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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

PRECURSORES DO MAGNETISMO ANIMAL (Parte I)

Desde antes da Antiguidade Clássica, conhece o homem encarnado a energia que emana e permeia os seres vivos; cada cultura a ela se referiu por termos próprios (ki ou chi no Japão, por exemplo) e a utilizou por métodos particulares, quase sempre incorrendo a utilização das mãos para a interação desta energia entre doadores - aqueles que doavam as energias - e receptores - aqueles que recebiam as energias. Diante do conhecimento recebido da Doutrina Espírita, torna-se fácil imaginar que por meios mediúnicos diretos ou indiretos, tal método terapêutico foi revelado nalguma comunidade ancestral, talvez do oriente próximo, espalhando-se com as migrações para as outras regiões do globo.

Heinrich Cornelius Agrippa

Apesar do que há  acerca disto nas culturas orientais, não é deste que iremos tratar aqui, mas da tradição histórica ocidental acerca do conhecimento e emprego desta energia. Para agilizar os estudos, torna se confortável salientar o contexto de um tempo pela figura mais eminente que nele havia. Desta forma, pode-se destacar inicialmente o vulto de Agrippa (Heinrich Cornelius Agrippa Von Nettesheim. Encarnou em Colônia em 1486 e desencarnou em Grenoble em 1535). Era médico, filósofo, alquimista e cabalista cristão. Descendente de nobre família alemã de Nettesheim, Agrippa tornou-se doutor em Leis e Física; escreveu o livro Filosofia das Artes Ocultas, obra em três volumes, que o pós na mira da Santa Inquisição. Seus conceitos refletiam certas idéias dos filósofos da época, como a crença de que os elementos constitutivos do universo possuíam uma alma ou espírito. Também acreditava na relação e dependência de tais elementos: “O mundo é triplo, isto é, elementar, sideral e espiritual. Tudo que está mais básico é governado pelo que está mais alto e recebe dai a sua força. Assim, o arquiteto do Universo deixa o poder de sua onipotência fluir através do mineral, das plantas, dos animais e, dai para o homem...”.
Paracelso

Em seguida, podemos encontrar historicamente aquele que tornou-se o detentor direto de seu legado, o afamado Paracelso (do grego Para, acima, alem + Celso – Aulus Cornelius Celsus, médico e erudito grego (30a.C. - 38 d.C.); escreveu De Arte Médica, quadro preciso da medicina antiga e daquela praticada em seu tempo). Paracelso ou Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus Von Hohenheim encarnou em Einsiedein em 1493 e desencarnou em Salzburgo em 1541.
Alquimista suíço. Cursou a Universidade da Basileia e após partiu em viagem de 20 anos pela Europa e Ásia. Teria estudado ciências herméticas com Johames Trithemius, teólogo e ocultista alemão e tido aulas com Slomon Trismosin, alquimista autor da obra Splendor Sollis. Segundo Jean Baptiste Van Helmont, Paracelso teria sido iniciado nos segredos herméticos e alquímicos por um colégio de sábios de Constantinopla. Ele é mais lembrado hoje por ser o precursor da moderna quimioterapia, mais do que por seus estudos do magnetismo humano. Contudo, sua importância nesse sentido é inconteste, haja vista ter sido ele o formulador do vocábulo magnetismo. Para Paracelso, o magnetismo é a vida universal - tudo estaria vivo em graus diferentes e esta vida (magnetismo) presente em rochas, animais e plantas poderia ser transferida para o homem. Assim como seus contemporâneos, ele via o homem como “imãs animados”, e sua terapêutica compreendia o corpo humano como microcosmo refletindo o macrocosmo - o homem como espelho da totalidade. Para ele a ciência tinha a impostergável missão de libertar o homem dos males que o afligem.

