HAROLDO DUTRA DIAS
“Não podemos conhecer o Jesus ‘real’ através
da pesquisa histórica, quer isto signifique sua realidade total ou apenas um
quadro biográfico razoavelmente completo. No entanto podemos conhecer o
‘Jesus histórico’. Por Jesus da história, refiro-me ao Jesus que podemos
‘resgatar’ e examinar utilizando os instrumentos científicos da moderna pesquisa
histórica.”
Um longo itinerário foi percorrido para que
pudéssemos resumir as fases da pesquisa histórica sobre o Cristianismo, antes
de compará-la com o material revelado pela Espiritualidade superior.
Novamente, utilizamos como epígrafe a citação
do historiador John P. Meier, professor na Universidade Católica de Washington D.
C., considerado um dos mais
eminentes pesquisadores bíblicos de sua
geração. Ao estabelecer os limites da ciência e da investigação humanas, ele
adverte:
Por Jesus da história, refiro-me ao Jesus que
podemos “resgatar” e examinar utilizando os instrumentos científicos da moderna
pesquisa histórica.
A atitude de prudência e humildade esboçada
por esse autor, favorece o diálogo com a Doutrina Espírita que, por sua vez,
oferece subsídios valiosos, inacessíveis aos “instrumentos científicos da moderna
pesquisa histórica”. Não se trata de sobrepujar a Ciência, desprezar suas
conclusões, numa atitude mística incompatível com a fé raciocinada. O desafio é
“complementar”, “unir”, “dialogar”, onde ambas as partes estão dispostas a
ouvir e a falar, sem submissão ou subserviência.
Doravante, destacaremos a contribuição oferecida
pela revelação espiritual no equacionamento de
graves problemas relativos à história de Jesus, dos seus seguidores diretos,
e do Cristianismo, de modo geral, visando à apropriação, com maior segurança e
legitimidade, da essência da Boa Nova, alicerce de todas as propostas de renovação
veiculadas pela Doutrina dos Espíritos.
Nessa
linha de raciocínio, somos inevitavelmente levados a indagar: Quem é Jesus na
visão da Espiritualidade superior? A resposta, em O Livro dos Espíritos, é
sobejamente conhecida, mas ainda nos convida a profundas reflexões:
625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem
oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? “Jesus.”
Para o homem, Jesus representa o tipo da perfeição
moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais
perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão de sua lei,
porque, sendo Jesus o ser mais puro que já apareceu na Terra, o Espírito Divino
o animava. Se alguns dos que pretenderam instruir o homem na lei de Deus,
algumas vezes o desencaminharam, ensinando-lhe falsos princípios, foi porque se
deixaram dominar por sentimentos demasiado terrenos e porque confundiram as
leis que regulam as condições da vida da alma, com as que regem a vida do
corpo.Muitos deles apresentaram como leis divinas o que eram simples leis
humanas, criadas para servir às paixões e para dominar os homens. (Comentário de
Kardec.)2
O Benfeitor Emmanuel, por sua vez, enriqueceu
nossos estudos com surpreendentes informações sobre o papel desempenhado por
Jesus na condução dos destinos humanos:
Rezam as tradições do mundo espiritual que na
direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de
Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se
conservam as rédeas diretoras da vida de todas
as coletividades planetárias. Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos membros
divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades da
Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do
nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos.
A primeira, verificou-se quando o orbe
terrestre se desprendia da nebulosa solar, a fim de que se lançassem, no Tempo
e no Espaço, as balizas do nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na
matéria em ignição, do planeta, e a segunda, quando se decidia a vinda do
Senhor à face da Terra, trazendo à família humana a lição imortal do seu Evangelho
de amor e redenção.3
Diante do assombro dessas revelações de
Emmanuel, resta-nos indagar o que são Espíritos puros.A informação é encontrada em O Livro dos
Espíritos, nas respostas dadas pelos benfeitores espirituais a Allan Kardec,
nas seguintes questões:
112. CARACTERÍSTICAS GERAIS – Nenhuma
influência da matéria. Superioridade intelectual e moral absoluta, com relação
aos Espíritos das outras ordens.
