sexta-feira, 5 de outubro de 2012

PUYSÉGUR E O HIPNOTISMO



Hernâni Guimarães Andrade

Revista de Espiritismo nr. 29 - Outubro/Dezembro 1995

A descoberta do «sono magnético» efectuada por Armand Marie Jacques Chastenet de Puységur teve consequências extraordinárias. Uma vez difundida, a hipnose permitiu que se obtivessem curas impressionantes. Mas o mais extraordinário uso da hipnose foi feito pelo cirurgião escocês James Esdaile (1808-1859), o qual através do emprego do hipnotismo fez, com total êxito, mais de 3 mil intervenções cirúrgicas – cerca de 300 delas de profundidade e gravidade consideráveis – sem o emprego de anestesia química e da assepsia.

«Por que a proximidade do corpo humano, que devolve o brilho a uma pérola e renova a radiante força vital, não há-de ser capaz de desenvolver em torno de si uma aura de calor ou de luz que actue sobre outros nervos como um excitante ou um sedativo? Por que não se podem produzir, neste corpo e alma, secretas correntes e refluxos e, de indivíduo a indivíduo, atracções e repulsões, simpatias e antipatias? Quem arriscará hoje, nesta esfera, um categórico sim ou um ousado não?».*

A DESCOBERTA DO HIPNOTISMO
Depois de abandonar Paris em 1785 e mesmo após sua morte, Mesmer continuou a influir no mundo ocidental, por meio de suas ideias. Os seus inúmeros discípulos e admiradores continuaram a sua obra. É possível que Mesmer não houvesse atinado exactamente com a natureza daquilo que ele denominava de magnetismo animal. Entretanto as suas teorias e os factos que rodearam a sua obra tiveram uma força impressionante. Perduram ainda hoje e, vez ou outra, vê-se reactivar o mesmerismo, sob a forma de um movimento ou de uma doutrina nova.

Discípulo fiel de Mesmer, o marquês Armand Jacques Chastenet de Puységur (1751-1825) foi, na França, um dos seus mais ilustres seguidores. A ele se atribui a descoberta do hipnotismo.

Uma das características do método terapêutico de Mesmer era a provocação das crises, seguidas de convulsões e de outras manifestações histéricas. Na maioria das vezes o doente debatia-se, agitava-se violentamente, parecia, finalmente, desfalecer e entrar em calma, tendo os seus sintomas aliviados. Junto às tinas (baquet), providenciava-se uma sala acolchoada guarnecida de almofadões, para onde eram transportados os pacientes em estado convulsivo. Ali, eles estrebuchavam à vontade, sem o perigo de se magoarem.

Puységur era um marquês, um homem abastado e filantropo. Abraçara as ideias de Mesmer por diletantismo e por se ter apaixonado pelo magnetismo animal. Assim, enquanto Mesmer, em Paris, atendia às elites parisienses, ociosas e ávidas de novidades, o marquês de Puységur, em Buzancy, acudia gratuitamente à pobreza. Uma multidão procurava o marquês, o qual se esforçava por medicar seus clientes rigorosamente de acordo com as prescrições do seu mestre.

Certa ocasião, Puységur foi procurado para socorrer um jovem pastor, de 18 anos, chamado Victor Race. Ele estava enfermo, sofria de dores nas costas, respirava com dificuldade e necessitava de ser tratado pelo marquês. Este aplicou-lhe os passes magnéticos, como era da praxe. Qual não foi a surpresa de Puységur quando, em lugar das reacções costumeiras, espasmos, convulsões, etc., o paciente mergulhou tranquilamente em sono profundo! Puységur tentou despertar o pastorzinho, sacudindo-o. Mas debalde! O jovem continuou a dormir profundamente. O marquês ordena-lhe, então, que se levante. Surpresa maior, o rapaz ergue-se dormindo e, de olhos fechados, perambula pelo quarto como se estivesse acordado e de olhos abertos. Comportava-se como um sonâmbulo comum que, à noite, se afasta da cama e, dormindo, caminha por quaisquer lugares, beirais, telhado, terraços de difícil acesso, etc., tendo os olhos cerrados.

Puységur, interessado na sua nova descoberta, procurou investigar melhor aquele singular estado de sono acordado e vigília dormente. Tentou repetir a mesma condição noutras pessoas, usando o magnetismo e a sugestão verbal. Teve êxito.

Procurou dar ordens pós-hipnóticas, isto é, sugerir uma dada tarefa para o paciente cumprir depois de acordado. Foi bem sucedido. O sujeito cumpria à risca a ordem dada durante o sono, após haver retornado ao estado de vigília. As sugestões dadas em estado de hipnose eram mais actuantes e, por este método, também se obtinham as curas. Foi assim que Victor, o jovem pastor doente, ao acordar, se viu livre dos seus sintomas. Estava curado.

