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terça-feira, 11 de setembro de 2012

RESGUARDEMOS KARDEC




Para alguns confrades de índole "light ou clean" (!?),a pureza doutrinária ecoa como algo obscuro, subjetivo. Não compartilhamos dessa tese. Cremos que consiste na observância da simplicidade dos conceitos escritos, praticados e alicerçados na Codificação, cujas recomendações básicas foram apoiadas pelos "Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus", (1) no dizer do Espírito de Verdade, na introdução de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
Aconteceu conosco recentemente: ao término de uma palestra, cujo tema enfatizava a questão das práticas estranhas às normas de conduta que a Doutrina Espírita preceitua, aproximou-se de nós um confrade, deixando transparecer uma série de dúvidas quanto a instituição espírita, onde freqüentava, próxima à sua residência. Confessou-nos que estava tentando se harmonizar com aquele grupo, mas a forma como conduziam os trabalhos conflitava com os esclarecimentos contidos nos Livros da Codificação.
Esclareceu-nos, também, que, naquele centro, os trabalhadores adotavam a prática da "apometria" para promoverem sessões de "desobsessão" e que o tratamento pela "corrente magnética" era a coqueluche do centro-oeste brasileiro. (sic) (!?) Disse-nos, ainda, que, enquanto uns utilizavam cristais para energizarem os assistidos, outros recomendavam o hábito da meditação sob pirâmides para o necessário equilíbrio espiritual. Havia, também, aqueles que incentivavam o famoso "banho de sal grosso", juntamente com ervas "medicinais" e outros quejandos.
Convidado para trabalhar naquele centro, em serviços de atendimento aos necessitados da região, mostrou-se-nos extremamente receoso em assumir tal responsabilidade, já que tais práticas não eram condizentes com os ensinamentos da Doutrina Espírita.
Ao nos questionar se deveria ou não aceitar tal tarefa, esclarecemos-lhe da seguinte maneira: já que ele possuía algum conhecimento sobre as normas da Codificação, e demonstrava bom senso crítico e critério doutrinário, das duas uma: ou ele se afastaria do grupo em que se associara, procurando se identificar com outra instituição, na qual estivessem estabelecidas reuniões nos moldes da Terceira Revelação, ou permaneceria qual missionário, transmitindo, aos poucos, as claras noções da Doutrina Espírita. Lembramos ao nosso irmão que muitos centros sustentam movimentos e idéias hipnotizantes, na tentativa de embutir, na espinha dorsal da Doutrina Espírita, algumas práticas estranhas, sob os auspícios dos apelos assistencialistas de inócuos resultados, e propagam neologismos de impacto para "tratamentos espirituais", supostamente eficazes. Explicamos que o trágico da questão é que esses grupos são dominadores e, por conseqüência, detêm poder hegemônico no movimento espírita em certas localidades.
Esclarecemos-lhe que o Centro Espírita tem que funcionar como se fosse um autêntico pronto-socorro espiritual, tal qual refrigério em favor das almas em desalinho, e não um reduto de ilusões. A Casa Espírita tem que estar preparada para receber um contingente cada vez maior de pessoas perdidas no lodaçal de suas próprias imperfeições, e que estão nos vales sombrios da ignorância.
