plebeus.(2) No conceito obsoleto da divisão de classes da sociedade medieval, o
ferrador Michel François era um plebeu (próprio da plebe, a classe social mais
baixa, que não possuía os privilégios que tinham a nobreza, os eclesiásticos e
os militares), o qual – segundo este precioso documento histórico da Revista
Espírita – ficou totalmente isento de pagar essas talhas e impostos reais, o
que à época era praticamente impossível. O fato de haver ele obtido isenção dum
imposto real é um claro indício de que a conversa entre o rei Luís XIV e Michel
François realmente existiu, como o confirma a próxima questão nº 7.
1.
(Evocação). Resp. – Aqui estou.
2. Como soube
que lhe desejamos falar? Resp. – Como fazeis esta pergunta? Não sabeis que
estais rodeados de Espíritos, que avisam àqueles com quem desejais falar?
3. Onde
estava quando nós o chamamos? Resp. – No espaço, pois ainda estou errante.
4. Está
surpreendido de encontrar-se entre pessoas vivas? Resp. – Absolutamente: encontro-me muitas
vezes.
5. Lembra-se
da sua existência em 1697, ao tempo de Luís XIV, quando era ferrador? Resp. – Muito
confusamente…
6. Lembra-se
da revelação que foi fazer ao rei? Resp. – Lembro-me que lhe devia fazer uma
revelação.
7. E a fez?
Resp. – Sim.
Confirmação
mediúnica do importantíssimo fato em si, isto é, da conversa reveladora que o
ferrador Michel François teve com o próprio rei Luís XIV, a fim de levar-lhe as
informações secretas do Espírito comunicante.
8. Disse-lhe
que um espectro lhe havia aparecido e ordenado que fosse revelar certas coisas
ao rei? Quem era o espectro? Resp. – Era o seu irmão.
Outra notável
revelação mediúnica: a identificação do Espírito comunicante, como sendo o
irmão desencarnado do próprio Luís XIV (Saint-Germain-en-Laye, França,
05/09/1638 – Versalhes, 01/09/1715).
9. Quer dizer
o nome? Resp. – Não; vós me compreendeis.
10. Era um
homem designado pelo apelido de Máscara de Ferro? Resp. – Sim.
Agora é
confirmada a verdadeira existência de O Homem da Máscara de Ferro – informação
histórica de altíssima relevância –, que a partir de então deixa de ser
simplesmente lendária para tornar-se real. Muito tem-se escrito acerca da vida
desse misterioso personagem francês e sobre a sua morte no final do século XVII
(outros datam sua desencarnação no início do século XVIII), o qual foi
encarcerado durante anos em diversas prisões por razões desconhecidas e que
permaneceu aprisionado até seu falecimento, que, segundo alguns, aconteceu
provavelmente na prisão parisiense da Bastilha. Enquanto esteve no cárcere seu
rosto foi coberto com uma máscara, por ordem direta do rei Luís XIV, seu próprio
irmão, como perfeitamente o confirma esta comunicação.
11. Agora,
que já estamos muito distanciados daqueles tempos, poderia dizer-nos qual era o
objetivo daquela revelação? Resp. – Era exatamente informá-lo da sua morte.
12. Morte de
quem? Do seu irmão? Resp. – É claro.
13. Que
impressão causou ao rei a sua revelação? Resp. – Um misto de tristeza e de
satisfação. Aliás, isto ficou provado pela maneira por que ele me tratou.
14. Como o
tratou ele? Resp. – Com bondade e afabilidade.
15. Dizem que
uma coisa semelhante aconteceu a Luís XVIII. Sabe se isto é verdade? Resp. –
Creio que houve qualquer coisa parecida, mas não estou bem informado.
Com
referência a este novo e interessantíssimo fato histórico, acontecido agora com
outro rei francês, Luís XVIII (Versalhes, França, 17/11/1755 – Paris,
16/09/1824) e com um simples lavrador, veja-se a RE dez. 1866–I: O trabalhador
Thomas Martin e Luís XVIII, pp. 369-384. Com referência a esse extenso artigo,
leia-se também nossa Nota do tradutor nº 38 na Revista Espírita de 1858.(3)
16. Por que
aquele Espírito o escolheu para tal missão, sendo você um homem obscuro, em vez
de escolher um personagem da corte, que mais facilmente se acercasse do rei?
Resp. – Eu fui encontrado em seu caminho, dotado da faculdade que ele queria
encontrar e que era necessária; e ainda porque um personagem da corte não seria
capaz de fazer que aceitassem a revelação. Teriam pensado que tivesse sido
informado por outros meios.
17. Qual era
o fim dessa revelação desde que o rei estaria necessariamente informado da
morte do seu irmão, antes de sabê-la por seu intermédio? Resp. – Era para
fazê-lo refletir sobre a vida futura e sobre a sorte a que se expunha e
realmente se expôs. Seu fim foi manchado por ações com as quais supunha
garantir um futuro que aquela revelação poderia tornar melhor.
E o Espírito
Máscara de Ferro tinha sérias razões para essa advertência: a História registra
(4) que Luís XIV, apesar de governar pessoalmente o seu reino (regime
absolutista e centralizado: O Estado sou eu) durante 55 anos com grande fausto,
e de proteger as Letras e as Artes, caiu em determinado momento numa ambição
desmedida, pois que o seu despotismo religioso e o custo de suas guerras
vitoriosas lhe atraíram as simpatias da Europa e lhe granjearam o ódio do povo,
precipitando a ruína da monarquia. Seus propósitos hegemônicos foram funestos
no final, os quais geraram guerras, que, ao seu turno, trouxeram graves
fracassos militares. Todas essas guerras deixaram economicamente exausta a
França, junto às imensas despesas que demandaram as obras do monarca. Durante
todo o seu reinado teve que fazer frente a uma multidão de intrigas e
conspirações políticas contra sua vida, castigando duramente aos seus inimigos
sem nenhuma piedade; ele mesmo dizia que um gesto de debilidade da sua parte
poderia colocá-lo em perigo.