Naturalmente, Mesmer e outros magnetizadores já haviam observado o transe sonambúlico, semelhante ao obtido por Puységur. Mas não lhe prestaram a devida atenção. Mais ainda, ele observou que, numa ocasião, Victor Race, ao ser levado ao estado hipnótico, mostrou-se possuidor de impressionantes faculdades paranormais: via à distância e, com os olhos fechados, obedecia às ordens mentais de Puységur (telepatia) e falava com uma linguagem acima das suas possibilidades culturais.

PUYSÉGUR HAVIA DESCOBERTO O HIPNOTISMO!
O marquês comunicou a sua descoberta à Academia de Medicina, chamando a atenção dos cientistas para a nova forma de curar através do sono induzido magnético. A Academia de Medicina mostrou-se interessada na questão e nomeou comissões para estudarem os casos. Uns relatórios foram a favor e outros contra, sem haver uma opinião unânime. Finalmente, em 1837, instituiu-se um prémio para se dirimirem as dúvidas. Mas, ao contrário do que se esperava, a prova não envolvia qualquer demonstração de cura pela hipnose. Ofereciam-se 3000 francos ao hipnotizador que apresentasse um sonâmbulo capaz de enxergar através de obstáculos opacos!

Jamais qualquer paciente passaria numa prova destas. Basta que se cite o exemplo da filha do dr. Pigaire, cuja clarividência havia sido atestada por Arago. A garota, de 12 anos apenas, cujos olhos foram totalmente vendados pelos experimentadores, mostrou que podia ver perfeitamente os objectos, mesmo nestas condições. Pois bem, o veredicto dos doutos académicos foi contrário. Chegaram à conclusão de que embora rigorosamente blindados os seus olhos, a sua faculdade da visão não podia ser descartada por ter ela uma vista fisiológica normal; não era cega, logo...

E A QUESTÃO DO HIPNOTISMO FOI ARQUIVADA PELA ACADEMIA (1).
A catalepsia
A catalepsia é um estado que envolve a súbita suspensão da sensação e da volição, bem como a paragem parcial das funções vitais. Ocorre, ao mesmo tempo, uma modificação no corpo do paciente. Este torna-se rígido e a sua aparência pode ser confundida com a de uma pessoa morta. Na maioria das vezes, o indivíduo fica inconsciente durante o transe cataléptico. Noutras ocasiões, o paciente manifesta intensa excitação mental, por acções e palavras aparentemente voluntárias. O ataque cataléptico tem duração variável, indo de alguns minutos a vários dias. Ele pode repetir-se por qualquer motivo insignificante, se não houver resistência por parte do paciente.

Perturbações do sistema nervoso, geralmente provocadas por emoções fortes e prolongadas, um susto ou um medo violento chegam a produzir o estado cataléptico. Alguns pequenos animais podem ser postos em catalepsia, por meio de manobras físicas.

Em 1787, o dr. Jacques Henri Désiré Petétin (1744-1808), de Lyon, descobriu como levar um paciente hipnotizado ao transe cataléptico. Em sua obra, Electricité Animal (1808), ele comunica ter observado, nas suas experiências com a catalepsia, pacientes a manifestarem impressionantes faculdades paranormais. Entre os fenómenos estranhos observados, assinala-se a transposição dos sentidos. Alguns pacientes em estado cataléptico pareciam surdos quando a voz era dirigida aos seus ouvidos. Entretanto, ouviam perfeitamente bem se as palavras lhes eram sussurradas ao nível do estômago. O mesmo facto ocorria com relação à visão. O sujeito mostrava-se capaz de «ver» com a região correspondente ao estômago, o mesmo ocorrendo com os outros sentidos, os quais pareciam transpostos para aquela região. Outras vezes os sentidos sofriam uma transposição diferente, para a ponta dos dedos da mão ou dos pés, por exemplo (2).

O hipnotismo em suas variadas fases é capaz de fazer sobressair algumas faculdades paranormais, porque ele enseja a emersão do inconsciente do paciente, facilitando um relacionamento entre aquele e o consciente do hipnotizador. Este último, tendo acesso ao inconsciente do paciente, pode despertar-lhe a função psi, levando-o a manifestar as suas faculdades paranormais. No estado de sono hipnótico, o indivíduo torna-se altamente sugestionável e obediente às ordens do hipnotizador.

Esta sugestionabilidade talvez explique boa parte das curas pelo magnetismo. A grande maioria das doenças possivelmente são de origem psíquica. A hipnose, facilitando o acesso às câmaras mais profundas da mente, poderá exercer uma acção bloqueadora ou libertadora dos seus conteúdos. Os magnetizadores depressa perceberam este facto e passaram a usar a sugestão hipnótica como poderosa arma contra as doenças psicossomáticas ou somatoformes.

CIRURGIAS SEM DOR SOB HIPNOSE
Um dos fenómenos de sugestão obtidos com a hipnose é o da supressão da dor e o da anestesia sem emprego de drogas. É conhecido da maioria dos leitores que se usa hipnose na odontologia, em substituição dos métodos de anestesia química.