Aqueles que lêem livros tidos como de literatura avançada, mas de autores um tanto quanto duvidosos, sem antes lerem e estudarem com seriedade Allan Kardec, correm o grande risco de enveredarem por caminhos estreitos e trilhas confusas, de difícil acesso esclarecedor. Os núcleos espíritas refletem a índole e consciência doutrinária dos seus dirigentes. As práticas que nos narrou o irmão chocam, nitidamente, com os postulados Kardecianos. Logo, aí não se pratica Espiritismo. Contudo, são estágios de entendimento insipientes, talvez necessários para pessoas neófitas (lembrando aqui: a cada segundo o merecimento). Foi preciso lembrá-lo, porém, de que, mesmo nos grupos mal orientados por seus dirigentes, existem pessoas que se dispõem a ajudar irmãos necessitados, independentemente de regras preestabelecidas, o que lhes confere algum mérito, obviamente.
Alertamos-lhe, todavia, sobre as dificuldades que, certamente, iria encontrar, pois não seria fácil o acesso às mentes cristalizadas em bases de "verdades indiscutíveis", mas nada obstando que aceitasse o desafio, se a vontade de servir fosse maior que as práticas não alinhadas com o projeto Espírita. O importante é servir em nome do Cristo, mesmo convivendo, heroicamente, com práticas vazias de sentido lógico. Por outro lado, serenando-lhe o espírito hesitante, lembramos-lhe de que ninguém é obrigado a conviver sob as amarras dos constrangimentos.
O Espiritismo traz-nos uma nova ordem religiosa que precisa ser preservada. A Terceira Revelação é a resposta sábia dos Céus às interrogações da criatura aflita na Terra, conduzindo-a ao encontro de Deus. Cremos que preservá-la da presunção dos reformadores e das propostas ligeiras dos que a ignoram, e apenas fazem parte dos grupos onde é apresentada, constitui dever de todos nós. "Neste momento, contabilizamos glórias da Ciência, da Tecnologia, do pensamento, da arte, da beleza, mas não podemos ignorar as devastadoras estatísticas da perversidade que se deriva dos transtornos comportamentais"(...)as criaturas humanas ainda não encontraram o ponto de realização plenificadora. Isto porque Jesus tem sido motivo de excogitações imediatistas no campeonato das projeções pessoais, na religião, na política e nos interesses mesquinhos.(...)"(1)
Se abraçamos o Espiritismo, por ideal cristão, não podemos negar-lhe fidelidade. O legado da tolerância não se consubstancia na omissão da advertência verbal diante às enxertias conceituais e práticas anômalas que alguns companheiros intentam impor no seio do Movimento Espírita.
Para os mais afoitos, a pureza doutrinária é a defesa intransigente dos postulados espíritas, sem maior observância das normas evangélicas; para outros, não menos afobados, é a rígida igualdade de tipos de comportamentos, sem a devida consideração aos níveis diferenciados de evolução em que estagiam as pessoas. Sabemos que o excesso de rigor na defesa doutrinária pode nos levar a graves erros, se enredarmos pelas trilhas de extremismos injustificáveis, posto que redundarão em divisão inaceitável, em face dos impositivos da fraternidade.
É óbvio que não podemos converter defesa de pureza kardeciana em cristalizada padronização de práticas que podem obstar a criatividade espontânea, diante da liberdade de ação. Inobstante repelir atitudes extremas, não podemos abrir mão da vigilância exigida pela pureza dos postulados espíritas. Não hesitemos, pois, quando a situação se impõe, e estejamos alerta sobre a fidelidade que devemos a Kardec e a Jesus. É importante não esquecermos de que nas pequeninas concessões vamos descaracterizando o projeto da Terceira Revelação.
