terça-feira, 25 de junho de 2013

CURA DE UMA FRATURA PELA MAGNETIZAÇÃO ESPIRITUAL



Nossos leitores se lembram, sem dúvida, do caso de cura quase instantânea de uma entorse, operada pelo Espírito do doutor Demeure, poucos dias depois de sua morte, e que relatamos na Revista do mês de março último, assim como o relato da cena tocante que teve lugar nessa ocasião. Esse excelente 

Espírito vem ainda assinalar sua boa vontade por uma cura mais maravilhosa ainda sobre a mesma pessoa. Eis o que se nos escreve de Montauban, em 14 de julho de 1865:
O Espírito do doutor Demeure vem de nos dar uma nova prova de sua solicitude e de seu profundo saber: eis em que ocasião.

Na manhã de 26 de maio último, a Senhora Maurel, nosso médium vidente e escrevente mecânico, teve uma queda infeliz e quebrando o antebraço, um pouco abaixo do cotovelo.

Essa fratura, complicada com distenções do punho e do cotovelo estava bem caracterizada pelo estalo dos ossos e o inchaço que lhe são os sinais mais certos.

Sob a impressão da primeira emoção produzida por esse acontecimento, os pais da Senhora Maurel foram procurar o primeiro médico encontrado, quando esta, retendo-os, tomou um lápis e escreveu medianimicamente com a mão esquerda: "Não vades procurar um médico; eu me encarrego disso. Demeure." Esperou-se, pois, com confiança. Segundo as indicações do Espírito, faixinhas e um aparelho foram imediatamente confeccionados e colocados. Uma magnetização espiritual foi em seguida praticada pelos bons Espíritos que ordenaram, provisoriamente, o repouso. Na noite do mesmo dia, alguns adeptos convocados pelos Espíritos se reuniram na casa da Senhora Maurel, que, adormecida por um médium magnetizador, não tardou em entrar em sonambulismo. O doutor Demeure continuou então o tratamento que não tinha senão esboçado de manhã, agindo mecanicamente sobre o braço fraturado. Já, sem outro recurso aparente que sua mão esquerda, nossa doente tinha tirado prontamente o primeiro aparelho, sendo mantidas somente as tirinhas, quando se viu esse membro tomar insensivelmente, sob a influência da atração magnética espiritual, diversas posições próprias para facilitar a redução da fratura. Parecia ser, então, o objeto de toques inteligentes, sobretudo no ponto onde deveria se efetuar a soldadura dos ossos; alongando-se em seguida sob a ação de trações longitudinais.

Depois de alguns instantes dessa magnetizações espiritual, a senhora Maurel só procedeu à consolidação das tirinhas e a uma nova aplicação do aparelho, consistente em duas tabuinhas se ligando entre si e ao braço por meio de uma correia. Tudo, pois, tinha se passado como se um cirurgião hábil tivesse operado ele mesmo visivelmente; e, coisa curiosa, ouvia-se durante o trabalho estas palavras que o aperto da dor, escapava da boca da paciente: "Não aperteis tão forte!... Vós me fazeis mal!..." Ela via o Espírito do doutor, e era a ele que se dirigia, suplicando para poupar sua sensibilidade. Era, pois, realmente um ser invisível para todos exceto para ela, e que lhe apertava o braço, servindo-se inconscientemente de sua própria mão esquerda.

Qual era o papel do médium magnetizador durante esse trabalho? Parecia inativo aos nossos olhos; sua mão direita, apoiada sobre a espádua da sonâmbula, contribuía com sua parte no fenômeno, pela emissão dos fluidos necessários à sua realização.

Na noite de 27 para 28, a Senhora Maurel, tendo desarranjado seu braço em conseqüência de uma falsa posição tomada durante seu sono, uma forte febre tinha se declarado, pela primeira vez; era urgente remediar esse estado de coisas. Reuniram-se, pois, de novo, em 28, e uma vez o sonambulismo declarado, a cadeia magnética foi formada, a convite dos bons Espíritos. Depois de vários passes e diversas manifestações, em tudo semelhantes às descritas mais acima, o braço foi recolocado em bom estado, não sem ter feito sentir a essa pobre senhora muitos sofrimentos cruéis. Apesar desse novo acidente, o membro já sentia o efeito salutar produzido pelas magnetizações anteriores; é o que prova o que segue, de resto. Desembaraçada momentaneamente de suas tirinhas, ela repousava sobre os cotovelos, quando, de repente, foi levantada alguns centímetros numa posição horizontal e dirigida docemente da esquerda para direita e reciprocamente; abaixou-se em seguida obliquamente e foi submetida a uma nova tração.

Depois os Espíritos se puseram a torcê-lo, a retorcê-lo em todos os sentidos e de tempo em tempo, fazendo movimentar jeitosamente as articulações do cotovelo e do punho. De tais movimentos automáticos impressos a um braço fraturado, inerte, sendo contrários a todas as leis conhecidas da gravidade e da mecânica, só à ação fluídica que se pode atribuir-lhe a causa. Se não fosse a certeza da existência dessa fratura, assim como os gritos dilacerantes dessa infeliz senhora, eu teria tido muita dificuldade, confesso-o, para admitir esse fato, um dos mais curiosos que a ciência possa registrar.

