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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ORGULHO


Traduzido do termo francês orgueil, do Dictionnaire Encyclopédique de la Bible A. Westphal, por Viviane Ribeiro, para o GEAK.

O Antigo Testamento retorna sem cessar ao orgulho e usa nada menos do que doze palavras para designá-lo. Vê-se por isso que ele lhe atribui uma importância capital e conhece sua complexidade.
O orgulho é um amor desregrado de si mesmo; é o estado de um homem que se basta, que se admira em suas obras, vê em si qualidades que não tem e empenha-se para que os outros compartilhem da opinião que tem de si mesmo. Murray disse: “A humildade não é somente uma virtude entre outras, mas sim a raiz de toda as virtudes”; pode-se dizer o mesmo do orgulho, que não é apenas um vício entre outros, mas sim a raiz de todos os vícios. A humildade exala um perfume que dá valor a todas as virtudes; o orgulho carrega em si um fermento que faz eclodir todos os vícios. A inveja, é o orgulho que não pode tirar partido das vantagens de outrem; a cólera nos mostra o orgulho reagindo contra o que lhe resiste; o ciúme nasce da insuportável impressão produzida sobre o orgulho por uma superioridade que se impõe; a própria mentira é muito frequentemente o orgulho que se cobre e se mascara, esperando por seu falso rosto obter a estima que ele não merece. Observou-se que ninguém gosta tanto de alardear a sua humildade e as exigências de sua consciência quanto o orgulhoso.

Este alarde, que entra em contradição com a sua atitude altaneira e suas mesquinhas intenções acarretou para os fariseus a interpelação de Jesus: “Hipócritas (ou atores), vós expressais fisionomias pesadas, vós vos preparais rostos extenuados pelo jejum... Vós limpais o exterior do copo e do prato... Vós pagais o dízimo da menta, do endro e do cominho e deixais de lado o que há de mais importante na lei: a justiça, a misericórdia, a boa fé, o amor a Deus” (Mt 6 e Mt 23).

“O orgulho, diz La Rochefoucauld, nunca é melhor disfarçado e mais capaz de enganar do que quando ele se esconde sob a figura da humildade.”
Vê-se os estragos que o orgulho causa na vida moral. Na vida religiosa, em que a humildade é a introdutora da graça, os efeitos do orgulho são ainda mais temíveis. Ele é para a alma aquilo que a lepra é para o corpo, ele enfeia, corrói, mata e é por isso que se encontram homens que, no início de sua carreira cristã, exerciam, por seu entusiasmo, uma verdadeira atração, mas que, ao viver uma situação em que o orgulho espreita as almas inseguras, perderam pouco a pouco suas qualidades espirituais e até mesmo a chama de seu olhar.

Após estas observações gerais, poderemos compreender o papel que o orgulho desempenha na Bíblia e a insistência com que ela procura prevenir os crentes contra o orgulho. Desde as suas primeiras páginas, ela nos adverte que a habilidade do infernal sugestor foi ter semeado de orgulho o coração virgem do primeiro casal humano : “Sereis como deuses!” Quando o orgulho brotou, ele produziu a ganância; ela provocou a desobediência e o homem foi expulso do Paraíso (Gen 3). Em todo o seu esforço para salvar a humanidade perdida, Deus se choca contra o orgulho. Profetas, salmistas e sábios denunciam o orgulho como o companheiro da maldade (Jó 20:6 35:12, Sl 31:19 73:6 119:51 123:4, Pv 21:24) e da estupidez (Pv 14:3, Sl 59:13); eles lhe atribuem, como consequências, a vergonha, a humilhação, as divisões, a efusão do sangue, a ruina (Pv 11:2 29:23 13:10 16:18) ; eles proclamam que Deus o odeia (2Rs 19:28, Is 37:29, Pv 8:13 16:5, Am 6:8) e dele se vingará (Deut 17:12 e seguintes, Sl 119:21 31:24, cf. Sl 94:2 119:78,122, Is 13:11 2:12, Os 7:10, Jer 13:9-17, Ez 7:10,24 16:56 etc.). Pode-se sentir que para os profetas, todo o destino do homem e em particular do povo eleito está em jogo entre os dois polos: humildade e orgulho.