Franz Anton Mesmer

Embora figuras-chave em seu tempo, Agrippa e Paracelso, não foram os únicos a se dedicar ao estudo do magnetismo animal, mas certamente os que mais se destacaram, tanto pelo volume de seu intelecto quanto pelas obras que deixaram. Homem semelhante surgiria apenas trezentos anos mais tarde, e este foi Franz Anton Mesmer, encarnado em Iznang, Sonabe em 1734 e desencarnado em Meersburg em 1815. Médico alemão, após mudar-se para Paris, ainda jovem redescobriu o magnetismo animal e adotou-o como remédio para todas as enfermidades. Seus pacientes eram, via de regra, mulheres neuróticas, algumas desequilibradas mentais e outras obsedadas; o tratamento fazia os pacientes caírem em convulsões acompanhadas de gritos, lágrimas, soluços e gargalhadas descontroladas, seguidas de prostração e estupor. Essas crises nervosas, desencadeadas pelos métodos pouco ortodoxos de Mesmer, levavam a cura. O mesmerismo correspondeu de imediato às idéias racionais do iluminismo francês da época, de tal conta que não era incomum referirem-se a ele como a “epidemia que ganhou toda a França’. O mesmerismo era discutido nas academias, salões e cafés, era investigado pela polícia, protegido pela rainha, ridicularizado no palco, satirizado em canções e caricaturas, praticado em sociedades secretas e divulgado em livros e folhetos. A despeito desta enorme popularidade, Mesmer escreveu: “O magnetismo ocupa todas as mentes. As pessoas estão aturdidas com seus prodígios, e se se permite ainda duvidar dos efeitos, não se ousa negar pelo menos a sua existência. O grande objeto das conversas da capital é sempre o magnetismo animal”. Mesmer sintetizou sua teoria do magnetismo animal em 27 proposições que publicou no final de sua obra Memoire sur la Découvert du Magnétisme Animal (Genebra, 1779), e as principais dentre elas podem ser assim resumidas: Há uma influência entre os corpos e os seres existentes; o meio pelo qual essa influência se propaga é um fluido universal sutil, contínuo e presente em toda criação; esse fluido sensibiliza a substância de que é composto os nervos do corpo físico afetando-o de imediato; o corpo do homem apresenta, à semelhança do imã, pólos opostos que podem ser manipulados direta e/ou indiretamente por esse fluido, cabendo-lhe portanto o termo de magnetismo animal; essa descoberta pode esclarecer e auxiliar nos estudos das ciências físicas como também causar a cura imediata de uma infinidade de doenças.
Marques de Puysègur

Mesmer possuía um discípulo que foi além nas experimentações e descobriu uma nova espécie de mesmerismo, este foi o Marques de Puysègur, ou A. M. J. Castenet, encarnado em Paris em 1751 e desencarnado em Buzancy em 1825. Pesquisador de fenômenos psíquicos, militar e filantropo, apaixonou-se pelas teorias do fluido magnético de Mesmer, descobrindo o que denominou Sonambulismo Magnético (ou Sonambulismo Mesmérico), o que veio a ser conhecido mais tarde como Hipnose. Puysègur seria o primeiro a reconhecer, durante o sonho hipnótico, autênticos fenômenos supranormais, tais como a telepatia, a autoscopia, o diagnóstico e a prescrição de uma terapêutica em estado sonambúlico e a comunicação com espíritos.
Barão Du Potet