Posso, pois, dizer, com toda a sinceridade, que me sinto muito feliz por ter podido ser testemunha de um semelhante fenômeno.

Em 29,30,31 e dias seguintes, magnetizações espirituais sucessivas, acompanhadas de manipulações variadas de mil maneiras, levaram a uma melhora sensível ao estado geral de nossa doente; o braço tomava todos os dias novas forças. O dia 31, sobretudo, é de se assinalar, como marcando o primeiro passo feito para a convalescença. Nessa noite, dois Espíritos que se faziam notar pelo brilho de sua irradiação, assistiam nosso amigo Demeure; pareciam lhe dar conselhos, e este se apressava em pô-los em prática. Um deles mesmo se punha, de tempos em tempos, à obra, e, por sua doce influência, produzia sempre um alívio instantâneo. Pelo fim da noite, as tabuinhas foram, enfim, definitivamente abandonadas e as faixinhas ficaram sozinhas para sustentar o braço e mantê-lo numa posição determinada. Devo acrescentar que, além disso, o aparelho de suspensão vinha se juntar à solidez suficiente da bandagem. Assim, no sexto dia após o acidente, e apesar da deplorável recaída sobrevinda em 27, a fratura estava em um tal caminho de cura, que o emprego dos meios postos em uso pelos médicos durante trinta ou quarenta dias teria se tornado inútil. No dia 4 de junho, dia fixado pelos bons Espíritos para a redução definitiva dessa fratura complicada com distensões, se reuniram à noite. A senhora Maurel, apenas em sonambulismo, se pôs a desenrolar as faixinhas que envolviam ainda seu braço, imprimindo-lhe um movimento de rotação tão rápido que o olho tinha dificuldade em seguir os contornos da curva que descrevia. A partir desse momento, ela se servia de seu braço como de hábito; ela estava curada.

No fim da sessão, ocorreu uma cena tocante, que merece ser narrada aqui. Os bons Espíritos, em número de trinta, formavam no começo uma cadeia magnética paralelaàquela que nós mesmos formávamos. A senhora Maurel, estando colocada, pela mão direita, em comunicação direta sucessivamente com cada par de Espíritos, recebia, colocada como estava no interior das duas cadeias, a ação benfazeja de uma dupla corrente fluídica enérgica. Radiante de alegria, esperava com solicitude a ocasião para agradecer-lhes efusivamente pelo concurso poderoso que tinham prestado à sua cura. A seu turno, recebia deles encorajamentos para perseverar no bem.

 Isto terminado, ela tentou suas forças de mil modos; apresentando seu braço aos assistentes, fazendo-os tocar as cicatrizes da soldadura dos ossos; ela lhes apertava a mão com força, anunciando-lhes com alegria a sua cura operada pelos bons Espíritos. Em seu despertar, vendo-se livre em todos seus movimentos, ela desmaiou, dominada por sua profunda emoção!.... Quando se é testemunha de tais fatos, não se pode senão proclamá-los bem alto, porque merecem atrair a atenção das pessoas sérias.

Por que, pois, encontra-se, no mundo inteligente, tanta resistência para admitir a intervenção dos Espíritos sobre a matéria?

Porque se encontram pessoas que crêem na existência e na individualidade do Espírito, e que lhes recusam a possibilidade de se manifestarem, é porque não se dão conta das faculdades físicas do Espírito que se afigura imaterial de maneira absoluta. A experiência demonstra, ao contrário, que, por sua natureza própria, ele age diretamente sobre os fluidos imponderáveis, e, conseqüentemente, sobre os fluidos ponderáveis, e mesmo sobre os corpos tangíveis.

Como procede um magnetizador comum?

Suponhamos que queira agir sobre um braço, por exemplo: concentra sua ação sobre esse membro, e por um simples movimento de seus dedos, executado à distância e em todos os sentidos, agindo absolutamente como se o contato da mão fosse real, ele dirige uma corrente fluídica sobre o ponto desejado. O Espírito não age de outro modo; sua ação fluídica se transmite de perispírito a perispírito, e deste para o corpo material. O estado de sonambulismo facilita consideravelmente essa ação, em conseqüência do desligamento do perispírito, que se identifica melhor com a natureza fluídica do Espírito, e sofre então a influênciaespiritual elevada à sua maior força.

Toda a cidade está ocupada com essa cura obtida sem o concurso da ciência oficial e cada um disse a sua palavra. Uns pretenderam que o braço não tinha sido quebrado; mas a fratura tinha sido muito e devidamente constatada por numerosas testemunhas oculares, entre outras pelo doutor D... que visitou a doente durante o tratamento; outros disseram: "É muito surpreendente" e ficaram nisso; é inútil acrescentar que alguns afirmaram que a senhora Maurel tinha sido curada pelo diabo; se ela não tivesse estado nas mãos de profanos, teriam visto ali um milagre. Para os Espíritas, que se dão conta do fenômeno, nisso vêem muito simplesmente a ação de uma força natural desconhecida até nós, e que o Espiritismo veio revelar aos homens.