Os Apócrifos dão também um grande destaque ao orgulho (cf. 2Mac 5:21 9:7,1115:6,Tob 4:13, Sab 5:8, Sir1 13:20 15:8 etc.). Sir 10 encerra uma tocante descrição do orgulho que parece ter inspirado uma passagem do Magnificat (cf. Sir 10:14 e seguintes e
Lc 15:1 e seguintes). Jesus, por sua atitude a respeito dos fariseus sanciona a revelação do Antigo Testamento. Seu discurso, em Mt 23, não é senão um requisitório, e dos mais ardentes, contra os pecados do orgulho. O orgulho dos fariseus os impediu de ir ao
batismo de João Batista, por isso diz Jesus, “eles tornaram inútil o desígnio de Deus em relação a eles” (Lc 7:30, cf. Lc 15:1). O orgulho sugere ao homem enfermo que ele está bem de saúde, ao pecador que ele é justo; Jesus declara: “Aqueles que têm boa saúde não precisam de médicos mas sim aqueles que estão doentes. Eu não vim chamar os justos mas sim os pecadores.” (Mc 2:13-17). A parábola do fariseu e do publicano é o texto clássico desta questão: (Lc 18:9-14) “Oh Deus, eu te rendo graças por não ser como o resto dos homens.”
Aquele cujo orgulho chega a este ponto, não tem próximo. Ele está distante demais para compadecer-se com a dor dos outros, não espereis que ele admita ou ceda: se ele confessasse ser falível, ele se diminuiria. O orgulho instala o coração na atmosfera das resistências. O orgulho é o grande isolante. Se ele nos isola dos outros, como ele não nos isolaria de Deus de quem só podemos nos aproximar através da atmosfera da graça.
“Aquele que se eleva será rebaixado.”

Os apóstolos usam, para este ponto, a mesma linguagem do A. T. e Jesus. Tiago e Pedro, citando Pv 3:34 segundo os LXX, concordam em dizer: “Deus resiste aos orgulhosos, mas ele dá sua graça aos humildes.” (Tg 4:6,1Pe 5:5). João, referindo-se ao relato da queda (Gen 3:6), escreve: “A cupidez da carne, a cupidez dos olhos e o orgulho da vida não vêm do Pai mas do mundo, ora, o mundo passa...” (1Jo 2:16 e seguinte). Já se podia esperar que Paulo, o apóstolo da graça, fosse implacável contra o orgulho (Rom 1:30, 2Tim 3:2 e seguintes, cf. 1Tim 6:4, 1Cor 5:2, 2Cor 12:20, Rom 11:20, 1Tim 6:17) e colocasse aos ministros do Evangelho o dever de se manter longe dele (1Tim 3:6, Tt 1:7).Ver Humildade. Alex. W.

1 Eclesiástico ou Sirácida (Não confundir Eclesiástico com Eclesiaste)

Fonte; Geak - Grupo de Estudos Allan Kardec



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http://espiritaespiritismoberg.blogspot.com.br/2012/12/como-podemos-interpretar-frase-de-jesus.html

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O MUNDO ESPIRITUAL

Terezinha Colle

Uma abordagem segundo a Doutrina Espírita

Não sabeis também que alguns Espíritos se comprazem emconservar os homens na ignorância, aparentando instruí-los, e que aproveitam da facilidade com que suas palavras são acreditadas? Podem seduzir os que não descem ao fundo das coisas; mas, quando pelo raciocínio são levados à parede, não sustentam por muito tempo o papel."
O Espírito de Verdade.1