Quando a Revolução Francesa tomou a Europa, o mesmerismo foi quase esquecido e o frenesi das ultimas décadas do século XVIII apagou-se quase por completo. Nas primeiras décadas do século XIX, contava ainda o magnetismo animal com praticantes, estudiosos e centenas de obras publicadas que esmiuçavam os fenômenos e as curas cada vez mais extraordinárias que se operavam. Não tardou, contudo, para que os detratores lançassem um contra-ataque que pôs em xeque a própria crença em sua existência. O Barão Du Potet - devido a pouca documentação disponível crê-se ter encarnado na França no ano de 1796 - então, em colaboração com médicos de destaque operou curas maravilhosas em duas ocasiões, o que trouxe nova luz ao magnetismo animal.
Estas apresentações despertaram o interesse de médicos ilustres, entre eles o famoso, à  época, Dr. Foissac que solicitou, em 1826, a Faculdade de Medicina da França, novos exames dos fenômenos. Junto de outros ilustres facultativos, formou-se uma comissão cujo relatório conclusivo só foi entregue a Faculdade em 1831, ou seja, cinco anos de muitos estudos após.
O Dr. Foissac escreveu de forma concludente no relatório:”Considerando o magnetismo como agente de fenômenos fisiológicos ou como elemento terapêutico, é
nossa opinião que deveria entrar no quadro do ensino da medicina e ser empregado, exclusivamente, por médicos ou, sob sua orientação, por especialistas comprovados.”
De forma que esta opinião se encontrava contrária as convicções pré-concebidas da direção da Faculdade de Medicina, este lhes mandou em prepotente resposta: “Não duvidamos da boa fé dos comissionados; contudo cremos que foram vitimas de várias habilidades...”. Tal reação gerou descrédito na Faculdade de Medicina da França e na Academia de Ciências de Paris, que comungava com tal opinião acerca do magnetismo animal.
Du Potet, contudo, não deixou-se intimidar e juntamente com médicos ilustres que acreditavam no magnetismo animal, prosseguiu com os experimentos e curas. Ao tomar posse do Instituto de Cultura de Paris, ele proferiu entusiástico discurso onde se podem destacar os seguintes trechos: “(...)Todos vós recordais, certamente, da grande querela que se promoveu em 1778, quando Mesmer chegou a Paris e enunciou ao mundo o seu sistema.
A maior parte dos sábios da época tomou parte no litígio; as Academias de Ciências e de Medicina receberam o encargo de examinar o que Mesmer pretendia ter descoberto e de informar ao governo e ao mundo sobre as aplicações do mesmerismo ao tratamento das doenças: Bailly, Lavoisier, Franklin, Jusieu e outros sábios ilustres tomaram, a seu cargo, esta missão; e a que resultado chegaram? Vós conheceis, senhores, o juízo que esta comissão emitiu sobre o magnetismo animal. Examinou primeiro o sistema de Mesmer, em todos os seus detalhes, e achando-o pouco sólido, argumentou contra ele. Esses argumentos ficaram, porém, sem réplica e, desde então o sistema de Mesmer se foi desmoronando pouco a pouco.(...) Com o tempo, tornou, porém, a reaparecer a verdade entre nós e a França viu-se, pela segunda vez agitada de norte a sul pelo magnetismo animal. Por essa altura - É certo - o entusiasmo não foi tamanho; mas foi, em compensação, muito mais ponderado e científico. (...) Apesar de tudo isso, a maioria dos sábios, certamente receando as condenações do passado, permaneceram indiferentes à eloquência dos fatos. Atidos a opinião dos seus antepassados, limitaram-se a servir-se dela como de um escudo de aço e procederam assim porque se tratava de uma arma forjada por homens notáveis, por homens de reputação verdadeiramente universal. Mas, senhores, que pode a autoridade dos homens contra a realidade dos fatos? (...) Eu não duvido, senhores, que vós acolheríeis a verdade logo que ela se vos apresente claramente demonstrada; (...) Vou explicar-me com maior clareza: se os numerosos fenômenos de que fui investigador e testemunha durante longo tempo não me enganaram, eles devem proporcionar a prova incontroversa de que o nosso cérebro pode dispor de uma força que ainda não foi dimensionada e que, dirigida pela vontade sobre um individuo organizado como nós, pode produzir na sua organização fenômenos que não se manifestam senão quando a causa se põe em jogo e cessam tão depressa como ela deixa de agir. (...) Se justifico o que afirmo e vós comprovais o que demonstro, abriremos um novo caminho aos observadores e acharemos explicação natural de numerosos fenômenos que já não se podem negar, mas que se consideram, não se sabe porque, como produto de causas inteiramente acidentais.(...) Este exame não exige de vós, senhores, nem o abandono de vossas crenças, nem a renúncia de nenhuma de vossas opiniões nem o sacrifício da vossa razão; não exige outra coisa que não seja um migalinho de tempo e um pouco de boa-vontade. Podereis recusar-me o que vos peço?”
O convite do Barão Du Potet dividiu a opinião dos acadêmicos gerando uma das maiores discussões científicas de que se tem registro no século XIX. Amainados os ânimos, uma erudita comissão investigadora foi formada, dando origem a um relatório admirável que alicerçava cientificamente o magnetismo animal e, certamente por isto foi, talvez criminosamente, mantido secreto. Três meses de espera mais tarde, o Barão fatigou-se e foi atender aos inumeráveis pedidos para lecionar em diversas cidades francesas.
Ainda na primeira metade do século XIX, muitos foram os pesquisadores que deram continuidade ao legado de Du Potet e seus predecessores; estudiosos como Aubin Gauthier, Dr. J. W. Teste, La Fontaine, Alphonse Cahagnet - este último, de cuja obra intitulada Magia Magnética encontra-se o seguinte: “Escolher uma nuvem bem isolada das outras, antes perpendicular do que oblíqua ao operador, e de diâmetro de um a dois metros.
Coloca-se contra a direção que segue ou acioná-la neste sentido. Fixar esta nuvem, juntar as mãos com as pontas dos dedos voltadas para o centro ou seus limites, conforme o ponto que se quer atacá-la. Concentrar fortemente o pensamento sobre esta ação, desejando dissolver a nuvem, dividi-la, fazê-la dispersar-se. Fazer essa experiência em pleno campo e não em lugar próximo a edifícios. Três ou cinco minutos bastam para levar a operação a termo.” - Cahagnet é considerado um dos precursores do magnetismo espiritualista devido aos experimentos realizados com a médium Adeile Maginot, que notavelmente anteciparam os estudos de Allan Kardec.
Barão Karl Von Reichenbach