Notas. - Se há fatos espíritas que poderiam, até certo ponto, atribuir à imaginação, como os de visões, por exemplo, não poderia ocorrer o mesmo aqui; a senhora Maurel não sonhou que tinha quebrado o braço, não mais do que as numerosas pessoas que seguiram o tratamento; as dores que ela sentia não eram da alucinação; sua cura em oito dias não é uma ilusão, uma vez que se serve de seu braço. O fato brutal está aí, diante do qual é preciso necessariamente se inclinar. Ele confunde a ciência, é verdade, porque, no estado atual dos conhecimentos, parece impossível; mas não foi assim todas as vezes que se revelaram novas leis? É a rapidez da cura que vos espanta? Mas é que a medicina não descobriu muitos agentes muito mais ativos do que aqueles que ela conhecia para apressar certas curas? Não se encontrou nestes últimos tempos o meio de cicatrizar quase instantaneamente certas feridas? Não se encontrou aquele de ativar a vegetação e a frutificação?

Por que não haveria aquele para ativar a soldadura dos ossos? Conheceis, pois, todos os agentes da Natureza, e Deus não tem mais segredospara vós? Não é mais lógico negar hoje a possibilidade de uma cura rápida, do que não o foi, no século último, negar a possibilidade de fazer, em algumas horas, o caminho que se gastavam dez dias para percorrer? Esse meio, direi, não está no códice, é verdade; mas é que antes de que a vacina ali estivesse inscrita, seu inventor não foi tratado de louco? Os remédios homeopáticos não são, não mais, o que impede os médicos homeopatas se encontrarem por toda a parte e curar. De resto, como não se trata aqui de um preparado farmacêutico, é mais do que provável que esse meio não figurará por muito tempo na ciência oficial.

Mas, dir-se-á, se os médicos vierem exercer sua arte depois de sua morte, vão fazer concorrência aos médicos vivos; é muito possível; no entanto, que estes últimos se tranqüilizem se lhes tiram algumas práticas, não é para suplantá-los, mas para lhes provar que não estão inteiramente mortos, e oferecer o seu concurso desinteressado àqueles que quiserem bem aceitá-lo; para melhor fazê-los compreender, mostram-lhes que, em certas circunstâncias, pode-se passar sem eles. Sempre houve médicos, e assim o será sempre; somente aqueles que aproveitarem as novidades que lhe trazem os desencarnados, terão uma grande vantagem sobre aqueles que ficarão para trás. Os Espíritos vêm ajudar o desenvolvimento da ciência humana, e não suprimi-la. Na cura da senhora Maurel, um fato que surpreendeu talvez mais do que a rapidez da soldadura dos ossos, foi o movimento do braço fraturado que parecia contrário a todas as leis da dinâmica e da gravidade. Contrário ou não, o fato aí está; uma vez que existe, é que tem uma causa; uma vez que se renova, e que está submetida a uma lei; ora, é esta a lei que o Espiritismo vem nos dar a conhecer pelas propriedades dos fluidos perispirituais. Esse braço que, submetido somente às leis da gravidade, não poderia se levantar, supondo-o mergulhado num líquido de uma densidade muito maior do que o ar, todo fraturado que está, sendo sustentado por esse líquido que lhe diminui o peso, poderá se mover nele sem dificuldade, e mesmo ser levantado sem o menor esforço; é assim que, num banho, o braço que parece muito pesado fora da água parece muito leve na água. Ao líquido substitui um fluido gozando das mesmas propriedades e tereis o que se passa neste caso presente, fenômeno que repousa sobre o mesmo princípio que o das mesas e das pessoas que se mantêm no espaço sem ponto de apoio.

Este fluido é o fluido perispiritual que o Espírito dirige à sua vontade, e do qual modifica as propriedades unicamente pelo ato de sua vontade. Na circunstância presente, deve-se, pois, se representar o braço da senhora Maurel mergulhado num meio fluídico que produz o efeito do ar sobre os balões.

Alguém perguntou a esse respeito se, na cura dessa fratura, o Espírito do doutor Demeure tinha agido com ou sem o concurso da eletricidade e do calor. A isso respondemos que a cura foi produzida, naquele caso, como em todos os de cura pela magnetização espiritual, pela ação do fluido emanado do Espírito; que esse fluido embora etéreo, não é menos da matéria; que pela corrente que lhe imprime, o Espírito pode impregná-lo e saturar todas as moléculas da parte enferma; que pode modificar-lhe as propriedades, como o magnetizador modifica as da água, e lhe dá uma virtude curativa apropriada às necessidades; que a energia da corrente está em razão do número, da qualidade e da homogeneidade dos elementos que compõem a cadeia das pessoas chamadas a fornecer seu contingente fluídico. Essa corrente, provavelmente, ativa a secreção que deve produzir a soldadura dos ossos, e leva assim a uma cura mais pronta do que quando ela é entregue a si mesma.

