"Em teus dias de dor, recorda alma
querida, que a dor é para a vida aquilo que o buril, severo e contundente,
entre as mãos do escultor é para o
mármore sem forma. Golpe aqui, Golpe ali, outro mais e mais outro um corte de
outro corte se aproxima, e o bloco se transforma em celeste beleza de
obra-prima.[...].”1
HAROLDO DUTRA DIAS
O alicerce da obra
imorredoura do Cristo formou-se à base de renúncia, sacrifício e abnegação.
Três séculos de
Cristianismo Nascente testemunharam o martírio de discípulos corajosos, que se
imolaram no altar da fé para que a luz do Evangelho se estendesse ao mundo,
inaugurando nova era de fraternidade e amor.
Inspirados no exemplo
do próprio Mestre, eles conheceram as feras, o suplício, a perseguição, o
confisco, a brutalidade em todos os seus matizes, gravando para sempre, no coração
dos homens, a lição da resignação, do amor e do perdão.
Na seara de Jesus, os
trabalhadores da primeira hora foram mártires.
Estêvão, o grande
mártir da Era Apostólica, inaugurou o “tempo dos sacrifícios”. Seu testemunho de
fé e de bravura, diante da mais alta corte judicial da nação hebraica, mudaria
os rumos do movimento cristão e deixaria marcas indeléveis no coração do seu
próprio algoz, um homem intrépido e sincero, que se tornaria o responsável pela
universalização do Cristianismo – Paulo de Tarso.
O apedrejamento de
Estêvão se deu no verão do ano 35 d.C.
A informação pode ser
encontrada na obra mediúnica Paulo e Estêvão,2 mas somente após uma leitura
inteligente e atenta dos textos. Na verdade, é necessária uma combinação
harmoniosa e criteriosa de dados.
Emmanuel descreve
acontecimentos, aparentemente desconexos, com enorme precisão.Uma vez reunidas,
essas descrições formam um quadro cronológico coerente e convincente, senão
vejamos:
A manhã
enfeitava-se de muita alegria e de sol [...].
No ar
brincavam as mesmas brisas perfumadas, que sopravam de longe [...].
.................................................
Nesse ano de
34, a cidade em peso fora atormentada por violenta revolta dos escravos
oprimidos.
[...] Em
breve, a galera das águias dominadoras, auxiliada por ventos favoráveis, trazia
no bojo as autoridades da missão punitiva, cuja ação deveria esclarecer os acontecimentos.3
[...] O
coração paternal adivinhava. Àquela hora,
Jeziel, conforme o programa por ele mesmo traçado, arava a terra, preparando-a
para as primeiras semeaduras. [...]4
De Corinto, a
grande embarcação aproara em Cefalônia e Nicópolis, de onde deveria regressar aos
portos da linha de Chipre, depois de ligeira passagem pela costa da Palestina, consoante
o itinerário organizado para aproveitar o tempo seco e tendo em vista que o
inverno paralisava toda a navegação.5
– Há mais de
um ano – exclamou o Apóstolo apagando a vivacidade com a lembrança triste – foi
crucificado aqui mesmo em Jerusalém, entre os ladrões.6
Estamos na
velha Jerusalém, numa clara manhã do ano 35.7
Naquelas
primeiras horas da tarde, o sol de Jerusalém era um braseiro ardente. Não
obstante o calor insuportável, a massa deslocou-se com profundo interesse. Tratava-se
do primeiro processo concernente às atividades do “Caminho”, após a morte do
seu fundador. [...]8
Antes de comparar os
textos, é imperiosa uma ligeira exposição a respeito do clima, agricultura e navegação
na região da Acaia (sul da Grécia). Nos países banhados pelo Mar Mediterrâneo, o
clima é muito semelhante, com verões secos e quentes, e invernos moderados e
chuvosos. As estações do ano se dividem em dois grandes blocos: primavera–verão
(abril–setembro) e outono–inverno (outubro–março).