113. Primeira classe. Classe única. Percorreram
todos os graus da escala [ver questões 100 e seguintes] e se despojaram de
todas as impurezas da matéria.
Tendo alcançado a soma de perfeição de que é
suscetível a criatura, não têm que sofrer mais provas, nem expiações. Não
estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna
no seio de Deus.
.....................................................
128. Os seres que chamamos anjos, arcanjos,
serafins, formam uma categoria especial, de natureza diferente da dos outros
Espíritos?
“Não; são os Espíritos puros: os que se acham
no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições.”
....................................................
170. Em que se transforma o Espírito depois da sua última encarnação?
“Em Espírito bem-aventurado; em Espírito
puro.”4
É forçoso concluir, com o professor John P.
Meier, que os instrumentos científicos da moderna pesquisa histórica não são
capazes de nos mostrar o “Jesus real”. Talvez seja essa a razão pela qual os historiadores,
como demonstrado nos artigos anteriores, acabam por apresentar uma imagem
distorcida de Jesus.
Jesus é o Governador Espiritual do Planeta,
em cujas mãos repousam os destinos de toda a humanidade terrena.
A tentativa de reduzir o Mestre aos
parâmetros estritamente humanos decorre da visão materialista da maioria dos
pesquisadores. É nesse ponto que a revelação espiritual pode contribuir para a reconstituição
do “Jesus real”, restabelecendo a legítima compreensão do Cristianismo.
Emmanuel destaca a relevância da atuação do
Mestre, a pujança da sua influência, no que diz respeito aos rumos do progresso
terrestre.
Encerramos este artigo com mais uma notável
citação desse Espírito, que descortina detalhes do Governo espiritual do Cristo:
Vê-se, então, o fio inquebrantável que
sustenta os séculos das experiências terrestres, reunindo- as, harmoniosamente,
umas às outras, a fim de que constituam
o tesouro imortal da alma humana em sua
gloriosa ascensão para o Infinito.
....................................................
Na tela mágica dos nossos estudos, destacam-se
esses missionários que o mundo muitas vezes crucificou na incompreensão das
almas vulgares, mas, em tudo e sobre todos, irradia-se a luz desse fio de
espiritualidade que diviniza a matéria, encadeando o trabalho das civilizações,
e, mais acima, ofuscando o “écran” das nossas observações e dos nossos estudos,
vemos a fonte de extraordinária luz, de
onde parte o primeiro ponto geométrico desse
fio de vida e de harmonia, que equilibra e satura toda a Terra numa apoteose de
movimento e divinas claridades.
Nossos pobres olhos não podem divisar
particularidades nesse deslumbramento, mas sabemos que o fio da luz e da vida
está nas suas mãos. É Ele quem sustenta
todos os elementos ativos e passivos da
existência planetária.No seu coração augusto e misericordioso está o Verbo do
princípio. Um sopro de sua vontade pode
renovar todas as coisas, e um gesto seu pode
transformar a fisionomia de todos os horizontes terrestres.5
Referência:
1MEIER, John P. Um
judeu marginal: repensando o Jesus
histórico. 3. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1993. p. 35.
2 KARDEC, Allan. O
livro dos espíritos. Edição Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro:
FEB, 2007. 3XAVIER, Francisco C. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 36.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. I, item A Comunidade dos Espíritos Puros,
p. 17.
3XAVIER, Francisco C.
A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
Cap. I, item A Comunidade dos Espíritos Puros, p. 17.
4KARDEC, Allan. O
livro dos espíritos. Edição Comemorativa do Sesquicentenário.
Rio de Janeiro: FEB,
2007.
5 XAVIER, Francisco C.
A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
“Introdução”, p. 14-15. reformador março 2008 - b.qxp 3/4/2008 10:48 Page 33
Fonte: Reformador Ano 126 • Nº 2. 148 • Março
2008
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