Em 1854, o Barão Karl Von Reichenbach (encarnado em 1788, desencarnado em 1869), químico famoso, descobridor do creosoto e da parafina pôs-se a pesquisar as pessoas que se afirmavam possuidoras de poderes psíquicos.
Dez anos mais tarde, seus estudos resultaram na obra Pesquisa Sobre Magnetismo, Eletricidade, Luz, Cristalização e Sua Relação Com a Força Vital, onde afirma ter descoberto a Força Ódica, ou apenas ODILE. O ODILE, afirma, é uma propriedade universal da matéria; os homens são recipientes de ODILE e são iluminados por essa força em especial na fronte. A Força Ódica é polarizada em positivo e negativo, sendo o primeiro capaz de criar uma luminosidade azul e o segundo uma luminosidade amarela-avermelhada.
Desacreditado e ridicularizado em seu tempo, Reichenbach encontraria o respeito apenas cerca de cem anos após sua morte, com o início dos estudos da aura humana e dos campos vitais. Diante das perspectivas abertas por ele, o químico norte-americano George Starr tornou-se o introdutor moderno da cultura cosmo-elétrica em seu país, afirmando ser capaz de aumentar e acelerar o crescimento de plantas, flores, frutas e alimentos de origem vegetal através de um método de energização, que retornaria em benefícios ao ser humano.
Posteriormente, o Dr. L. E. Herman, cientista inglês, afirmou após estudos da energia curativa da natureza que esta é polarizada, como afirmara o Barão Reichenbach, sustentando ainda que o pólo direito do corpo é positivo, e o esquerdo é negativo. Ele conseguiu manipular tal energia segurando objetos nas mãos como a fechar um circuito, o que, aplicado as pessoas, desencadeava relaxamento.
Allan Kardec

No mesmo ano a que o Barão Reichenbach dera início a seus estudos, o professor francês Hippolyte Leon Denizard Rivail - vulgo Allan Kardec (encarnado em 3 de outubro de 1804, desencarnado em 31 de março de 1869), pedagogo ilustre punha-se a estudar os segredos do magnetismo, que conhecia desde 1820. Em 1858 escreveu que o magnetismo preparou o caminho da Doutrina Espírita e, o rápido progresso desta se fez graças à vulgarização das idéias da primeira. Dos fatos e fenômenos magnéticos as manifestações espíritas há apenas um passo. Acerca do magnetismo, Kardec concluiu que: o corpo e o perispírito (envoltório semimaterial do espírito) são transformações do fluido universal; estando este fluido condensado no perispírito pode reparar o corpo; o agente desencadeador é a vontade do espírito encarnado ou desencarnado que infiltra num corpo deteriorado ou enfermo parte de seu envoltório fluídico; a cura depende da pureza deste fluido e da força de vontade do agente emissor (espírito); os efeitos da ação fluídica são variados, podendo esta ação ser lenta e continua ou mesmo rápida, ou ainda instantânea, como se dera com Jesus; a ação magnética pode se produzir de três modos principais: 1º pelo próprio fluido do magnetizador (este é o magnetismo aplicado em seu modo primitivo, como o entendiam a época de Mesmer); 2º pelo fluido do espírito desencarnado, sem concurso de um magnetizador encarnado; 3º pela ação conjunta do espírito desencarnado e do magnetizador encarnado. Kardec acrescentou ainda que a faculdade de curar por influência fluídica é comum e pode ser desenvolvida por exercício, o que veio desmistificar o magnetismo como habilidade milagrosa de poucos eleitos.
Continua.....
Apostila: O Magnetismo Animal Seus Precursores e Fenômenos Correlatos
Associação Jauense de Estudos Espíritas
Fonte; http://www.batuiranet.com.br/

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