Na segunda metade do ano de 1800 houve uma grande difusão do hipnotismo mesmérico. John Elliotson (1791-1868) fundou em 1846, em Londres, um hospital onde se empregavam as práticas mesméricas. Surgiram, logo mais, outras instituições semelhantes, em Edimburgo, Dublin e Exeter. «Nesta última cidade, Parker realizou mais de 200 intervenções cirúrgicas sem dor, dentre 1200 mesmerizados»(3).

Mas o mais impressionante é o episódio de James Esdaile (1808-1859). Vamos tomar todos os detalhes acerca de Esdaile, da excelente obra do dr. Osmard Andrade Faria, que acabámos de citar: Hipnose Médica e Odontológica.

Esdaile nasceu em Perth, na Escócia. Formou-se em medicina em 1830 e foi exercer clínica na Índia. Informado a respeito dos trabalhos de Elliotson, procurou aplicar os princípios do mesmerismo em um hindu portador de dupla hidrocele, em 4 de Abril de 1845, no Native Hospital de Hooghly. Apesar dos seus sofrimentos, o paciente caiu em sono profundo e pôde ser operado sem anestesia. Logo mais, Esdaile iria contar com 75 intervenções cirúrgicas feitas sob hipnose.

Ao completar 100 cirurgias, Esdaile enviou uma comunicação ao governador de Bengala, sir Herbert Makkock, solicitando-lhe apoio oficial para o desenvolvimento das suas pesquisas. Um conselho médico de investigações nomeado pelo governador aprovou a solicitação de Esdaile. Da comunicação que F. J. Halliday, secretário do Governo de Bengala e presidente do Conselho, dirigiu a Esdaile, destacamos o seguinte trecho:

“Considerando, porém, a possibilidade de se realizarem as mais sérias intervenções cirúrgicas sem dor e sofrimento para os pacientes, é opinião de S. Exª, baseado no testemunho visual da comissão relatora que as investigações merecem ser facilitadas, permitindo-lhe prosseguir nas suas interessantes experiências, sob as mais favoráveis e promissoras circunstâncias” (obra citada, pág.15).

Diante do parecer da comissão e da atitude favorável do governador de Bengala, em Novembro de 1846 foi posto à disposição de Esdaile, em Calcutá, um pequeno hospital. Constituiu-se um grupo fiscal composto por médicos indicados pelo Governo para acompanhar os trabalhos. Estes testemunharam “as mais variadas intervenções cirúrgicas sem o menor sofrimento para o paciente, redução do choque cirúrgico e do trauma doloroso pós-operatório” (obra citada, pág.18).

Em Julho de 1847, Esdaile apresentou um relatório de suas actividades, enquanto a comissão de médicos nomeada pelo Governo lhe comunicava os excelentes resultados observados. Eis um trecho do relatório de Esdaile, e que teve o apoio da comissão: «Durante alguns meses estivemos ocupados quase exclusivamente com a cirurgia, o sucesso das operações indolores praticamente eclipsando os resultados menos espectaculosos da orla clínica. Esses, porém, tornam-se agora progressivamente conhecidos pelo público e sucessos médicos estão já a ser obtidos de forma encorajadora, bem como outros casos de natureza mais grave como epilepsia, demência, paralisia e outras afecções nervosas, dolorosas, prometem compensar o nosso labor.

«Tais casos, porém, por antigos e inveterados, requerem logo tratamento para marcar alguma resposta e deixar-nos certezas dos resultados.

«Os casos cirúrgicos, por razões bem conhecidas de V. Exª, são quase todos similares (remoção de enormes tumores de elefantíase), mas, felizmente, para demonstração do poder calmante e narcótico do mesmerismo, as intervenções têm sido as mais severas e perigosas que se podem realizar no corpo humano.

«Uma maior variedade de casos médicos e cirúrgicos é, no entanto, desejável e poderá ser facilmente conseguida nos hospitais públicos de Calcutá. Será no campo dos grandes hospitais, com a sua variedade de pacientes e incidentes, que a utilidade do mesmerismo poderá ser melhor e mais rapidamente ilustrada...

«Em conclusão, desejo pedir a atenção do Governador para as estatísticas concernentes ao assunto, ponto de máximo interesse para estabelecer a proporção de mortalidade nas velhas e novas escolas cirúrgicas.

«A esse propósito tenho a honra de juntar uma relação de todas as intervenções mesméricas realizadas por mim totalizando 133, e espero do Governador os necessários elementos de comparação com os resultados obtidos nos diferentes hospitais de Calcutá» (obra citada, pp. 16 e 17).

Tendo-se findado o prazo concedido a Esdaile e por este assumido, o pequeno hospital de Calcutá foi desactivado. Apesar dos movimentos populares solicitando a reabertura do referido hospital, as autoridades mantiveram-se irredutíveis. Entretanto, a própria população quotizou-se para manter as despesas e foi fundado um novo serviço hospitalar para a prática do mesmerismo, sendo ele entregue à direcção de Esdaile, em Setembro de 1848. Posteriormente, o próprio Governo indiano ofereceu a Esdaile a transferência de seus serviços para o Sarkeas’s Lane Hospital and Dispensary.