Agora, a eletricidade e o calor desempenham um papel nesse fenômeno? Isto é tanto mais provável quanto o Espírito não cura por um milagre, mas por uma aplicação mais judiciosa das leis da Natureza, em razão de sua clarividência. Se, como a ciência é levada a admiti-lo, a eletricidade e o calor não são fluidos especiais, mas modificações ou propriedades de um fluido elementar universal, eles devem fazer parte dos elementos constitutivos do fluido perispiritual; sua ação, no caso presente, é, pois, implicitamente compreendida, absolutamente como quando se bebe vinho, bebe-se necessariamente a água e o álcool.

Revista Espírita Setembro 1865


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domingo, 7 de abril de 2013

AS MULHERES DO EVANGELHO


As páginas do Evangelho, que relatam a sublime caminhada de Jesus pelas
terras da Palestina, há dois mil anos, é marcante a presença da figura feminina,
ensejando formosos ensinos do Mestre, exemplos de fé e perseverança das mulheres
citadas e esclarecimentos oportunos para todos os cristãos.

Não obstante a estrutura social israelita não favorecesse à mulher maior presença
e atividade em público, cita o evangelista Lucas que algumas mulheres seguiam
Jesus e os apóstolos em suas andanças, prestando-lhe, certamente, apoio logístico
e assistência com os seus bens (Lc 8:1/3). Demonstravam-lhe, assim, a mais vívida gratidão, porque as havia curado de espíritos malignos e enfermidades, como, entre outras, Maria Madalena, Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana.

Listamos algumas passagens em que é evidente a compreensão e compaixão de Jesus para com a mulher sofredora. Uma adúltera perseguida pela turba justiceira encontrou em Jesus a defesa, aparentemente silenciosa a princípio, que se fez eloquente e decisiva ao sentenciar: Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra. E, ao vê-la isentada, pelo afastamento de todos, disse-lhe compreensivo: Nem eu tampouco te condeno; vai, e não peques mais (Jo 8: 1/11).

Da pecadora que, arrependida, lhe regava os pés com suas lágrimas, os enxugava com os seus cabelos e os ungia com o unguento que levara, assegurou o Mestre a Simão, o fariseu hospedeiro, que seus muitos pecados lhe eram perdoados, porque muito amou. (Lc 7: 36/50). Seu amor, seu arrependimento e desejo de recuperação, era veementemente demonstrado naquele ato singelo.

Mas aquele a quem pouco se perdoa, é que pouco ama, disse ainda Jesus. Pouco ama quem ainda não percebeu o quanto tem recebido da bondade divina; não reconhece estar em erro, nem manifesta qualquer vontade de recuperação, nada faz para compensar o mal que tenha causado. Como poderá alcançar o perdão,
redimir-se perante a lei divina?

A mulher hemorrágica, movida pela fé ardente, aproximando-se de Jesus, pensava intimamente: Se eu apenas lhe tocar as vestes, fi carei curada. E, quando o fez, agiu como uma bomba aspirante, captando a virtude curadora de Jesus, mesmo em estando ele em meio à multidão, que o envolvia e pressionava (Ver Cap. XV, item 11, de A gênese, de Allan Kardec). E logo se lhe estancou a hemorragia e sentiu no corpo estar curada de seu flagelo. Jesus percebeu o acontecido: Quem me tocou?
Porque senti que de mim saiu poder. E, quando a mulher se revelou, lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre do teu mal (Mc 5: 25/34, Lc 8:43/48).
Mas, na sinagoga, compadecido da mulher que, há dezoito anos andava encurvada, sem se poder endireitar, Jesus agiu como uma bomba calcante: impondo as
mãos sobre ela e, com seus fluidos salutares, vontade firme e autoridade moral,libertou-a do assédio de um “espírito de enfermidade” (Lc 13:10/13).

Estando Jesus pela região de Tiro e Sidon, uma mulher cananeia lhe pediu ajuda para sua filha que estava terrivelmente endemoniada. Apesar da oposição dos discípulos, ela, com rogos insistentes, seguia Jesus pelo caminho, demonstrando a grande confiança que tinha de que ele lhe poderia curar a filha. Quando o Mestre informou que só fora até ali em busca das “ovelhas perdidas da casa de Israel”, com humildade ela reconheceu não ter maior merecimento, mas perseverou no pedido, argumentando com inteligência: “Sim, senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos”, conseguindo, enfim, o atendimento pleiteado (Mt 15:21/28).

Cenas instrutivas encontramos no Evangelho, com Marta e Maria, irmãs de Lázaro. Jesus amava essa família e várias vezes esteve com eles em Betânia, onde moravam. Ali, certa vez, se encontrava hospedado e Maria, assentada aos seus pés, ouvia-lhe os ensinamentos. Marta, que se agitava de um lado para outro, ocupada em muitos serviços, pediu a Jesus que ordenasse a Maria fosse ajudá-la, mas ele respondeu: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa; Maria escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada. (Lc 10: 33/42). Serve o episódio para nos alertar quanto ao equilíbrio que devemos manter entre os afazeres necessários à vida corpórea e os interesses do espírito, atendendo a uns sem descurarmos dos outros. Em outra oportunidade, Maria teve, novamente, o destaque e a aprovação de Jesus por seu agir. Foi após a ressurreição de Lázaro e pouco antes da última páscoa do Senhor. Lázaro e suas irmãs recepcionavam Jesus com uma ceia e Maria ungiu com bálsamo de nardo puro, mui precioso, os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos. A casa toda se encheu do perfume.