      O que será de mim após a morte? Essa pergunta inquieta muitas pessoas, e as
respostas variam conforme as crenças.
    Ao deixarmos o corpo físico iremos para o inferno? Para o céu, ou paraíso? Para o purgatório? Ou será que, segundo certas crenças, alguma cidade cercada por altas muralhas abrirá seus portões a fim de que ali fiquemos protegidos dos maus Espíritos?
    Vejamos o que diz o Espiritismo sobre esse assunto. Apenas reproduziremos aqui os textos que extraímos das obras de Kardec, colocando-os numa ordem que julgamos nos levar à compreensão desse tema tão discutido, mas pouco conhecido mesmo dos espíritas.
     Após cada texto consta a referência bibliográfica, para aqueles que desejam
aprofundar o tema.
    Comecemos por compreender nossa situação como Espíritos e como homens. Segundo 
a Ciência Espírita, não somos um corpo carnal que tem um Espírito: somos um Espírito temporariamente revestido de um corpo físico, com o objetivo de progredir.

Somos Espíritos imortais no corpo, ou fora dele

     Que definição se pode dar dos Espíritos?
“Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o
Universo, fora o mundo material.” 2
     Os Espíritos constituem um mundo à parte, fora daquele que vemos?
     “Sim, o mundo dos Espíritos, ou das inteligências incorpóreas.”3

     Que é a alma?
     “Um Espírito encarnado.”
     a) - Que era a alma antes de se unir ao corpo?
     “Espírito.”
     b) - As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?
     “Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um envoltório carnal para se purificarem e esclarecerem.”4
     Que sucede à alma no instante da morte?
     “Volta a ser Espírito, isto é, volve ao mundo dos Espíritos, donde se apartara
momentaneamente.”5
     “O homem é composto do corpo e do Espírito; o Espírito é o ser principal, o ser
racional, o ser inteligente; o corpo é o envoltório material que reveste temporariamente o        Espírito, para o cumprimento de sua missão na Terra e a execução do trabalho necessário a seu adiantamento. O corpo, usado, destrói-se, e o Espírito sobrevive à sua destruição. Sem o Espírito, o corpo é apenas uma matéria inerte, como um instrumento privado do braço que o faz agir; sem o corpo, o Espírito é tudo: a vida e a inteligência.Deixando o corpo, ele retorna ao mundo espiritual de onde havia saído para encarnar.
   Existem, pois, o mundo corporal, composto de Espíritos encarnados, e o mundo espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal, devido mesmo à materialidade do seu envoltório, estão ligados à Terra ou a um globo qualquer; o mundo espiritual está por toda parte, em torno de nós e no Espaço; nenhum limite lhe é fixado. Em razão da natureza fluídica do seu envoltório, os seres que o compõem, em vez de se arrastarem penosamente sobre o solo, transpõem as distâncias com a rapidez do pensamento. A morte do corpo é a ruptura dos laços que os retinham cativos.”6
    “A morte é apenas a destruição do envoltório corporal, que a alma abandona, como o faz a borboleta com a crisálida, conservando porém seu corpo fluídico ou perispírito.
    A morte do corpo desembaraça o Espírito do laço que o prendia à Terra e o fazia sofrer; e uma vez libertado desse fardo, não lhe resta mais que o seu corpo etéreo, que lhe permite percorrer o espaço e transpor as distâncias com a rapidez do pensamento.”7