Por questões de saúde, Esdaile ausentou-se da Índia, deixando em seu lugar o prof. Webb. «Durante o período em que praticou o mesmerismo na Índia, realizou Esdaile para mais de 3000 intervenções sob hipnose, das quais 300 de cirurgia maior» (obra citada, pág. 17).

Seria interessante lembrar, aqui, que naquela época (1845) não se conheciam ainda os antibióticos. Outro ponto importante a ser destacado é que Esdaile praticava as intervenções cirúrgicas, em seu estado normal, sem nenhuma manifestação mediúnica perceptível por parte dos que o rodeavam. Ele era escocês e, em 1845, na Índia, onde ele se encontrava, não se conhecia o espiritismo. Lembramos que o Le Premier Livre des Espirits, de Allan Kardec, foi publicado em 18 de Abril de 1857, portanto 12 anos após Esdaile haver feito a sua primeira intervenção cirúrgica sem anestesia, em 4 de Abril de 1845.

O HIPNOTISMO CIENTÍFICO
Em 1823, um jovem médico de Paris, Alexandre Bertrand (1795-1831), publicou um livro, Traité du Somnambulisme. Três anos mais tarde, ele lançou um segundo trabalho, Du Magnétisme Animal en France. Foi Bertrand quem descobriu o papel importante da sugestão nos fenómenos atribuídos ao magnetismo animal. Ele observara a conexão entre o sono magnético, o êxtase colectivo e o sonambulismo e chegara à conclusão de que as curas e demais sintomas, antes atribuídos ao magnetismo animal, à electricidade animal e quejandos, não passavam de meras sugestões de magnetizador agindo sobre a imaginação de um paciente cuja sugestionabilidade foi altamente aumentada.

Se Bertrand tivesse vivido durante mais tempo – ele morreu aos 36 anos de idade – talvez houvesse antecipado a aceitação científica do transe induzido.

Outro personagem que merece ser citado neste particular é o abade José Custódio de Faria (1756-1819), nascido em Condolin de Bardez, na Índia Portuguesa. Inicialmente praticou o mesmerismo, mas posteriormente concluiu que o paciente era conduzido ao que ele chamava de sonho lúcido, por sua própria vontade e pelo poder da sugestão. Expressou as suas ideias num livro: De la Cause du Sommeil Lucide ou l’Etude Sur la Nature de l’Homme, Paris, 1819, t.I, (único).

Embora tivesse despertado interesse e suscitado admiradores como Liébeault, Custódio de Faria não logrou projecção duradoura. O mesmerismo continuou a fazer adeptos e a manter-se como a hipótese mais aceitável.

Coube a James Braid (1795-1860), um cirurgião de Manchester, nascido em Rylaw House, Fifeshire, conduzir o hipnotismo ao ponto de aceitação académica. «A ele deve a hipnose a sua primeira conceituação realmente científica e filosófica, despida de empirismos e ideias absurdas. A Braid devemos por outro lado a actual terminologia empregada para descrever os fenómenos de inibição cortical». (4)

Na sua sessão mesmérica, conduzida pelo francês Charles Lafontaine, Braid notou que o paciente magnetizado se mostrava incapaz de abrir os olhos. Para Braid, as pálpebras do paciente achavam-se fatigadas.

«Tal incidente alertou a curiosidade de Braid. Pareceu-lhe inicialmente que estava ali a causa do fenómeno. Ou, se não era aquele exactamente o ponto capital, de qualquer maneira a exaustão palpebral e a catalepsia observadas deveriam ter qualquer participação no desencadeamento do transe mesmérico». (5)

Retornando à sua casa, Braid tentou algumas experiências para testar a sua hipótese de trabalho. Os seus primeiros pacientes foram a sua própria esposa, um criado e um amigo. Fê-los fitarem fixamente um objecto brilhante até cansarem a vista a ponto de não poderem manter abertas as pálpebras. A partir daí conseguiu hipnotizá-los facilmente.

James Braid chegou, independentemente, às mesmas conclusões a que Alexandre Bertrand havia chegado há cerca de 18 anos: o fenómeno do mesmerismo não implicava na existência de qualquer influência planetária, «fluido magnético animal» ou qualquer poder estranho do magnetizador. Em suma, o transe não era induzido senão pela sugestão aliada a uma estimulação continuada capaz de produzir alterações nos órgãos dos sentidos, levando-os para certo grau de exaustão. Por conseguinte, o estado de sono mesmérico diferenciava-se do sono fisiológico.

Braid publicou, em 1843, um livro intitulado: Neurohypnology or the Rationale of Nervous Sleep. Nesta obra, ele lançou os primeiros termos da nomenclatura agora usada em nossos dias: sono neuro-hipnológico, hipnologia (abreviatura de neuro-hipnologia), hipnotismo, hipnótico, hipnose, etc..