Judas Iscariotes, um dos discípulos, comentou que teria sido melhor vender o caro erfume e doar seu valor aos pobres, ao que lembrou Jesus: os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes (Jo 12-1/8).
Jesus afastara de um homem o espírito que o deixava mudo e deu explicações sobre como exercem os invisíveis a ação perturbadora. Admirando-lhe a capacidade e o valor de seu ensino, uma mulher, que estava entre a multidão, exclamou: Bemaventurada aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram! Esse jeito popular de aplaudir e exaltar a quem se admira, ainda é encontrado em alguns povos (Lc 11:27/28). Jesus respondeu:

“Antes bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam”, porque o
que nos confere mérito espiritual não são os feitos de outros, mas os nossos próprios
atos. A cada um é dado segundo as suas obras.

No gazofilácio, onde se recolhiam as ofertas destinadas aos serviços do templo e as oferendas, pobre viúva depositara duas pequenas moedas. Sua doação foi imediatamente destacada por Jesus aos olhos dos discípulos, esclarecendo que os outros haviam ofertado do que lhes sobrava, enquanto ela, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento. Da sábia observação de Jesus, aprendemos que o valor de uma dádiva é tanto maior quanto a mais se renuncia para poder doar (Mc 12:42, Lc 21:2/4).

Caminhando para o Gólgota, sob o peso da cruz, seguido por grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam no peito, e o lamentavam, Jesus ainda encontrou forças para alertá-las e aconselhar:

Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos
filhos. E visualizando o futuro, quando a cidade de Jerusalém seria sitiada e invadida
pelos  romanos, continuou: Porque dias virão em que se dirá: bem-aventuradas as estéreis, que não geraram nem amamentaram.

Nesses dias dirão aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos. Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que será no lenho seco (Lc 23: 27/32)? Jesus era madeiro verde, a “videira verdadeira”, estava pleno de vitalidade espiritual.

Se sofria, era para o cumprimento de sua santa missão. E o fazia exemplificando
serenidade, não violência. Quando ressurgisse glorioso, testemunharia a imortalidade.
Os que o observavam e ainda não tinham aderido à sua mensagem vivificadora, eram lenho seco, sem maior vivência espiritual. Prosseguiriam errando no seu agir comum, acarretando para si mesmos merecidas dores e sofrimentos.

Examinando as mulheres do Evangelho, é preciso destacar, ainda, a admirável figura da samaritana, que mereceu de João quase todo o capítulo 4 do seu relato e à qual dediquei o capítulo 2 de meu livro Na luz do Evangelho. Já ao início do seu diálogo com Jesus, notamos que, apesar de estranhar que ele, sendo judeu, dirija a palavra a ela, uma samaritana, pois usualmente não eram amigáveis as relações entre judeus e samaritanos, essa mulher de mente ampla não se nega à conversação.

Ao ouvir Jesus falar que lhe poderia dar “água viva”, comenta, observadora, que ele não tem com que tirar água do poço, que é fundo, mas demonstra estar aberta para novas possibilidades, indagando, curiosa, onde teria ele a água que lhe oferece.

Anuncia-lhe o Mestre que a água que der passará a jorrar na pessoa como fonte para a vida eterna. É que o conhecimento espiritual, quando adquirido, faz-se base inicial de compreensão que abrirá, para a pessoa, perspectivas admiráveis e cada vez mais amplas quanto à vida imortal. A samaritana ainda não alcança o inteiro sentido da afirmativa de Jesus, mas, raciocinando de modo prático, pede para receber daquela  água e, assim, não ter mais sede, nem precisar ir ao poço para buscar o líquido precioso. Jesus, então, revela algo de suas possibilidades espirituais, demonstrando conhecer-lhe a vida, mesmo nunca a tendo encontrado antes. Por esse sinal, ela lhe percebe a qualidade de “profeta”, de ser um porta-voz do Alto. E, ante alguém com poderes especiais, essa samaritana, revelando admirável desprendimento, não solicita nada material, mas pede que lhe esclareça quanto a algo espiritual: a adoração a Deus. E Jesus ensina não haver um lugar físico especial para isso, pois Deus é espírito e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade, isto é, em ação espiritual e sincera. Eu sei que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier nos anunciará todas as coisas... A afirmativa que a samaritana faz parece soar como tímida e indireta pergunta: És o Messias?

Deve ter sido por isso que Jesus, que geralmente se ocultava, para se proteger de eventuais adversários, a ela se revela confi ante: Sou eu, o que fala contigo. Chegam os apóstolos e o diálogo se interrompe, mas, fraterna, a samaritana pensa nos outros de sua comunidade e vai até eles, procurando interessá-los para que também conhecessem Jesus e ouvissem sua mensagem. E conseguiu bom êxito, pois, atraídos pelo seu testemunho, muitos samaritanos saíram da cidade e foram ter com Jesus, e muitos acreditaram nele.