No mundo espiritual o poder é confiado aos Bons Espíritos

       Da existência de diferentes ordens de Espíritos, resulta para estes alguma
hierarquia de poderes? Há entre eles subordinação e autoridade?
     Muito grande. Os Espíritos têm uns sobre os outros a autoridade correspondente ao grau de superioridade que hajam alcançado, autoridade que eles exercem por um ascendente moral irresistível.”
      a) Podem os Espíritos inferiores subtrair-se à autoridade dos que lhes são
superiores?
     “Eu disse: irresistível.”
     O poder e a consideração de que um homem gozou na Terra lhe dão supremacia no mundo dos Espíritos?
     “Não; pois que os pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. Lê os
Salmos.”
a) Como devemos entender essa elevação e esse rebaixamento?
     “Não sabes que os Espíritos são de diferentes ordens, conforme seus méritos?
Pois bem, o maior da Terra pode pertencer à última categoria entre os Espíritos, ao passo que o seu servo pode estar na primeira. Compreendes isto? Não disse Jesus: Aquele que se humilhar será exalçado e aquele que se exalçar será humilhado?”
     Aquele que foi grande na Terra e que, como Espírito, vem a achar-se entre os de ordem inferior, experimenta com isso alguma humilhação?
     “Às vezes bem grande, mormente se era orgulhoso e invejoso.”
   O soldado que depois da batalha se encontra com o seu general, no mundo dos Espíritos, ainda o tem por seu superior?
     “O título nada vale, a superioridade real é que tem valor.”8
      Os Espíritos das diferentes ordens se acham misturados uns com os outros?
     “Sim e não. Quer dizer: eles se veem, mas se distinguem uns dos outros. Evitamse ou se aproximam, conforme à simpatia ou à antipatia que reciprocamente uns inspiram aos outros, tal qual sucede entre vós. Constituem um mundo do qual o vosso é pálido reflexo. Os da mesma categoria se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam: os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre os que se lhes assemelham.” 
     Tal uma grande cidade onde os homens de todas as classes e de todas as condições se veem e encontram, sem se confundirem; onde as sociedades se formam pela analogia dos gostos; onde a virtude e o vício se acotovelam, sem trocarem palavra.9

Penas e gozos da alma depois da morte

     Têm alguma coisa de material as penas e gozos da alma depois da morte?
     “Não podem ser materiais, diz o bom-senso, pois a alma não é matéria. Nada têm de carnal essas penas e gozos; entretanto, são mil vezes mais vivos do que os que experimentais na Terra, porque o Espírito, uma vez liberto, é mais impressionável. Então, já a matéria não lhe embota as sensações.” (237 a 257)
      Por que das penas e gozos da vida futura faz o homem, muitas vezes, tão
grosseira e absurda ideia?
     “Inteligência que ainda não se desenvolveu suficientemente. Compreende a criança as coisas como o adulto? Isso, ao demais, depende também do que se lhe ensinou: aí é que há necessidade de uma reforma.
    “Muito incompleta é a vossa linguagem para exprimir o que está fora de vós. Tevese então que recorrer a comparações e tomaste como realidade as imagens e figuras que serviram para essas comparações. À medida, porém, que o homem se instrui, melhor vai compreendendo o que a sua linguagem não pode exprimir.”
     Em que consistem os sofrimentos dos Espíritos inferiores?
   “São tão variados como as causas que os determinaram, e proporcionais ao grau de inferioridade, como os gozos o são ao de superioridade. Podem resumir-se assim: invejarem o que lhes falta para ser felizes e não o obterem; verem a felicidade e não a poderem alcançar; pesar, ciúme, raiva, desesperança quanto ao que os impede de ser ditosos; remorsos, ansiedade moral indefinível. Desejam todos os gozos e não os podem satisfazer: eis o que os tortura.”10