Com Braid, iniciou-se, pois, a fase científica do hipnotismo, candidatando-se o mesmo a ser um novo ramo da fisiologia. Embora ainda não se tivesse uma explicação definitiva acerca do seu mecanismo, acreditava-se, pelo menos, que o hipnotismo parecia decorrer de causas naturais fisiológicas, por-tanto susceptível de uma abordagem estritamente científica. Doravante as discussões iriam versar sobre-tudo em torno do mecanismo de produção dos fenómenos da hipnose. Nesta disputa destacar-se-iam três grandes nomes: Ambroise Auguste Liébeault, Henri Bernheim e Jean-Martin Charcot.

A SUGESTÃO
Ambroise Auguste Liébeault procurou investigar o problema do hipnotismo observando-o nos seus próprios clientes. Suas pesquisas prolongaram-se por mais de 20 anos. Publicou um livro sobre a hipnose: Du Sommeil et des États Analougues, Considerés au Point de Vue de l’Action.

A ideia central de Liébeault, sobre o mecanismo da hipnose é a sugestão.

Henri Bernheim não aceitava o hipnotismo e nem votava qualquer admiração por Liébeault. Entretanto, um simples acidente fê-los amigos. Bernheim tratara, durante cerca de seis anos, e sem resultados, um cliente que sofria de ciática. O referido doente, aconselhado por outras pessoas, procurou Liébeault. Em curtíssimo prazo o paciente voltou a Bernheim, inteiramente livre de seu mal. Este facto despertou a curiosidade de Bernheim, o qual procurou Liébeault para conhecer os seus métodos de cura. Tornou-se, assim, discípulo e amigo inseparável do mesmo.

De 1822 a 1884, Bernheim fez intensas investigações, enfeixando suas experiências em um primeiro livro: De la Suggestion. Em 1886 completou-o, lançando um segundo tomo: La Therapéutique Suggestive. As suas duas obras tiveram amplo sucesso e provocaram grande afluência de médicos à cidade de Nancy, onde Bernheim tinha a sua clínica.

Vamos transcrever, do trabalho do Dr. Osmard A. Faria um trecho importante, concernente às ideias expostas nas obras de Bernheim e Liébeault: «Em tais livros, como no de Liébeault, o tema central é o efeito da sugestão, melhor, da hetero-sugestão, na obtenção de resultados terapêuticos». Assim agiria o hipnotismo de Braid. E que se teria por sugestão no entender desses autores?

Explica a escola de Nancy: Sugestão é o acto pelo qual se faz aceitar pelo cérebro de outrem uma ideia qualquer. (Obra citada, pág. 23).

Comentando as ideias de Alexandre Bertrand, de Liébeault e de Bernheim, o Dr. Osmard A. Faria observa que obviamente «é fácil implantar uma ideia no cérebro do hipnotizado, que lhe podemos dar sugestões úteis, que fará aquilo que insinuarmos. Mas a dúvida principal mantinha-se irrespondida (...).» (Obra citada, p.24). Esta dúvida resume-se em como funciona o cérebro durante o processo da hipnose.

Não é apenas esta questão que o ilustre e competente hipnólogo, Dr. Osmard A. Faria, formula em seu esplêndido livro. Outras mais e muito oportunas são colocadas por ele, mostrando que a questão do mecanismo da hipnose havia apenas sido iniciada por aqueles cientistas.

O terceiro hipnólogo que apresentou uma hipótese de trabalho para explicar o mecanismo da hipnose foi Jean-Martin Charcot (1825-1892), do famoso hospital da Salpêtriére, em Paris.

Renomado neurologista, em 1862 tornou-se chefe de serviço naquele hospital, passando a leccionar, ali, em 1868, Moléstia do Sistema Nervoso. Em 1870 encarregou-se dos histéricos não alienados. Em 1878, Charcot iniciou suas investigações sobre a histeria e o hipnotismo. Breve a chamada escola da Salpêtriére se tornou mundialmente famosa. Foi aí que Alfred Binet, Pierre Janet e Sigmund Freud travaram contacto com as manifestações do inconsciente.

Apesar de todo o peso de seus títulos e da fama da escola da Salpêtriére, as ideias de Charcot, acerca da estreita e exclusiva relação entre a histeria e o fenómeno do hipnotismo, mostraram-se inconsistentes com os factos. Restou, assim, como a mais correcta, a hipótese de Henri Bernheim, da escola de Nancy.

Veremos, mais tarde, no decorrer desta série de artigos, que as ideias de Mesmer não foram de todo descartadas, e que as mais recentes hipóteses da psicotrónica parecem dar-lhes certo apoio.
___________

*(Zweig, S. – A cura pelo Espírito, Rio de Janeiro: Guanabara, 1940, p.112). (1) - Fodor, N. - Encyclopaedia of Psychic Science, USA; University Books, 1974, p. 45. (2) Spence, L. An Encyclopaedia of Occultism, Secaucus, New Jersey; The Citadel Press, 1974, pp.95 e 388. (3) Faria, O. A. - Manual de Hipnose Médica e Odontológica, Rio de Janeiro e São Paulo; Atheneu, 1979, p. 14. (4) Faria, O. A. - Hipnose Médica e Odontológica, Rio de Janeiro - São Paulo; Atheneu, 1979, p. 19). (5) Faria, O. A. - Opus cit. P. 19).