Quando Jesus foi crucificado, com exceção de João, os demais apóstolos lá não estavam, haviam se escondido, receosos de perseguição. Mas seguiam-no, fiéis, as mulheres que, desde a Galiléia, o acompanhavam e serviam, e, além destas, muitas outras que haviam subido com ele para Jerusalém (Mc 15:40/41 e 45, e Lc 23:49).

Elas viram quando Jesus foi colocado no túmulo cedido por José de Arimateia e se retiraram para preparar aromas e bálsamos necessários ao preparo do corpo para o sepultamento, o que fariam no domingo de manhã (Lc 23:55/56). Foram elas as primeiras que deram com o túmulo vazio, ali viram os mensageiros espirituais, deles ouvindo a notícia feliz: Ele não está aqui, mas ressuscitou, e levaram aos apóstolos o primeiro alerta sobre a ressurreição de Jesus, embora os apóstolos não lhes dessem crédito, porque tais palavras lhes pareciam um como delírio” (Lc 24:1/11). Madalena, que viu o Mestre  ressurgido e com ele falou, conseguiu atrair Pedro e João ao túmulo para que  constatassem que não estava mais ali (Jo 20: 1/18) e, certamente, transmitiu a eles a orientação que Jesus lhes mandara dizer. Depois, o próprio Mestre começou a aparecer e se materializar ante apóstolos e discípulos, em várias ocasiões e locais, ao longo de quarenta dias, até que se despediu, elevando-se à vista de todos e se desmaterializando, deixando, porém, consolidada neles a certeza da sua imortalidade e de que continuaria a assisti-los pessoalmente e pela presença do Paráclito, através dos tempos.

Como vemos, do começo ao fim de sua sublime missão, Jesus contou com a presença e cooperação de muitas mulheres, que o entenderam e seguiram fiéis, ficando imortalizadas nas páginas dos evangelistas e na lembrança e respeito de todos nós.

Therezinha Oliveira é expositora e escritora

ICEB - Instituto de Cultura Espírita do Brasil / Ano IV - no 38 - Março / 2012


Leitura Recomendada;

terça-feira, 26 de março de 2013

BIOGRAFIA - DEOLINDO AMORIM - O FILÓSOFO E DIDATA DO ESPIRITISMO


Jaci Régis

Deolindo Amorim foi um grande didata a serviço do pensamento espírita. De personalidade serena e afetuosa, lutou incessantemente contra a corrupção do pensamento doutrinário e pelo entendimento da obra de Allan Kardec, sempre de forma elegante e independente.

Deolindo Amorim nasceu no Estado da Bahia, numa família pobre e católica. Foi presbiteriano fervoroso. Rompeu com sua igreja e permaneceu muitos anos sem definição filosófica ou religiosa. Em 1935 descobriu o Espiritismo.

A palavra descobriu é empregada no seu sentido de percepção totalizadora de uma idéia. É, certamente, um exercício intelectual, mas ultrapassa esse universo para penetrar no universo da apreensão do objeto.

Quando se descobre uma doutrina, por exemplo, ela se incorpora a nossa estrutura mental, ao nosso modo de estar no mundo.

Bem ao contrário de qualquer recaída fanática, a descoberta é a forma de inserir-se no conteúdo, abrangendo, pouco a pouco, não apenas os enunciados, as idéias, os conteúdos. É mais, percebe-se os objetivos, divisa-se o rumo e a essência. Enquanto o adepto, o estudioso permanece na superfície ou na profundidade da idéia, o descobridor se integra, faz uma ligação definitiva com a doutrina. Foi o que aconteceu com Deolindo Amorim.

Nascido a 23 de janeiro de 1908, Deolindo mudou-se para o Rio de Janeiro. Radicado na antiga capital do Brasil, tornou-se jornalista e, posteriormente funcionário público, tendo galgado elevada posição funcional no Ministério da Fazenda.

Desde que descobriu a Doutrina Espírita, tornou-se, progressiva e determinadamente, no baluarte pela definição específica do que é o Espiritismo.

Conheci pessoalmente Deolindo Amorim. Missivista atencioso, ele teceu comentários elogiosos à minha obra Comportamento Espírita, na ocasião de seu lançamento. A dimensão de seu trabalho certamente não cabe nos limites destas notas. Sua figura simpática, serena, não significava, entretanto, fraqueza ou acomodação. Polemizou com companheiros de forma responsável e respeitosa. Prosseguiu seu caminho com coerência e dignidade. Manteve posições firmes, mesmo contra amigos e situações.

Personalidade afetuosa, mostrou uma determinação e uma estrutura de pensamento ímpares. Foi, ao longo de sua vida, uma barreira positiva, definida, contra a corrupção do pensamento doutrinário. Lutou sem descanso pelo bom entendimento da obra de Allan Kardec.

Creio que a figura ímpar de Deolindo pode ser definida como o didata por excelência, o professor eficaz do Espiritismo.

O Ativista

Deolindo não ficou na teoria. Além de escrever livros, editar jornais, representar periódicos e enviar artigos para muitos jornais e revistas, proferir conferências, tomou iniciativas que marcaram o movimento espírita brasileiro.

