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terça-feira, 9 de setembro de 2014

COMO ENTENDER A ORTODOXIA - PARTE I

Nelson Costa da Silva

A ignorância dos Princípios – O caminho filosófico – O crítico sério – O conceito da ortodoxia Espírita – Espíritas-espiritualistas – 
A defesa da coerência doutrinária

Segundo Allan Kardec, “a experiência nos confirma todos os dias que as dificuldades e as decepções que encontramos na prática do Espiritismo - doutrina fundada sobre a crença na existência dos Espíritos e em suas manifestações - têm sua origem na ignorância dos princípios dessa ciência.”
O Espiritismo, mesmo que alguns neguem, fez grandes progressos desde a sua divulgação para a humanidade, mas o seu maior progresso se fez a partir do momento que entrou no caminho filosófico e passou a ser apreciado por pessoas esclarecidas.

O Espiritismo não se solidariza com as extravagâncias que são cometidas em seu nome, assim também como dizia A.Kardec “como a verdadeira ciência não o é com os abusos da ignorância nem a verdadeira religião não o é com os excessos do fanatismo”.

O Espiritismo, abordando as questões mais graves da filosofia em todos os ramos da ordem social, compreendendo ao mesmo tempo o homem físico e o homem moral, é por si só toda uma ciência e uma filosofia que não se apreende em algumas horas, como qualquer outra ciência.

É crítico sério do Espiritismo e, por seus seguidores, assim considerado, somente aquele que tenha visto tudo, estudando e se aprofundando com paciência e perseverança, qualidades essas próprias de um observador consciencioso. Que demonstrasse o seu saber sobre o assunto, de idêntica forma que os mais esclarecidos dos seus seguidores e estudiosos o fizesse e, ainda assim, que tivesse alcançado os seus conhecimentos em outros lugares que não nos romances. Seria aquele a quem não se poderia apresentar nenhum postulado que ele não conhecesse, e tampouco qualquer argumento que deixasse de passar pela sua meditação. Que contestasse a base da Doutrina dos Espíritos não por meras negações ou inserções contraditórias, maculando a lógica e o crivo da razão na doutrina apresentados, mas que pudesse comprovar, enfim, causas mais lógicas daquelas que o Espiritismo apresenta.

Esse crítico ou esse inovador ainda está por vir. Se vier.

Sendo o Espiritismo toda uma ciência e toda uma filosofia, para que alguém possa conhecê-lo seriamente, a primeira condição é a dedicação a um estudo sério e compenetrado; não pode ser aprendido por curiosidade ou brincadeira. O Espiritismo aborda todas as questões que interessam aos humanos, tem um campo imenso de ensinamentos e é nas conseqüências que deve ser mais bem examinado. Crer nos Espíritos não é suficiente para autoproclamar-se espírita esclarecido.

Quando se menciona a palavra ortodoxia, está-se referindo a um conceito pronto e acabado dentro dos seus fundamentos e da sua base. E é desse conceito que todo aquele que defende a ortodoxia Espírita se vale, seguindo a rota segura preconizada nas orientações e esclarecimentos apontados no CUEE (Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos).

É a partir desse conceito que todo Espírita deve buscar os meios de aprender e também ensinar. Que não se espante o Espírita com a palavra ensinar; não significa que se deva fazer do alto de uma cátedra ou de uma tribuna. Ensinar também é conversar, debater, trocar idéias, seja por explicações, seja por experiências. O desejo maior de todo aquele que queira ser um Espírita esclarecido e coerente com a doutrina é que o seu esforço alcance resultados, e é por isso que deve dar conselhos sempre proveitosos para os que queiram se instruir por si mesmos. Só assim esses encontrarão meios mais seguros de chegar ao seu objetivo: a evolução e o progresso do Espírito.

Há no meio Espírita, uma imensidão de espiritualistas. Mesmo sendo o Espírita um espiritualista de origem, aqueles não podem, ainda, serem considerados Espíritas, segundo os princípios da doutrina mencionados em O Livro dos Espíritos, Introdução, I -ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO -, pois que conservam os traços do apego aos rituais, aos sacramentos, à hierarquia ministerial e sacerdotal, aos avatares religiosos, às oferendas, ao misticismo e à idolatria a personagens espirituais, ainda que a Doutrina dos Espíritos esclareça a sua inconsistência para as coisas do Espírito.

