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quinta-feira, 3 de julho de 2014

PRELIMINAR DE TODO TRATAMENTO MAGNÉTICO

MAGNETISMO CLÁSSICO

Tradução de Lizarbe Gomes

LIVRO TERCEIRO DA DIREÇÃO DE UM TRATAMENTO MAGNÉTICO

CAPÍTULO I
PRELIMINAR DE TODO TRATAMENTO

É essencial, eu diria mesmo, indispensável fixar as horas das sessões e dizer ao doente que ela deve ser exata. Assim também o magnetizador, pois em caso de sonambulismo a inexatidão traz graves inconvenientes.

Ele irá considerar os hábitos do doente e do regime que lhe é ordinário; ele fará as modificações convenientes e recomendará a observação; a cada sessão ou de tempos em tempos, ele se informará dos resultados.

Ele prevenirá o doente que ele deve, tanto quanto possível ser assistido pela mesma testemunha e, sobretudo evitar apresentar como um crente ou homem impassível, um incrédulo ou um antagonista do magnetismo, explicando-lhe que a presença deste último poderia anular a ação ou a atenuar. E para que o doente seja atento a esta recomendação, ele não hesitará em lhe dizer que, em caso de infração da parte dele, ele será forçado a abandoná-lo. Tomadas estas precauções e depois de haver examinado a si mesmo como eu disse anteriormente, o magnetizador poderá passar ao tratamento.

CAPÍTUL0 II
DOS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREÇÃO

O fim invariável de um tratamento magnético é ajudar a natureza sem contrariá-la jamais. É preciso então apenas magnetizar nos casos úteis e necessários, ou seja, para aliviar ou curar.
Não se deve jamais procurar agir sobre a imaginação dos doentes e procurar produzir efeitos extraordinários; ao contrário, toda a atenção deve ser empregada em fiscalizar as crises que possa sobrevir e aproveitá-las.
É preciso ter e conservar uma grande calma e quando uma crise se manifesta, deixar o doente apenas quando ela tiver terminado e quando ele tiver voltado ao seu estado normal.

Quaisquer que sejam as opiniões concebidas sobre a maior ou menor utilidade dos procedimentos é indispensável fixar-se neles, após a experiência dos outros ou da sua mesmo, afim de não ter um só momento de medo ou de hesitação, para não embaraçar a si mesmo e para não perder um tempo precioso procurando quais são os procedimentos mais convenientes.

Deve-se empregar as forças gradualmente e não de imediato ao se começar. É preciso evitar magnetizar ao sair da mesa e durante o trabalho de digestão; assim como é bom não estar de jejum, afim de não se cansar ou de esgotar tão rápido. Nem durante a doença nem durante a convalescença é preciso magnetizar por tão longo tempo; as primeiras sessões devem ser de no máximo uma hora, as seguintes de três quartos de hora à meia hora.

Quase sempre é interessante tanto para o magnetizador como para o doente, não fazer mais de duas sessões por dia. De um lado, é preciso dar tempo ao magnetismo para produzir seus efeitos e, por outro lado, pela mesma razão, o operador se fatigaria inutilmente. No entanto, se é necessário sustentar uma crise, um movimento imprimido, o que acontece às vezes, obedece-se às circunstâncias seguindo as necessidades do doente e até que a crise termine.
Tem-se visto magnetizadores obrigados a sustentar uma crise durante três, quatro, cinco horas, por vezes por todo o dia e toda uma noite.

Não se deve começar um tratamento senão se está seguro de poder continuá-lo. É bastante perigoso interromper um tratamento iniciado ou de não sustentar uma crise que se tenha excitado e que a natureza não possa conduzir a seu fim sem ajuda do magnetismo. Eu falarei disso mais adiante.

CAPÍTULO III
DA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS GERAIS AOS CASOS PARTICULARES

Quando se vê que o magnetismo age, é preciso redobrar a atenção sem perder a calma que se tenha conservado para esperar seus efeitos; deve-se, sobretudo, evitar fazer esforços para aumentar aqueles os quais se acabou de obter, se perturbaria assim a marcha da natureza.
Se a magnetização colocou o doente num estado que não lhe é o comum, assim como as dores, os movimentos nervosos, a transpiração, os espasmos ou fortes cólicas e estes diversos sintomas se renovando durante várias sessões, não é preciso se preocupar; estes sintomas desaparecerão por si mesmos e às vezes antes do fim da sessão.