Já em 1939 ele idealizou e promoveu o I Congresso de Jornalistas e Escritores Espíritas, realizado na cidade do Rio de Janeiro. Foi uma reunião de intelectuais espíritas, semente de propostas posteriores. O momento era crucial, o Espiritismo era perseguido pela Igreja e pela Polícia. A II Grande Guerra estava iniciada.

Esteve ao lado de Leopoldo Machado na promoção do I Congresso de Mocidades e Juventudes Espíritas do Brasil e na criação do Conselho Consultivo de Mocidades Espíritas.

Foi parceiro fiel de Aurino Souto, presidente da Liga Espírita do Brasil.

Finalmente, fundou em 7 de dezembro de 1957 O Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB), instituição de grande influência no estudo e divulgação do Espiritismo, com sede no Rio de Janeiro e que dirigiu até sua desencarnação.

Em Defesa do Espiritismo

Um dos problemas mais emergentes relativos ao bom entendimento da Doutrina Espírita foi a constante tentativa de confundi-lo seja com a Umbanda, o Candomblé, com as religiões cristãs e doutrinas espiritualistas. Principalmente com os cultos afro-católicos, as confusões foram muitos grandes. Hoje, talvez, esse aspecto esteja quase superado mas já foi mais grave. A própria Federação Espírita Brasileira (FEB) pretendeu fazer uma divisão absurda: chamar de Espiritismo todas as práticas mediúnicas ou semelhantes e de Doutrina Espírita, a obra de Kardec.

Em 1947 Deolindo publicou Africanismo e Espiritismo, onde deixa clara a inexistência de ligações filosóficas, práticas ou doutrinárias entre o Espiritismo e as correntes espiritualistas apoiadas na cultura africana, trazida pelo escravos e que se converteram em várias seitas de gosto popular.

Determinado a explanar, didaticamente, as bases da doutrina de Allan Kardec, ele escreveu, O Espiritismo e os Problemas Humanos, O Espiritismo à Luz da Crítica, em resposta a um padre que escrevera livro atacando a Doutrina. Espiritismo e Criminologia, oriundo de uma conferência no Instituto de Criminologia da Universidade do Rio de Janeiro. Em 1958, lançou O Espiritismo e as Doutrina Espiritualistas, onde não combate nenhuma corrente ou idéia espiritualista, como a Teosofia, a Rosacruz, seitas de origem asiática ou africana. Ele simplesmente define, separa, identifica o que é o Espiritismo, mostrando a sua independência filosófica, embora ressaltando eventuais coincidências de pontos filosóficos, devido à base espiritualista desses movimentos.

O Didata da Doutrina

Deolindo não lançou teorias, nem propôs idéias revolucionárias de atualização ou desenvolvimento da Doutrina. Esmerou-se e o fez com absoluto sucesso, em definir o conteúdo, a abrangência, o papel e o lugar do Espiritismo na sociedade e nas doutrinas espiritualistas.

Não se pense, todavia, que tenha sido ortodoxo e conservador.

Nada disso. Foi uma mente aberta ao novo, entendeu perfeitamente o sentido evolucionista do Espiritismo e recusou-se a aceitar as idéias conservadoras, retrógradas.

Na Introdução de O Espiritismo e as Doutrina Espiritualistas ele diz: “Escrevemos este trabalho com o sincero propósito de concorrer, embora despretensiosamente, para que se esclareça cada vez mais a verdadeira posição do Espiritismo perante as doutrinas e os cultos espiritualistas. Todas as doutrinas, como todos os credos, sejam quais forem as suas origens, nos merecem o mais justo respeito. (...) Devemos, porém, dizer claramente o que é e o que não é Espiritismo, para que não haja confusão nem tomem corpo interpretações duvidosas.

E reafirma sua posição: “Repetimos que o Espiritismo é universalista, porque os fatos do espírito são universais, os seus problemas têm o sentido da universalidade, mas também é oportuno acentuar que o Espiritismo não é uma forma de sincretismo doutrinário ou religioso, sem unidade nem consistência”.

Que é o Espiritismo, afinal? Vejamos o que nos diz Allan Kardec: O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Ciência de observação, sim, nem precisamos dizê-lo, porque tem por objeto uma fenomenologia que já foi comprovada em experiências; doutrina filosófica, realmente, porque, tendo por base experimental o fenômeno mediúnico, faz inquirições sobre as causas e leis, deduzindo conseqüências que incidem no domínio moral, da religião, da filosofia em si. Eis, em síntese, o que é o Espiritismo

Finalizando o excelente O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas, afirma que “Como doutrina essencialmente progressista, recebe os enriquecimentos das ciências, como acompanha os fenômenos sociais e culturais, sem perder, todavia, a sua integridade e as suas características. Nenhuma religião, nenhum culto espiritualista poderia absorvê-lo ou confundi-lo, a despeito da existência de aspectos comuns, porque as suas concepções basilares, tendo conseqüências científicas, filosóficas e religiosas, não permitem adaptações e concessões arbitrárias. Desta proposição, consequentemente, chegamos à conclusão de que O Espiritismo é uma doutrina que se basta a si mesma, sem empréstimos nem acréscimos artificiais “.