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

BIOGRAFIA - BARÃO DU POTET (1796 – 1881)



O Barão Jules Du Potet de Sennevoy (1796-1881), ou simplesmente Barão Du Potet, foi um dos mais notáveis magnetizadores que o mundo já viu. Tornando-se adepto do mesmerismo em 1819, fez parte da segunda geração de magnetizadores, da qual constava Charles Lafontaine, Charpignon, Gautier e outros.

Tido como uma pessoa extraordinária e de coração generoso, foi um dos propagandistas da ciência magnética, para o que empregava grandes esforços, chegando a abrir uma escola prática de magnetismo onde as pessoas podiam instruir-se e ao mesmo tempo verificar “ in locu” os fenômenos produzidos. “Nunca, diria Du Potet, a medicina ordinária ofereceu ao público o exemplo de tantas garantias”, em face dos relatórios confirmando as curas, que eram impressos e distribuídos em grande quantidade para esclarecimento do povo (site omensageiro.com.br).

Em 1820 dirigiu inúmeras experiências magnéticas em hospitais. O Barão aplicava os passes magnéticos e se tornou conhecido pela rapidez dos resultados e pela intensidade dos efeitos. As experiências foram interrompidas pelo Conselho Geral dos Hospícios (BERSOT, 1995). Em todas as épocas da humanidade houve aqueles que, envolvidos pela onda de fanatismo ou de um falso cientificismo que não investiga aquilo que vai além do já estabelecido, perseguiram cruel e injustamente os portadores da verdade que tinham a missão de propagar o bem. Du Potet não foi exceção à regra e por duas vezes foi levado ao tribunal. Nos dias 15 e 27 de junho de 1836, compareceu perante o Tribunal de Polícia Correcional e ante a Côrte Régia de Montpellier, enfrentando o mais célebre processo envolvendo o Magnetismo (Magnetismo Curativo, Alphonse Bué).
Rejeitando advogado, fez ele mesmo a sua defesa da qual transcrevemos alguns trechos retirados da obra citada:

“Todo o meu crime é ter solicitado o exame público, não de uma doutrina, mas de simples fenômenos que os sábios da vossa cidade ignoram.... Condenar-me-eis por tal fato?

Pequei contra a moral? - Ensino os homens a fazerem de suas reservas vitais o emprego mais nobre: aliviar os sofrimentos dos seus semelhantes.

.......tudo quanto posso dizer-vos, é que ensino a produzir o sono sem ópio, a curar a febre sem quina; a minha ciência dispensa as drogas, a minha arte arruína os boticários.

Nós, magnetizadores, damos forças ao organismo, sustentamo-lo quando ele sucumbe; damos óleo à lâmpada, quando ela já não o tem.

Finalmente, não se pode impedir de proclamar uma verdade. Calar-se, porque esta verdade pode ofuscar certos espíritos prevenidos ou retardatários, é, na minha opinião, mais do que um crime: é uma covardia.”(grifos  originais)

Este processo provocou grande alarido por toda parte e restou que, tendo sido absorvido, o seu magnífico depoimento eivado de coragem e grandiosa altivez atraiu muita gente para os seus cursos e tratamentos.

Em 1852 escreveu sua obra mais famosa o “Tratado Completo sobre magnetismo animal”. Era ainda editor do “Journal du Magnétisme” e dirigente da “Sociedade Mesmeriana”.

De início incrédulo, mais tarde o barão se torna espírita, diante dos inúmeros fatos da realidade espiritual constatados durante as sessões de sonambulismo.

Um dos seus discípulos foi Pierre-Gaëtan Leymarie, o qual deu continuidade à Revue Spirite, de Allan Kardec. O próprio Codificador da Doutrina Espírita fez parte, até 1850, do grupo de estudiosos e magnetizadores a que pertencia o Barão Du Potet.

http://tdmmagnetismobatuira.blogspot.com.br/se

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O MAGNETISMO SEGUNDO LÉON DENIS


Esse mundo dos fluidos, que se entrevê além do estado radiante, reserva bastantes surpresas e descobertas à Ciência. Inumeráveis são as variedades de formas que a matéria, tornando-se sutil, pode revestir para as necessidades de uma vida superior.
Já muitos observadores sabem que, fora das nossas percepções, além do véu opaco que nossa espessa constituição apresenta, existe um outro mundo, não mais o dos infinitamente pequenos, porém um Universo fluídico completamente povoado de multidões invisíveis.

Assim, pois, os fenômenos magnéticos tornam evidente não só a existência da alma, mas também a sua imortalidade; porque, se, durante a existência corpórea, essa alma se desliga do seu grosseiro invólucro, vive e pensa fora dele, com mais forte razão achará na morte a plenitude de uma liberdade.