"É necessário preservar o Espiritismo conforme o herdamos do eminente Codificador, mantendo-lhe a claridade dos postulados, a limpidez dos seus conteúdos, não permitindo que se lhe instale adenda perniciosa, que somente irá confundir os incautos e os menos conhecedores das suas diretrizes"(1) É inegável que existem inúmeras práticas não compatíveis com o projeto doutrinário que urge sejam combatidas à exaustão,. nas bases da dignidade cristã, sem quaisquer laivos de fanatismo, tendente a impossibilitar discussão sadia em torno de questões controversas.
Apresentando certa apreensão quanto ao Movimento Espírita nosso 'Kardec Brasileiro' recorda: "a Boa Nova (...)produz júbilo interno e não algazarra exterior (...) Não é lícito que nos transformemos em pessoas insensatas no trato com as questões espirituais. Preservar, portanto, a pulcritude e a seriedade da Doutrina no Movimento Espírita é dever que nos compete a todos e particularmente ao Conselho Federativo Nacional através das Entidades Federadas"(1)
Sobre os que ainda se fixam demasiadamente nas questões fenomênicas, Bezerra lembra: "(...) a mediunidade deve ser exercida santamente, cristãmente, com responsabilidade e critérios de elevação para não se transformar em instrumento de perturbação e desídia"(1). O exercício da mediunidade deve ser reservada às pessoas que conheçam Espiritismo, posto ser extremamente perigosa a participação de pessoas ignorantes em trabalhos de aguçamentos mediúnicos, e, por desatenção desse tópico , após mais de um século de mediunidade à luz da Doutrina Espírita, temo-la, ainda, atualmente, ridicularizada pelos intelectuais, materialistas e ateístas, que insistem em desprezá-la até hoje.
Lamentavelmente, em nome do Espiritismo, muitos propõem apometrias, desobsessão por corrente mento-eletromagnética(2) , aplicações de luzes coloridas para higienizar auras humanas e curar (pasmem!) azia, cálculo renal, coceiras, dores de dente, gripes, soluços em crianças, verminoses, frieiras, etc.. Se não bastasse, recomenda-se, até, carvãoterapia (?!) para neutralizar "maus-olhados". É só colocar um pedaço de tora de carvão debaixo da cama e estaremos imunes ao grande flagelo da humanidade - o "olho comprido"- e, nessa tragicomédia, o Espiritismo vai capengando em certos centros espíritas.
A verdadeira prática Espírita é a expressão da moral cristã, consubstanciada no Evangelho do Mestre Jesus. Assim, o grupo espírita só terá maior credibilidade se houver pureza doutrinária e se a prática estiver conforme os ensinamentos de Jesus, sob qualquer tipo de continente (desobsessão, educação mediúnica, palestras, livros, mensagens, Assistência Social etc.)
No Espiritismo, o Cristo desponta como excelso e generoso condutor de corações e o Evangelho brilha como o Sol, na sua grandeza mágica. Uma doutrina que cresceu assustadoramente nos últimos lustros, em suas hostes surgiram bons líderes, ao tempo em que também apareceram imprudentes inovadores, com a presunção de "atualizar" Kardec.
Recordemos que Kardec legou à humanidade a melhor de todas as embalagens (pureza doutrinária) ao divino presente que é a Doutrina dos Espíritos, e aqueles que têm como base o alicerce do Evangelho podem, até, conviver com qualquer obra ou filosofia, que estarão imunizados contra o vírus das influenciações obsidente.