Os Espíritos não ocupam uma região circunscrita, nem localizada

      Ocupam os Espíritos uma região determinada e circunscrita no espaço?
    "O Espíritos estão por toda parte. Povoam infinitamente os espaços infinitos. Vós os tendes de contínuo a vosso lado, observando-vos e sobre vós atuando, sem o perceberdes, pois os Espíritos são uma das potências da Natureza e os instrumentos de que Deus se serve para a execução de seus desígnios providenciais. Nem todos, porém, vão a toda parte, pois há regiões interditas aos menos adiantados."11
    “A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas apropriadas ao seu adiantamento.
   Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus também podem referir-se ao estado feliz ou infeliz do Espírito na erraticidade. Conforme se ache este mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais, o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, as sensações que experimente, as percepções que tenha variarão ao infinito. Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos; enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados gozam de resplendente claridade e do espetáculo sublime do infinito; finalmente, enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob o rigor dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a quem ama, frui as delícias de uma felicidade indizível. Também nisso, portanto, há muitas moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.”12
      Haverá no Universo um lugar circunscrito para as penas e gozos dos Espíritos,
segundo seus méritos?
   Já respondemos a essa questão. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua própria felicidade ou infelicidade. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito nem fechado existe especialmente destinado a uma ou outra coisa. Quanto aos Espíritos encarnados, eles são mais ou menos felizes ou infelizes, conforme seja mais ou menos adiantado o mundo em que habitam.”
    a) De acordo, então, com o que vindes de dizer, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina?
    “São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e desditosos.
Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia; mas podem reunir-se onde queiram, quando são perfeitos.”
     A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na
imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender.
     Que se deve entender por purgatório?
“Dores físicas e morais: o tempo da expiação. Quase sempre, na Terra é que fazeis o vosso purgatório e que Deus vos obriga a expiar as vossas faltas.”
      O que o homem chama purgatório é igualmente uma alegoria, devendo-se
entender como tal, não um lugar determinado, porém o estado dos Espíritos imperfeitos que se acham em expiação até alcançarem a purificação completa, que os levará à categoria dos Espíritos bem-aventurados. Operando-se essa purificação por meio das diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corporal. 
     Como se explica que Espíritos, cuja superioridade se revela na linguagem de que usam, tenham respondido a pessoas muito sérias, a respeito do inferno e do purgatório, de conformidade com as ideias correntes?
   “É que falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que os interrogam. Quando estas se mostram imbuídas de certas ideias, eles evitam chocá-las muito bruscamente, a fim de lhes não ferir as convicções. Se um Espírito dissesse a um muçulmano, sem precauções oratórias, que Maomé não foi profeta, seria muito mal acolhido.”
     a) Concebe-se que assim procedam os Espíritos que nos querem instruir. Como, porém, se explica que, interrogados acerca da situação em que se achavam, alguns Espíritos tenham respondido que sofriam as torturas do inferno ou do purgatório?
  “Quando são inferiores e ainda não completamente desmaterializados, os Espíritos conservam uma parte de suas ideias terrenas e, para dar suas impressões, se servem dos termos que lhes são familiares. Acham-se num meio que só imperfeitamente lhes permite sondar o futuro. Essa a causa de alguns Espíritos errantes, ou recémdesencarnados, falarem como o fariam se estivessem encarnados. Inferno se pode traduzir por uma vida de provações, extremamente dolorosa, com a incerteza de haver outra melhor; purgatório, por uma vida também de provações, mas com a consciência de melhor futuro. Quando experimentas uma grande dor, não costumas dizer que sofres como um danado? Tudo isso são apenas palavras, e sempre ditas em sentido figurado.”13


Como se realizam as penas e gozos dos Espíritos?

       Haverá no Universo lugares circunscritos para as penas e gozos dos Espíritos,
segundo seu merecimento? 
    “Já respondemos a essa pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado existe especialmente destinado a uma ou outra coisa. Quanto aos encarnados, esses são mais ou menos felizes ou desgraçados, conforme seja mais ou menos adiantado o mundo em que habitam.”
      a) De acordo, então, com o que vindes de dizer, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina?
      “São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e desditosos.
Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia; mas podem reunir-se onde queiram, quando são perfeitos.”
A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender.14
      Em que sentido se deve entender a palavra céu?
“Julgas que seja um lugar, como os Campos Elíseos dos Antigos, onde todos os Espíritos bons estão promiscuamente aglomerados, sem outra preocupação que a de gozar, pela eternidade toda, de uma felicidade passiva? Não; é o espaço universal; são os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores, onde os Espíritos gozam plenamente de suas faculdades, sem as tribulações da vida material, nem as angústias peculiares à inferioridade.”
      Alguns Espíritos disseram estar habitando o quarto, o quinto céus, etc. Que
queriam dizer com isso?
    “Se lhes perguntais que céu habitam, é que formais ideia de muitos céus dispostos como os andares de uma casa. Eles, então, respondem de acordo com a vossa linguagem. Mas por estas palavras quarto e quinto céus exprimem diferentes graus de purificação e, por conseguinte, de felicidade. É exatamente como quando se pergunta a um Espírito se está no inferno. Se for infeliz, dirá sim, porque, para ele, inferno é sinônimo de sofrimento. Sabe, porém, muito bem que não é uma fornalha. Um pagão diria estar no Tártaro.”
      O mesmo ocorre com outras expressões análogas, tais como: cidade das flores, cidade dos eleitos, primeira, segunda ou terceira esfera, etc., que apenas são alegorias usadas por alguns Espíritos, quer como figuras, quer, algumas vezes, por ignorância da realidade das coisas, e até das mais simples noções científicas.
    De acordo com a ideia restrita que se fazia outrora dos lugares das penas e das recompensas e, sobretudo, de acordo com a opinião de que a Terra era o centro do Universo, de que o firmamento formava uma abóbada e que havia uma região das estrelas, o céu era situado no alto e o inferno em baixo. Daí as expressões: subir ao céu, estar no mais alto dos céus, ser precipitado nos infernos. Hoje, que a Ciência demonstrou ser a Terra apenas, entre tantos milhões de outros, uns dos menores mundos, sem importância especial; que traçou a história da sua formação e lhe descreveu a constituição; que provou ser infinito o espaço, não haver alto nem baixo no Universo,   teve-se que renunciar a situar o céu acima das nuvens e o inferno nos lugares inferiores. Quanto ao purgatório, nenhum lugar lhe fora designado. Estava reservado ao Espiritismo dar de tudo isso a explicação mais racional, mais grandiosa e, ao mesmo tempo, mais consoladora para a humanidade. Pode-se assim dizer que trazemos em nós mesmos o nosso inferno e o nosso paraíso. O purgatório, achamo-lo na encarnação, nas vidas corporais ou físicas.15