A ciência do Magnetismo não só nos leva a crer na existência da alma, mas também nos dá a posse de maravilhosos recursos. A ação dos fluidos sobre o corpo humano é considerável; suas propriedades são múltiplas, variadas. Fatos numerosos têm provado que, com o seu auxílio, se podem aliviar os sofrimentos mais cruéis. Os grandes missionários não curavam pela aposição das mãos? Eis todo o segredo dos seus supostos milagres. Os fluidos, obedecendo a uma poderosa vontade, a um ardente desejo de fazer o bem, penetram os organismos debilitados e suas moléculas benéficas, substituindo as que estão doentes, restituem gradualmente a saúde aos enfermos, o vigor aos valetudinários.

Objetam que uma legião de charlatães, para explorar o Magnetismo, abusa da credulidade e da ignorância do público, exornando-se com um poder imaginário. Mas, isso é uma conseqüência inevitável do estado de inferioridade moral da Humanidade.

Uma coisa nos consola desses fatos contristadores: é a certeza de que todo homem animado de simpatia profunda pelos deserdados, de verdadeiro amor pelos que sofrem, pode aliviar seus semelhantes por uma prática sincera e esclarecida do Magnetismo.

Texto retirado do livro “Depois da Morte” – Léon Denis - Cap. 17 (Os Fluidos – O Magnetismo)
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GLÂNDULA PINEAL


Jorge Andréa
Médico e Expositor do
Instituto de Cultura Espírita do Brasil


A Glândula pineal ou epífise foi bastante conhecida dos antigos, fato observado através das descrições existentes. A escola de Alexandria participou ativamente nos estudos pineais que se achavam ligados às questões de ordem religiosa. ou epífise foi bastante conhecida dos antigos, fato observado através das descrições existentes. A escola de Alexandria participou ativamente nos estudos pineais que se achavam ligados às questões de ordem religiosa. Os gregos conheciam-na por "conarium" e os latinos por "glândula pinealis". Estes povos em suas dissertações localizavam na glândula pineal o centro da vida.



Muito mais tarde, os trabalhos sobre a glândula pineal se enriquecem com De Graf, Stenon e Descartas. Este último fez interessante e minuciosa descrição, atribuindo até nossos dias; para ele, a alma era o hóspede misterioso da glândula pineal.



No começo deste século, os estudos tomam maior incremento com observações mais aprimoradas. Nos nossos dias, apesar de experimentações mais meticulosas, ainda não temos definitiva interpretação sobre sua real função, daí as divergências nas hipóteses apresentadas.

As pesquisas embriológicas em certos animais vertebrados (lacertídeos), notificaram a presença de um elemento que denominaram ''olho pineal", considerado por muitos como órgão sensorial destinado à visão de certos animais fósseis. Seria órgão vestigiário, órgão em repressão, cuja presença nos animais mais avançados na escala zoológica representaria o resquício de olho ímpar de certos invertebrados? Inúmeras experiências foram feitas nas
diversas espécies animais a respeito do olho pineal; as conclusões são contraditórias e pouco razoáveis.

Poderíamos pensar que o olho pineal, em vez de ser elemento regressivo, com tendências ao desaparecimento, fosse, ao contrário, elemento em desenvolvimento. Do olho externo e ímpar de certos animais haveria, aos poucos, nos lentos e meticulosos processos de mutações e transformações evolutivas que desconhecem o tempo, uma inflexão para o interior da caixa
craniana, tomando características histológicas especiais sem perderem as de sua origem. Atenderia esta formação ao controle de funções de alta relevância para o animal tais sejam os diversos mecanismos do instinto, com tonalidades próprias, conforme o desenvolvimento da espécie. Com o aparecimento progressivo em relação à escala zoológica, portanto evolutivo,
iria aparecendo ao lado do olho pineal o divertículo epifisário, até que no homem alcançaria em conjunto com as paráfises (formações embriológicas mais ou menos constantes), o estado mais completo do desenvolvimento pineal.

Desse modo, o olho poderá ser visto como o ponto em que se iniciam os verdadeiros alicerces da glândula pineal e, como tal, o início da Individualidade espiritual-as expressões de um EU em formação - que não existe nos invertebrados, cuja zona espiritual deve fazer parte de um
conjunto próprio da espécie ( alma grupo ), sem as nuanças que caracterizam o Indivíduo, o EU. Lógico seria admitir que, à medida que a escala zoológica avança, os instintos se desenvolvem atingindo seus mais altos graus; e, na espécie humana a glândula pineal responderia pelos mecanismos da meditação e ao discernimento, da reflexão e do pensamento e pela direção e orientação dos fenômenos psíquicos mais variados.

A glândula pineal ou epífise, na espécie humana, ocupa posição central em relação aos órgãos nervosos (gravura 1).