Jorge Hessen


FONTES:
(1) Bezerra de Menezes. (Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, em 9 de novembro de 2003, no encerramento da Reunião do Conselho Federativo Nacional, na sede da Federação Espírita Brasileira, em Brasília.
(2) Jornal Alavanca - abril/maio-2000



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http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2014/06/carta-de-allan-kardec-ao-principe-g.html

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

MEDIUNIDADE CURADORA




"Caro Senhor Kardec.

"Venho, na qualidade de Espírita, recorrer à vossa cortesia, e vos rogar consentir em dar-me alguns conselhos relativamente à prática da mediunidade curadora pela imposição das mãos. Um simples artigo a este respeito na Revista Espírita, contendo alguns desenvolvimentos, seria acolhido, disto estou seguro, com um grande interesse, não só por aqueles que, como eu, se ocupam desta questão com ardor, mas ainda por muitos outros a quem essa leitura poderia inspirar o desejo de dela se ocupar também. Lembro-me sempre dessas palavras de uma sonâmbula que eu havia formado. Eu a enviei, durante seu sono magnético, para visitar uma doente à distância, e a meu pedido como se poderia curá-la, ela disse: "Há alguém em sua aldeia que o poderia, é um tal; é médium curador, mas sobre isto nada sabe."

"Não sei até que ponto essa faculdade é especial, cabe-vos mais do que a qualquer outro apreciá-la, mas se ela o é realmente, como seria de desejar, que atraísseis sobre este ponto a atenção dos Espíritas. Mesmo todos aqueles que, fora de nossas opiniões, vos lessem, não poderiam ter nenhuma repugnância em tentar uma faculdade que não pede senão a fé em Deus e a prece. Que de mais geral, de mais universal? Não é mais questão de Espiritismo, e cada um, nesse terreno, pode conservar suas convicções. Quantas irmãs de caridade, quantos bons curas do campo, quantos milhares de pessoas piedosas, ardentes pela caridade, poderiam ser médiuns curadores? É o que sonho em todas as religiões, em todas as seitas. Aceita por toda a parte, essa faculdade, esse presente divino da bondade do Criador, em lugar de ficar como apanágio de alguns, cairia, se assim posso me expressar, no domínio público. Este seria um belo dia para aqueles que sofrem, e há tantos deles!
"Mas, para exercer essa faculdade, independentemente de uma fé viva e da prece, podem existir condições a reunir, procedimento a seguir para agir o mais eficazmente possível. Qual é a parte do médium na imposição das mãos? Qual é a dos Espíritos? É preciso empregar a vontade, como nas operações magnéticas, ou se limitar a pedir, deixando agir à sua vontade a influência oculta? Essa faculdade é realmente especial ou acessível a todos? O organismo nela desempenha um papel, e que papel? Essa faculdade pode ser desenvolvida, e em que sentido?

"Eis aqui onde vossa longa experiência, vossos estudos sobre as influências fluídicas, o ensino dos Espíritos elevados que vos assistem, e, enfim, os documentos que recolheis de todos os cantos do globo, podem vos permitir nos esclarecer e nos instruir; ninguém, como vós, está colocado nessa situação única. Todos aqueles que se ocupam da questão desejam vossos conselhos tanto quanto eu, disto estou seguro, e creio me fazer o intérprete de todos. Que mina fecunda é a mediunidade curadora! Aliviar-se-á ou se curará o corpo, e pelo alívio ou pela cura encontrar-se-á o caminho do coração, lá onde freqüentemente a lógica havia fracassado. Quantos recursos possui o Espiritismo! Quanto é rico dos meios dos quais é chamado a se servir! Não deixando nenhum deles improdutivo; quanto tudo concorre a elevá-lo e a difundi-lo. Nisto nada poupais, caro senhor Kardec, e depois de Deus e dos bons Espíritos, o Espiritismo vos deve o que é. Já tendes uma recompensa disto neste mundo pela simpatia e afeição de milhões de corações que oram por vós, sem contar a verdadeira recompensa que vos espera num mundo melhor.
“Tenho a honra, etc.
“A. D.”

O que nos pede nosso honorável correspondente não é nada menos do que um tratado sobre a matéria. A questão foi esboçada em O Livro dos Médiuns e em muitos artigos da Revista, a propósito de fatos de curas e de obsessões; ela está resumida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a propósito das preces para os doentes e os médiuns curadores. Se um tratado regular e completo não pode ainda ser feito, isto se prende a duas causas: a primeira que, apesar de toda a atividade que desdobramos em nossos trabalhos, nos é impossível fazer tudo ao mesmo tempo; a segunda, que é mais grave, está na insuficiência das noções que se possuem ainda a esse respeito. O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo; mas o Espiritismo, que começa, não pode ainda haver dito tudo; não pode, de um só golpe, nos mostrar todos os fatos que ele abarca; cada dia deles desenvolve novos, de onde decorre novos princípios que vêm corroborar ou completar aqueles que já se conheciam, mas é preciso o tempo material para tudo; qualquer parte integrante do Espiritismo é, por si mesma, toda uma ciência, porque se liga ao magnetismo, e abarca não só as doenças propriamente ditas, mas todas as variedades, tão numerosas e tão complicadas de obsessões que, elas mesmas, influem sobre o organismo. Não é, pois, em algumas palavras que se pode desenvolver um assunto tão vasto. Nele trabalhamos, como em todas as outras partes do Espiritismo, mas como não queremos nele nada pôr de nossa autoridade e que seja hipotético, não procedemos senão pelo caminho da experiência e da observação. Os limites deste artigo não nos permitindo dar-lhe os desenvolvimentos que comporta, resumimos alguns dos princípios fundamentais que a experiência consagrou.