Em 1685, Luís
XIV revogou o Edito de Nantes, firmado em 13/04/1598 pelo rei francês Henrique
IV, que autorizava a liberdade de culto – com certos limites – aos protestantes
calvinistas, pondo fim às Guerras de Religião, cujo ponto culminante foi o
cruel massacre da Noite de São Bartolomeu em 1572. Essa revogação trouxe
gravíssimas consequências, pelas emigrações e discórdias que suscitou. Por
outra parte, a História também registra que o rei Luís XIV teve várias amantes,
que lhe deram numerosos filhos. Luís XIV, chamado o Grande e também o Rei Sol,
morreu deixando como herdeiro seu bisneto Luís XV (futuro rei de França e autor
da frase tristemente célebre: “Depois de mim, o dilúvio”).
Voltaire e
Alexandre Dumas, pai
A primeira
referência oficial à existência de “O Homem da Máscara de Ferro” a fez o
filósofo do Iluminismo, François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire
(Paris, França, 21/11/1694 – Idem, 30/05/1778), no capítulo XXV da sua obra: O
século de Luís XIV (1751), como também alguns anos antes (1745, em Amsterdã) em
suas Memórias secretas para a história da Pérsia,(5) sendo Voltaire o primeiro
a dar-lhe o nome de Máscara de Ferro. Esse escritor francês afirma que o citado
personagem foi aprisionado em 1661, ano da morte do cardeal Mazarino. Os
registros e documentos preservados da Bastilha, estudados por Voltaire quando
esteve nessa prisão como réu, informam sobre um homem mascarado que ficou preso
por mais ou menos 30 anos, que teria sido alimentado por um surdo-mudo,
prisioneiro ao qual era proibido manter contato com o pessoal da prisão,
devendo levar a máscara todo o tempo. Voltaire também recebeu narrações de
presos mais antigos que falavam da existência do misterioso personagem, cujo
verdadeiro nome era considerado segredo de Estado, assim como as razões pelas
quais havia sido encarcerado a mando do próprio rei Luís XIV.
Outros
escritores e diversos historiadores têm relatado como foi a dolorosa e trágica
vida desse personagem. Entre eles destaca-se Alexandre Dumas, pai
(Villers-Cotterêts, França, 24/07/1802 – Puy, 05/12/1870), que no século XIX
(1848), em seu livro O visconde de Bragelonne (conhecido também com o título:
L’homme au Masque de Fer), ocupar-se-ia também do assunto, mas de outro ponto
de vista.
Prudência e
sabedoria de Kardec
Notemos a
extrema prudência e a grande sabedoria de Kardec sobre o assunto, revelando
somente essas novas informações em outro contexto histórico, político e social,
sem insistir no nome completo do célebre personagem pesquisado (perguntas 9 e
10) e aceitando o nome Máscara de Ferro ante a natural reserva do Espírito
Michel François que, apesar disto, confirma a identidade do personagem e a
veracidade da existência do mesmo, fato constatado através das páginas
históricas da Revista Espírita de 1859, cuja notável informação mediúnica –
revelação que esclarece à posteridade e que colabora com a História – comprova
positivamente 3 dados até então inéditos:
a) que de
fato existiu a conversa entre o ferrador Michel François e Luís XIV sobre a
aparição do espectro e acerca da mensagem que esse dirigiu ao rei, fato também
confirmado pela isenção de talhas e impostos reais, o que era praticamente
impossível acontecer com um plebeu;
b) que essa
mensagem mediúnica provinha do Espírito Máscara de Ferro, que quando encarnado
era realmente o irmão encarcerado do rei francês Luís XIV;
c) que esse
Espírito voltou do Além-Túmulo (através do médium Michel François, ferrador de
profissão) para avisar e alertar ao seu próprio irmão sobre a realidade da vida
após a morte e acerca das profundas reflexões que deveria fazer, a fim de
adverti-lo com sua mensagem espiritual para uma mudança interior de atitude
moral como realeza terrestre, chamando-lhe sabiamente a atenção de que cada um
é responsável pelos atos realizados, devendo assim responder por eles conforme
sua própria conduta e consciência, ante as justas e invioláveis leis de Deus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
(1) KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos
Psicológicos. Tradução de Júlio Abreu Filho. Dezembro de 1859, pp. 382-384.
EDICEL.
(2) CEI (Conselho Espírita Internacional). Notas do
tradutor 369 a 372 no fim da Obra. In: ______.
Revista Espírita: Periódico de Estudios Psicológicos, de Allan Kardec.
Tradução do original francês ao espanhol de Enrique Eliseo Baldovino. Ano 1859
(volume II). EDICEI, 2009.
(3) KARDEC, Allan. Revista Espírita. Tradução de Enrique
E. Baldovino. 1ª. edição, LXXXIX-356 pp. Ano 1858 (volume I), Nota do tradutor
nº 38 (www.edicei.com). Brasília: EDICEI, 2005.
(4) DICIONÁRIO Enciclopédico Ilustrado Sopena. Barcelona:
RAMÓN SOPENA S.A., 1980. 5 tomos, 4583 pp. Vocábulo procurado: Luís XIV (rei da
França). Tomo III, p. 2530.
(5) DICIONÁRIO Enciclopédico Quillet. Buenos Aires:
QUILLET S.A., 1971. 8 tomos, 5089 pp. Editor: Arístides Quillet. Vocábulo
buscado: Máscara de Ferro. Tomo VI, p. 59.
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