A semeadura de cereais
se dava no início do outono, após a preparação da terra no final do verão, com
vistas ao máximo aproveitamento da época das chuvas (inverno). Pela mesma
razão, a navegação no Mar Mediterrâneo começava em abril e se encerrava em
outubro. Era extremamente perigoso navegar no inverno, em razão das tempestades
e da impossibilidade de se orientar pelo Sol e pelas estrelas.
O livro se inicia com a
descrição de uma manhã de sol, com brisas perfumadas, e ruas desertas, além da
presença maciça de guardas romanos nas vias públicas, em decorrência de uma
revolta de escravos ocorrida em Corinto, naquele mesmo ano, ou seja, em 34 d.C.
A galera romana teria
aproveitado os ventos favoráveis para se deslocar de Roma até Acaia, a fim de
conter o levante, o que nos permite concluir, seguramente, que a navegação se
deu na primavera, pois o tempo favorável à navegação começava em abril.
Na sequência, o pai de
Jeziel (Estêvão) o encontra arando a terra, preparando-a para as primeiras semeaduras.Naquela
região do Mediterrâneo, a terra era arada no final de setembro (fim do verão), ao
passo que a semeadura se dava no final de outubro (em pleno outono).
Sendo assim, conjugando
a informação da “manhã de sol, com brisas perfumadas” e “aragem da terra”,
pode-se concluir que a tragédia que acometeu a família de Estêvão se deu no
final do verão do ano 34 d.C.
Jeziel (Estêvão) é
enviado para as galeras, como prisioneiro, realizando uma viagem marítima, cujo
itinerário foi organizado para “aproveitar o tempo seco” já que “o inverno
paralisava toda navegação”. Nesse ponto, a descrição de Emmanuel é
rigorosamente precisa. Não há margem para dúvidas. A embarcação partiu no
outono do ano 34 d.C.
Após sua chegada em
Jerusalém, Jeziel é acolhido por Simão Pedro, na Casa do Caminho. Nesse momento,
surge o diálogo entre eles, no qual o pescador de Cafarnaum relata que “há mais
de um ano [...] foi crucificado”, referindo-se a Jesus.
Ora, considerando-se
que a crucificação se deu em abril//maio do ano 33 d.C.,9 a conversa se deu
após o outono de 34 d.C., mas antes de abril de 35 d.C. ou seja, antes de se
completarem dois anos da crucificação.Mais adiante, afirma Emmanuel: “Estamos
na velha Jerusalém, numa clara manhã do ano 35”, confirmando todos os cálculos precedentes.
Por fim, quando
descreve o martírio de Estêvão, o Benfeitor espiritual utiliza a seguinte
expressão: “Naquelas primeiras horas da tarde, o sol de Jerusalém era um
braseiro ardente. Não obstante o calor insuportável [...]”. Assim, é lícito concluir
que Estêvão foi martirizado no verão do ano 35 d.C.
Fonte: Reformador Ano 127 •
Nº 2. 158 • Janeiro 2009
1XAVIER, Francisco
Cândido. Mãos marcadas.Espíritos Diversos. São Paulo: Instituto de Difusão
Espírita, 1972. Cap. 13 – “Maria Dolores”.
2XAVIER, Francisco
Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2007.
3Idem, ibidem. Primeira
parte, cap. I, p. 11-13.
4XAVIER, Francisco
Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2007. Primeira parte, cap. I, p. 20.
5Idem, ibidem. Primeira
parte, cap. III, p. 60.
6XAVIER, Francisco
Cândido. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2007. Primeira parte, cap. III, p. 76.
7Idem, ibidem. Primeira
parte, cap. IV, p. 84.
8Idem, ibidem. Primeira parte, cap. VIII, p.
187-188.
9Consultar o artigo
intitulado “A crucificação de Jesus”, publicado na revista Reformador, ano 126,
n. 2.154, setembro de 2008, p. 33.
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