1. Os médiuns que obtêm as indicações de remédios da parte dos Espíritos não são o que se chama médiuns curadores, porque não curam por si mesmos; são simples médiuns escreventes que têm uma aptidão mais especial do que outros para esse gênero de comunicações, e que, por essa razão, podem se chamar médiuns consultantes (consultores), como outros são médiuns poetas ou desenhistas. A mediunidade curadora se exerce pela ação direta do médium sobre o doente, com a ajuda de uma espécie de magnetização de fato ou de pensamento.

2. Quem diz médium diz intermediário. Há esta diferença entre o magnetizador e o médium curador, que o primeiro magnetiza com o seu fluido pessoal, e o segundo com o fluido dos Espíritos, ao qual serve de condutor. O magnetismo produzido pelo fluido do homem é o magnetismo humano; aquele que provém do fluido dos Espíritos é o magnetismo espiritual.

3. O fluido magnético tem, pois, duas fontes muito distintas: os Espíritos encarnados e os Espíritos desencarnados. Essa diferença de origem produz uma diferença muito grande na qualidade do fluido e em seus efeitos.
O fluido humano é sempre mais ou menos impregnado das impurezas físicas e morais do encarnado; o dos bons Espíritos é necessariamente mais puro e, por isto mesmo, tem propriedades mais ativas que levam a uma cura mais rápida. Mas, passando por intermédio do encarnado, pode-se alterar como uma água límpida passando por um vaso impuro, como todo remédio se altera se permanece em um vaso impróprio, e perde em parte suas propriedades benfazejas. Daí, para todo verdadeiro médium curador, a necessidade absoluta de trabalhar em sua depuração, quer dizer, em sua melhoria moral, segundo este princípio vulgar: limpai o vaso antes de vos servir dele, se quereis ter alguma coisa de bom. Só isto basta para mostrar que o primeiro que chega não poderia ser médium curador, na verdadeira acepção da palavra.

4. O fluido espiritual é tanto mais depurado e benfazejo quanto o Espírito que o fornece é, ele mesmo, mais puro e mais desligado da matéria. Concebe-se que o dos Espíritos inferiores deve se aproximar do homem e pode ter propriedades malfazejas, se o Espírito for impuro e animado de más intenções.
Pela mesma razão, as qualidades do fluido humano apresenta nuanças infinitas segundo as qualidades físicas e morais do indivíduo; é evidente que o fluido saindo de um corpo malsão pode inocular princípios mórbidos no magnetizado. As qualidades morais do magnetizador, quer dizer, a pureza de intenção e de sentimento, o desejo ardente e desinteressado de aliviar seu semelhante, unido à saúde do corpo, dão ao fluido um poder reparador que pode, em certos indivíduos se aproximar das qualidades do fluido espiritual.
Seria, pois, um erro considerar o magnetizador como uma simples máquina na transmissão fluídica. Nisto como em todas as coisas, o produto está em razão do instrumento e do agente produtor. Por estes motivos, haveria imprudência em se submeter à ação magnética do primeiro desconhecido; abstração feita dos conhecimentos práticos indispensáveis, o fluido do magnetizador é como o leite de uma nutriz: salutar ou insalubre.

5. O fluido humano sendo menos ativo, exige uma magnetização prolongada e um verdadeiro tratamento, às vezes, muito longo; o magnetizador, dispensando seu próprio fluido, se esgota e se fatiga, porque é de seu próprio elemento vital que ele dá; é porque deve, de tempos em tempos recuperar suas forças. O fluido espiritual, mais poderoso em razão de sua pureza, produz efeitos mais rápidos e, freqüentemente, quase instantâneos. Esse fluido não sendo o do magnetizador, disto resulta que a fadiga é quase nula.