A- Cortex cerebral; B- Lobo frontal; C-Hipófise; D-Protuberância

E-Bulbo; F-Medula; G-Sist.de ativação reticular; H- cerebelo

I- Glândula Pineal; J- Região talâmica; K- Impulsos nervosos



A glândula pineal mantém relações com as glândulas endócrinas e deixa transparecer sua influência em maior ou menor grau. Ainda é difícil estabelecer as relações exatas entre a pineal e as demais glândulas embora possamos asseverar, pelos trabalhos e observações conjuntas, que a pineal seria realmente a orientadora da cadeia glandular, comunicando-se com as demais glândulas direta ou indiretamente tendo na hipófise o grande campo de

suas expansões com o organismo inteiro. Não seria a neuro-hipófise, mas precisamente, a zona por intermédio da qual a pineal orientaria todo o seu trabalho no equilíbrio endócrino?

Com os gritos da puberdade, aos 14 anos em média, a pineal chefiando a cadeia glandular e mais condicionada pelo desenvolvimento físico do indivíduo, encontra melhor campo e distribuição das emoções de vidas pregressas, cedidas pelos vórtices da zona inconsciente (zona espiritual) .
Estes profundos vórtices energéticos do inconsciente, por se acharem ligados às manifestações do sexo, causam modificações como que preparando o campo físico (através da glândula pineal) às necessidades evolutivas, onde as imensas regiões das emoções melhor se expressam. Essa glândula responderia pelos mais altos fenômenos da vida - "glândula da vida espiritual" - e por ser elemento básico e controlador das razões emocionais, o sexo em suas múltiplas manifestações dependeria integralmente de sua interferência Ainda seria por intermédio dessa glândula que os fatores propulsores de evolução espiritual (renúncia, uso equilibrado do sexo, tolerância, bondade, abnegação e disciplina emotiva por excelência) alcançariam índices bastantes elevados. Desse modo, a pineal séria a tela medianeira onde o espírito encontra os meios de aquisição dos seus íntimos valores, por um lado e, pelo outro, fornece as condições para o crescimento mental do homem em verdadeiro ciclo aberto, inesgotável de possibilidades e potencialidades. As aquisições para o espírito serão cada vez maiores e as influências do espírito na matéria serão cada vez mais potentes. Tudo se amplia e completa nas ajustadas etapas palingenéticas, como possibilidades mais lógicas da evolução no esquema cósmico.

Pelas referências acima, percebemos a influência diretora da glândula pineal sobre a cadeia glandular do organismo. A ligação que mantém com o hipotálamo e outras zonas nobres do sistema nervoso central é evidente, como também a influência que exerce no sistema neuro-vegetativo. Desse modo, jamais podemos afastar a glândula pineal da participação de inúmeras funções orgânicas, direta ou indiretamente, assim como da acentuada correlação no setor psíquico.

Porque não admitir a pineal - devido à sua situação absolutamente central em relação aos órgãos nervosos, às unidades glandulares que dirige, aos elementos somáticos que influencia, ao sistema neuro-vegetativo que atua e controla - como sendo o Centro Psíquico, o Centro Energético, o Centro Vital, que se responsabilizaria pela ativação e controle de todos os atos
orgânicos, desde os mais simples até os fenômenos mais altos da vida?

Podemos considerar a pineal como sendo a glândula da vida psíquica; a glândula que resplandece o organismo, acorda a puberdade e abre suas usinas energéticas para que o psiquismo humano, em seus intrincados problemas emocionais, se expresse em vôos imensuráveis.

A afirmação filosófica-intuitiva da escola de Alexandria, dos antigos gregos e mais modernamente de Descartes, como sendo a pineal a sede da alma, e com os estudos que atualmente possuímos, devemos meditar profundamente, sem julgarmos a priori aquilo que nossa ciência oficial ainda não alcançou.

Existe outro terreno orgânico, ainda desconhecido inexplorado, para além do físico, de energia mais sutil e menos condensada do que aquela da matéria e que por isso mesmo a dirige e orienta. É terreno puramente vibratório, não observado pelo olho humano mesmo com aparelhagem óptica especializada, contudo perceptível pelos reais efeitos: terreno no qual estaria mergulhada a energia condensada que é a matéria, obedecendo aos seus influxos, por
serem mais evoluídos, mais vividos, mais experientes e, por isso, com possibilidade de comandar inteligentemente.

Para que a ciência progrida resolva seus difíceis problemas, terá que imergir nas energias, mais precisamente nas energias do mundo psíquico, para melhor defini-lo, estudá-lo e compreendê-lo. Não mais se entenderá uma ciência que fique a arrastar-se na análise e a computar exclusivamente aquilo que os sentidos humanos possam perceber; terá que integrar-se no todo, ter a visão sintética, a visão de conjunto e não mais rastejar teimosamente em dimensões menores.

Os pesquisadores, em suas dissecções anatômicas e em seus mergulhos nos infinitamente pequenos, vão transformando a matéria de viva em morta, e com isso jamais encontram o Princípio Vital, a Essência dessas unidades de trabalho. Por assim proceder, afirmam solenemente nada existir além do que os sentidos percebem, e iludem-se com o mais densificado.