Ana Vargas
anavargas.adv@uol.com.br
Dizem pais e educadores que
impor limites às crianças é uma necessidade e uma dificuldade. Acredito que
podemos ir além: é difícil reconhecer e aceitar os nossos limites também na
vida adulta. As situações se tornam mais complexas que as experiências
infantis, envolvem crenças, valores, que também podem viver de forma obscuradentro
de nós, mesclados por senso comum, tendências culturais familiares e até
atavismos de outras encarnações. Tudo isso contribui ou pode contribuir para
fazer dos nossos limites uma zona nebulosa, desconhecida, frequentemente
falseada por onipotência ou impotência. Penso que posso tudo ou, ao contrário,
que sou uma criatura infeliz destituída de qualquer poder.
Trabalhando com formação de magnetizadores, esse é um quadro bastante comum. Aquele que crê não ter poder algum, além das dificuldades referidas para identificar o seu limite, carrega ainda uma baixa estima por si mesmo, e realmente, não enxerga os potenciais. Demanda trabalho teórico grande do orientador, e as experiências práticas com o Magnetismo são fontes de auto convencimento e autodescoberta que muito contribuem para elevação de sua autoestima. Há mesmo lindas histórias de florescimento pessoal. E tem aqueles outros que não conseguem identificar o limite, em geral creem de forma muita singela, com bons sentimentos e pouca reflexão que o bem é uma obrigação e tem que ser feito às raias do sacrifício. Às vezes, há um orgulho, um sentimento de heroísmo, até uma vaidade inconsciente. E aí quando barrados de fazer o bem, para o bem deles mesmo, se melindram, por exemplo: solicitar a um magnetizador que não se encontra física ou emocionalmente bem que se abstenha, durante a crise ou a enfermidade, de magnetizar.
Isso não deveria acontecer,
mas acontece. Somos humanos e espiritualmente “crianças crescendo” no dizer dos
Espíritos Superiores. Então, convém refletir sobre o tema.
Qual é o limite para
fazermos o bem? Vejamos o que diz a questão 642 de O Livro dos Espíritos:
“Bastará não fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar sua posição futura?
- Não, é preciso fazer o bem no limite de suas forças, por que cada um responderá por todo o mal que resulte do bem que não haja feito.”
A indiferença, a omissão, são deplorados como conduta. Mas os Espíritos Superiores não recomendam o absurdo, nem o impossível, sequer o sacrifício pessoal. Eles respondem com clareza: é preciso fazer o bem no limite de suas forças, até onde elas lhe permitam ir, não significa esgotamento. Todo limite traçado pela natureza é o do equilíbrio e do bem-estar. A saciedade me diz que estou suficientemente alimentada, o cansaço me aponta a necessidade do descanso e o meu limite. Exaustão é sofri-mento, é excesso do limite, conduzirá à doença, assim como alimentação em excesso conduzirá a indigestão. Essa regrinha é repetida muitas vezes no capítulo das Leis Morais. Conhecer o limite das próprias forças é tarefa fundamental no autoconhecimento. E aplicável em todos os setores, em especial na prática do Magnetismo espírita.
E mais, vale lembrar outra lição de O Livro dos Espíritos, pertinente ao tema do Magnetismo, comentário de Kardec no capítulo Princípio Vital:
“A quantidade de fluido vital não é fator absoluto para todos os seres orgânicos; varia segundo as espécies e não é fator constante, seja no mesmo indivíduo, seja nos indivíduos da mesma espécie. Existem alguns que são por dizer, saturados, enquanto que outros dispõem apenas de uma quantidade suficiente; daí, para alguns, a vida é mais ativa, mais vibrante e, de certo modo, superabundante.
A quantidade de fluido vital se esgota, pode vir a ser insuficiente para manter a vida, se não se renova pela absorção a assimilação das substâncias que o contém. O fluido vital se transmite de um indivíduo para outro. Aquele que tem o bastante, pode dá-lo àquele que tem pouco e, em certos casos, restabelecer a vida prestes a se apagar.”
Ponto fundamental na
formação do magnetizador: conhecer os limites da sua força, da sua energia
vital, pois é isso que irá transmitir aos outros.Precisa tê-la para poder
doá-la, em primeiro lugar.
Se, vive em um país tropical como o nosso, por mais que cuide da saúde e tenha bons hábitos, está sujeito a doenças virais, estamos encarnados, o corpo sofre a ação do tempo e a idade traz limitações, por exemplo. É preciso aceitar, são fatos da vida. E, de mais a mais, no estágio evolutivo do nosso mundo, enfermidades são naturais, são mesmo necessárias. Eu sou magnetizadora há dezessete anos. Ao longo desse tempo, já tive vários períodos em que me declarei impossibilitada de magnetizar: tive muitas pneumonias, infecções respiratórias, precisei fazer cirurgias, crises de coluna, tenho hérnia de disco inoperável. Tratei todos os meus males com medicina e com magnetismo. Estando enferma, era hora de cuidar de mim. Tornava-me paciente e atendida pelos demais magnetizadores do nosso grupo. Recuperada, voltava devagar a atividade. Jamais fui à exaustão, nem permito que o grupo vá. Em todos esses anos nenhum caso de fadiga fluídica, alguns casos de melindres temporários por afastar alguém que se saiba estar enfermo precisando ser atendido.E quantos a estados emocionais, isso depende da consciência do magnetizador. Ele precisa se conhecer, reconhecer e dizer ao grupo: hoje não estou em condições. Isso é ser responsável e coerente com o conhecimento adquirido. Aliás, na enfermidade física também deveria ser, mas é a ideia falseada do valor do sacrifício, de ir à exaustão, e esquecer que o magnetizador transmite suas energias com a coloração que elas têm em seu ser, logo se estou doente, posso contaminar meu magnetizado com minhas dores e achaques, se enfrento uma crise emocional vou transmitir angustia, raiva, etc.
Boas intenções e boa vontade não bastam, é preciso ser responsável e coerente consigo, com o conhecimento que se busca e com os outros. O limite das próprias forças precisa ser conhecido, admitido e usado.