6. O Espírito pode agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, assim como se pôde constatar em muitas ocasiões, seja para aliviá-lo, curá-lo se isto se pode, ou para produzir o sono sonambúlico. Quando se age por intermediário, é o caso da mediunidade curadora.

7. O médium curador recebe o influxo fluídico do Espírito, ao passo que o magnetizador haure tudo em si mesmo. Mas os médiuns curadores, na estrita acepção da palavra, quer dizer, aqueles cuja personalidade se apaga completamente diante da ação espiritual, são extremamente raros, porque esta faculdade, elevada ao seu mais alto grau, requer um conjunto de qualidades morais que raramente se encontra sobre a Terra; somente eles podem obter, pela imposição das mãos, essas curas instantâneas que nos parecem prodigiosas; muito poucas pessoas podem pretender este favor. O orgulho e o egoísmo sendo as principais fontes das imperfeições humanas, disso resulta que aqueles que se gabam de possuir esse dom, que vão por toda a parte enaltecendo as curas maravilhosas que fizeram, ou que dizem ter feito, que procuram a glória, a reputação ou o proveito, estão nas piores condições para obtê-la, porque esta faculdade é o privilégio exclusivo da modéstia, da humildade, do devotamento e do desinteresse. Jesus dizia àqueles que tinha curado: Ide dar graças a Deus, e não o digais a ninguém.

8. A mediunidade curadora pura sendo, pois, uma exceção neste mundo, disso resulta que há quase sempre ação simultânea do fluido espiritual e do fluido humano; quer dizer, que os médiuns curadores são todos mais ou menos magnetizadores, é por isso que agem segundo os procedimentos magnéticos; a diferença está na predominância de um ou de outro fluido, e na maior ou na menor rapidez da cura. Todo magnetizador pode se tornar médium curador, se sabe se fazer assistir pelos bons Espíritos; neste caso os Espíritos lhe vêm em ajuda, derramando sobre ele seu próprio fluido que pode decuplicar ou centuplicar a ação do fluido puramente humano.

9. Os Espíritos vão para onde querem; nenhuma vontade pode constrangê-los; eles se rendem à prece se é fervorosa, sincera, mas jamais à injunção. Disso resulta que a vontade não pode dar a mediunidade curadora, e que ninguém pode ser médium curador de desejo premeditado. Reconhece-se o médium curador pelos resultados que obtém, e não pela sua pretensão de sê-lo.

10. Mas se a vontade é ineficaz quanto ao concurso dos Espíritos, ela é onipotente para imprimir ao fluido, espiritual ou humano, uma boa direção, e uma energia maior. No homem débil e distraído, a corrente é débil, a emissão fraca; o fluido espiritual se detém nele, mas sem proveito para ele; no homem de uma vontade enérgica, a corrente produz o efeito de uma ducha. É preciso não confundir a vontade enérgica com a teimosia, porque a teimosia é sempre uma conseqüência do orgulho e do egoísmo, ao passo que o mais humilde pode ter a vontade do devotamento.

A vontade é ainda onipotente para dar aos fluidos as qualidades especiais apropria- das à natureza do mal. Este ponto, que é capital, se prende a um princípio ainda pouco conhecido, mas que está em estudo, o das criações fluídicas, e das modificações que o pensamento pode fazer a matéria suportar. O pensamento, que provoca uma emissão fluídica, pode operar certas transformações moleculares e atômicas, como se vê isto se produzir sob a influência da eletricidade, da luz ou do calor.

11. A prece, que é um pensamento, quando é fervorosa, ardente, feita com fé, produz o efeito de uma magnetização, não só chamando o concurso dos bons Espíritos, mas em dirigindo sobre o doente uma corrente fluídica salutar. Chamamos a esse respeito a atenção sobre as preces contidas em O Evangelho Segundo o Espiritismo, para os doentes ou os obsidiados.