A Questão Religiosa

Sobre a questão religiosa no Espiritismo, sua posição foi bem igual a de Kardec. Citando as palavras do fundador, concluía que, como qualquer filosofia espiritualista, o Espiritismo tinha conseqüências religiosas, mas de forma alguma se tornava uma religião constituída.

“Allan Kardec frisa bem que o Espiritismo não é uma religião constituída. Não o fora nos primeiros tempos, quando o seus delineamentos ainda estavam na fase de elaboração, nem o seria hoje, com a experiência histórica de mais de um século, quando a Doutrina já está definitivamente consolidada. O qualificativo constituída não exclui a idéia religiosa. Há muita diferença entre o culto organizado e atos religiosos ou conseqüências religiosas. O Espiritismo tem, indiscutivelmente, conseqüências religiosas, e muito profundas, mas a sua esquematização, a sua índole e a sua conceituação básica não comportam qualquer forma de culto material, nem, sacerdotes, nem chefes carismáticos... O verdadeiro culto para o Espiritismo é o culto interior, é o sentimento, a elevação do pensamento.”

“O fato de haver Allan Kardec preferido não instituir nenhum sistema moral, porque lhe bastou a moral cristã para o coroamento da doutrina por ele codificada, não quer dizer que o Espiritismo concorde ou deva concordar com tudo quanto ensinam as diversas religiões e denominações cristãs; muito menos seria possível introduzir no Espiritismo práticas, dogmas e formas peculiares às religiões oriundas do Cristianismo.”

E, “não é possível reduzir o Espiritismo às limitações de uma seita cristã, assim como não se pode concordar com a suposição corrente de que tudo seja a mesma coisa.”

“Tendo-se preocupado fundamentalmente com a interpretação filosófica do fenômeno e suas conseqüências na ordem moral, a Codificação do Espiritismo não cogitou, nem poderia cogitar, de qualquer culto material, assim como não prescreve cerimônias de iniciação, nem hierarquia sacerdotal” .

Se reconhecida, como é obvio, que o Espiritismo tem uma ligação estreita com a moral de Jesus, e consequentemente com o Evangelho, deixa claro que essa foi uma decisão de Kardec e separa de maneira muito clara o cristianismo do Espiritismo.

Pelo fato de aceitar a mensagem do evangelho, afirmou, não significa que o Espiritismo aceita tudo do cristianismo. Ele sempre foi contrário à confusão dos que tentam diluir o Espiritismo seja com os cultos espiritualistas, seja com os rituais do cristianismo. Repudiava o tudo é a mesma coisa, frase usada para justificar as deturpações gritantes contra a identidade da doutrina.

“É o Espiritismo que interpreta o evangelho , não é o evangelho que interpreta o Espiritismo.”

Reforço à Intelectualidade

Como é comum no movimento espírita, Deolindo foi muito criticado por optar pela cultura e pela inteligência. Existiu, no Rio de Janeiro, a Faculdade Brasileira de Estudos Psíquicos que ele não fundou, como às vezes se diz, mas a que pertenceu e foi seu último presidente. Tornada insubsistente a continuidade da Faculdade, ele promoveu a criação do Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB) fundado em 7 de dezembro de 1957 e por ele dirigido até sua desencarnação.

Quanto à questão da unificação do movimento, Deolindo nunca aderiu à Federação Espírita Brasileira, tanto que aliou-se à Liga Espírita do Brasil, entidade criada em 1927, por Aurino Souto e da qual Deolindo foi o último 2º vice-presidente.

Em 1949, com o chamado Pacto Áureo, a Liga Espírita do Brasil, que não tinha representatividade nacional, deixou de existir, transformando-se numa entidade federativa estadual. Hoje, depois de várias denominaçòes, é a USERJ - União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro.

Deolindo foi contra o acordo.

Suas palavras sobre o assunto, em 1949: “quando a Liga aceitou o Acordo de 5 de outubro, acordo que se denominou depois, Pacto Áureo, tomei posição contrária (..) votei contra a resolução, porque não concordei com o modo pelo qual se firmara esse documento. E o fiz em voz alta, de pé, na Assembléia, com mais doze companheiros que pensavam da mesma forma”.

Admirava muito Léon Denis, de quem disse: “Léon Denis pertence, com inteira justiça, à galeria dos mais autênticos filósofos espíritas. Discípulo e continuador de Allan Kardec, ninguém o foi, até hoje, com mais afeição e com vigor intelectual”.

Mas seu respeito a sua fidelidade ao pensamento de Allan Kardec foi não apenas exemplar, mas de um tirocínio brilhante e uma defesa inteligente e atuante.

Em 24 de abril de 1984, aos 76 anos de vida terrena, desencarnou Deolindo Amorim, fechando um ciclo fecundo de pensadores espíritas, dos quais, com justiça ele está num lugar privilegiado.

Todavia, mais do que nunca, neste momento em que o Espiritismo precisa decidir seu próprio caminho, o pensamento, a palavra e a postura de Deolindo Amorim são elementos indispensáveis para entender, seguir e definir o futuro da Doutrina.

Postado por; http://www.espiritnet.com.br/Biografias/biogdeol.htm

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