Acredita-se que para se convencer alguém basta mostrar os fatos. E que esses fatos, sendo fundamentados com lógica e sustentados pelo crivo da razão, bastariam para demover ao mais ferrenho espiritualista. A experiência mostra que não é o melhor a se fazer, pois há pessoas a quem nem um argumento ou fundamentos bem sustentados são suficientes e não as convencem. Difícil saber por que isso acontece, porém é possível tecer algumas considerações explicativas que podem ser demonstradas.

Para o espiritualista-refratário, será em vão reunir todas as provas ou argumentos lógicos; ele contestará todas, porque não admite o Espiritismo, por si só. É preciso, antes de tudo, dar-lhe tempo de amadurecer os ensinamentos da Doutrina, para que possa compreender o desapego a que se acostumou durante sua vida.

Há o espiritualista-orgulhoso, e para esse não existem dúvidas, apenas a negação absoluta, à qual raciocina à sua maneira. A maioria deles teima com as suas opiniões apenas por orgulho, pois acredita, por amor-próprio, que são obrigados a persistir espiritualista. Persistem, apesar de todos os argumentos e provas lógicas contrários, porque não querem se rebaixar às evidências do raciocínio e da razão. Esses são os mais difíceis de convencer, pois muitas vezes, sob falsa aparência de sinceridade dizem: “concordo com a Doutrina, mas ela precisa se atualizar com as doutrinas milenares”. Há os que vaidosamente, como se francos fossem, dizem: “a Doutrina é limitada para a minha capacidade de compreensão”. Com essas pessoas não há nada a fazer, já que o orgulho e a vaidade sobrepõem-se ao Espiritismo.

Há, ainda, o espiritualista-indiferente. Até compreendem que são “espíritas” por indiferença, podendo-se até dizer que é “por falta de coisa melhor”. Não que sejam indiferentes de caso pensado, pois o que mais desejariam é crer integralmente e exclusivamente no Espiritismo como ele é, mas a indiferença para a leitura e para o estudo leva-os a seguirem o que lhes é apresentado. E esse é o que tem o contingente mais numeroso entre os “espíritas”.

O fato de alguém defender a ORTODOXIA (coerência) Espírita, não quer dizer que outra qualquer forma de crença deixe de ser válida afinal; cada um usa o seu conhecimento e a sua crença naquilo que mais o conforta e responde aos seus anseios de momento. Da mesma forma, não quer dizer que alguém que compreenda os fundamentos da DE e os defenda de qualquer inserção ou sincretismo de outra crença ou práticas que o Espiritismo esclarece que sejam desnecessárias para o crescimento e progresso do indivíduo, o torne um SER mais evoluído ou superior.

Todos nós estamos evoluindo e progredindo de alguma forma. Todos nós somos falíveis e deixamos transparecer, quando menos esperamos, as nossas fraquezas, notadamente as fraquezas morais.

No entanto, defender a pureza doutrinária do Espiritismo é buscar melhorar a nossa conduta como um todo. Alguns avançam, outros ainda têm um longo caminho pela frente, e nesse caminho está vencer a vaidade, o orgulho e a indiferença. Não quer dizer que sabendo quase tudo da DE em seus detalhes, que esse caminho já tenha sido percorrido.

E quanto a perceber comportamentos e posturas que não condizem com o conhecimento da Doutrina, não caberá a nós fazermos tais julgamentos de valor moral sobre ninguém, mesmo porque se estamos todos juntos, é para que possamos aprender uns com os outros.

O ideal é que cada um procure fazer a sua parte, sempre que possível. Se estivermos aptos a fazer uma análise de palavras ou escritos, que sejamos duros, porém comedidos na abordagem. Que tenhamos sempre argumentos e fundamentos que façam o outro compreender o seu erro. Somente com tolerância e paciência, mas, também, com palavras que não deixem margens a dúvidas, é que poderemos traçar um caminho mais proveitoso para todos nós seguidores do Espiritismo.

Não desistir e não desanimar. Todo trabalho para frutificar, necessita de uma boa aragem e uma boa semeadura. Muitas vezes, encontraremos intempéries morais para prejudicar nossa lavoura, mas devemos sempre persistir.

Fonte; NEFCA - NÚCLEO ESPÍRITA DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS APLICADAS


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