12. Se a mediunidade curadora pura é o privilégio das almas de elite, a possibilidade de abrandar certos sofrimentos, de curar mesmo, embora de maneira não instantânea, certas doenças, é dada a todo o mundo, sem que seja necessário ser magnetizador. O conhecimento dos procedimentos magnéticos é útil em casos complicados, mas não é indispensável. Como é dado a todo o mundo chamar os bons Espíritos, orar e querer o bem, freqüentemente, basta impor as mãos sobre uma dor para acalmá-la; é o que pode fazer todo indivíduo se nisso põe a fé, o fervor, a vontade e a confiança em Deus. Há a se anotar que a maioria dos médiuns curadores inconscientes, aqueles que não se dão nenhuma conta de sua faculdade, e que se encontram, às vezes, nas condições mais humildes, e entre pessoas privadas de toda instrução, recomendam a prece, e ajudam a si mesmos orando. Somente sua ignorância faz crer na influência de tal ou tal fórmula; algumas vezes mesmo ali misturam práticas evidentemente supersticiosas, das quais é preciso dar o caso que elas merecem.

13. Mas do fato de que se tenha obtido uma vez, ou mesmo várias vezes, resultados satisfatórios, seria temerário se dar como médium curador, e disso concluir que se pode vencer toda espécie de mal. A experiência prova que, na acepção restrita da palavra, entre os melhores dotados, não há médiuns curadores universais. Tal terá devolvido a saúde a um doente, que não produzirá nada sobre um outro; tal terá curado um mal num indivíduo, que não curará o mesmo mal uma outra vez, sobre a mesma pessoa ou sobre uma outra; tal, enfim, terá a faculdade hoje, que não terá mais amanhã, e poderá recobrá-la mais tarde, segundo as afinidades ou as condições fluídicas em que se encontrem.

14. A mediunidade curadora é uma aptidão, como todos os gêneros de mediunidade, inerente ao indivíduo, mas o resultado efetivo dessa aptidão é independente de sua vontade. Ela se desenvolve, incontestavelmente, pelo exercício, e sobretudo pela prática do bem e da caridade; mas como ela não poderia ter a constância, nem a pontualidade de um talento adquirido pelo estudo, e do qual se é sempre senhor, não poderia tornar-se uma profissão. Seria, pois, abusivamente que uma pessoa se ostentasse diante do público como médium curador. Estas reflexões não se aplicam aos magnetizadores, porque a força está neles, e são livres para dela dispor.

15. E um erro crer que aqueles que não partilham nossas crenças, não teriam nenhuma repugnância em tentar essa faculdade. A mediunidade curadora racional é intimamente ligada ao Espiritismo, uma vez que repousa essencialmente sobre o concurso dos Espíritos; ora, aqueles que não crêem nem nos Espíritos, nem em sua alma, e ainda menos na eficácia da prece, não saberiam colocar-se nas condições desejadas, porque isso não é uma coisa que se possa tentar maquinalmente. Entre aqueles que crêem na alma e sua imortalidade, quantos há ainda hoje que recuariam de medo diante de um chamado aos bons Espíritos, no temor de atrair o demônio, e que crêem ainda de boa-fé que todas essas curas são a obra do diabo? O fanatismo é cego; ele não raciocina. Isto não será sempre assim, sem dúvida, mas se passará muito tempo antes que a luz penetre em certos cérebros. À espera disto, façamos o maior bem possível com a ajuda do Espiritismo; façamo-lo mesmo aos nossos inimigos, aceitemos ser pagos com a ingratidão, é o melhor meio de vencer certas resistências, e de provar que o Espiritismo não é tão negro quanto alguns o pretendem.

REVISTA ESPÍRITA
JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS - PUBLICADA SOB A DIREÇÃO DE ALLAN KARDEC
ANO 8 - SETEMBRO 1865 - Nº. 9
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