Acontece por vezes – estes casos são muito raros, mas é bom estar prevenido – que a primeira impressão do magnetismo produz uma crise acompanhada de movimentos convulsivos, enrijecimento dos membros, acessos de choro ou de riso; o magnetizador não deve se assustar ou se inquietar, mas agir em consequência. Assim ele se esforçará, através de palavras doces e benevolentes, mas também firmes e seguras, para inspirar a calma e a segurança ao doente; ele pegará os seus polegares por um momento e em seguida fará várias fricções longitudinais. Se as fricções excitam o doente em vez de acalmá-lo, se faz passes à distância; magnetiza-se em “grandes correntes” e a calma acaba por chegar.

Quando o caso se apresente por duas vezes seguidas, tomam-se as precauções para a terceira sessão; contenta-se apenas em pegar os polegares e, relação estabelecida, se magnetiza por passes longitudinais à distância. O doente permanecendo calmo, retorna-se pouco a pouco ao lugar que se ocupava e se tenta de novo os procedimentos necessários até que o doente termine por suportar a ação. (1)

É necessário não confundir os movimentos convulsivos que duram apenas por um momento com uma irritação nervosa que continua após a sessão e se prolonga de uma a outra deixando o magnetizado num estado de contínuo mal-estar. Quando se encontra estas pessoas que tem este gênero de suscetibilidade, é preciso usar com eles os procedimentos mais calmantes e agir de longe.

Se, depois de três ou quatro sessões, o mesmo efeito acontecer, deve-se colocar um dia de intervalo nas sessões seguintes; e se, ao fim de oito a dez dias, os mesmos sintomas se apresentem é preciso cessar, tirando do fato as consequências seguintes: o magnetizador ou o magnetismo não convém ao doente.
Para se assegurar, confia-se o doente a um outro magnetizador; se o mesmo fenômeno ocorre, substitui-se este magnetizador por um outro; pode-se mesmo tentar um terceiro, após o qual, não havendo mudança, se concluirá que o magnetismo não convém ao doente.
Finalmente, quaisquer que sejam as crises que sobrevenham no curso de um tratamento, não se assuste; se você não se perturbar, se permanecer calmo, nada pode acontecer e nada de desagradável acontecerá ao doente.

AUBIN GAUTHIER

(1) O Sr. Deleuze diz sobre o mesmo assunto: “o efeito sobre o qual acabei de falar (uma crise nervos no início de uma magnetização) é tão raro que o produzi por mim mesmo somente três ou quatro vezes em uma prática de trinta e cinco anos. Sei bem que aconteceu várias vezes e que teve consequências desagradáveis. Mas foi entre pessoas que magnetizavam para fazer experiências, para mostrar os fenômenos e não com a calma e a única intenção de fazer o bem. Eu teria apenas cuidado de anotar este efeito se eu já não tivesse visto recentemente um exemplo do qual vou dar conta para me fazer melhor entender, se bem que esta obra não seja destinada a relacionar estes fatos. Fui solicitado há alguns dias a dar uma lição a uma senhora que queria magnetizar sua filha, atingida por uma doença leve, mas forte e antiga e cuja causa se ignorava. Eu coloquei a mãe ao meu lado e, para lhe mostrar os procedimentos, magnetizava sua filha que não experimentou absolutamente nada.

A mãe disse-me que ela havia sido magnetizada uma vez e que sentiu a necessidade de fechar os olhos. Eu quis ver se eu agiria sobre ela. Depois de quatro ou cinco minutos de passes em “grandes correntes” e de aplicação da mão sobre o estômago, ela exclamou: “Ah! Que sensação agradável!” Um minuto depois ela teve um movimento convulsivo; os membros se enrijeceram; o pescoço inchou e ela levantou a cabeça para trás e deu um grito. Eu peguei os polegares; eu lhe repeti várias vezes com um tom imperativo; “Acalme-se”! Eu me afastei em seguida para magnetizar em “grandes correntes”; enfim, tentei fazer, sempre à distância, passes transversais para dispersar o fluido. Então sua expressão mudou, mas sobreveio um acesso de riso que durou alguns minutos. Tudo se acalmou pouco a pouco; ela me disse que se achava muito bem. Se eu tivesse chamado alguém para detê-la, se eu tivesse ficado assustado, se não tivesse acalmado a crise, é provável que a dama assim magnetizada teria ficado perturbada durante vários dias.”
(Instruções Práticas, 60 a 62)

Jornal Vórtice ANO II, n.º 10, março/2010


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