     “Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas com aptidão para tudo adquirir e a progredir, em virtude do seu livre-arbítrio. Pelo progresso adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções e, por conseguinte, novos gozos desconhecidos dos Espíritos inferiores; eles veem, ouvem, sentem e compreendem o que os Espíritos atrasados não podem ver, ouvir, sentir, nem compreender. A felicidade está na razão do progresso realizado, de sorte que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto outro, unicamente por não porque não é tão avançado intelectual e moralmente, sem que por isso precisem estar cada qual em um lugar distinto. Ainda que estejam um ao lado do outro, um pode estar nas trevas, enquanto que tudo é resplandecente em torno do outro, tal como um vidente e um cego que se dão as mãos; um percebe a luz, que não causa nenhuma impressão sobre seu vizinho. Sendo a felicidade dos Espíritos inerente às qualidades que eles possuem, haurem-na eles em toda parte em que a encontrem, na superfície da Terra, no meio dos encarnados ou no Espaço. 
    Uma comparação vulgar fará compreender melhor ainda esta situação. Se, num concerto, encontrem-se dois homens, um, bom músico, de ouvido educado, outro, sem nenhum conhecimento da música e de sentido auditivo pouco delicado, o primeiro experimentará uma sensação de felicidade, enquanto o segundo fica insensível, porque um compreende e percebe o que nenhuma impressão produz no outro. Assim é com todos os gozos dos Espíritos, que estão na razão da sua sensibilidade.
     O mundo espiritual tem esplendores por toda parte, harmonias e sensações que os Espíritos inferiores, ainda submetidos à influência da matéria, nem sequer entreveem, e que somente são acessíveis aos Espíritos depurados.16

Um exemplo prático - Lincoln e o seu matador.
(Extraído do banner of light, de Boston)

Análise de uma comunicação de Abraão Lincoln, obtida pelo médium de Ravenswood.

     “Quando Lincoln voltou de seu atordoamento e despertou no mundo dos Espíritos, ele ficou muito surpreso e perturbado, porque não tinha a menor ideia de que estivesse morto. O tiro que o feriu havia suspendido instantaneamente toda sensação e ele não compreendeu o que lhe havia acontecido. Essa confusão e essa perturbação, contudo, não duraram muito. Ele era bastante espiritualista para compreender o que é a morte e não ficou, como muitos outros, admirado da nova existência para a qual fora transportado. Ele se viu cercado por muitas pessoas que ele sabia que estavam mortas há muito tempo, e logo soube a causa de sua morte. Foi recebido cordialmente por muitas pessoas que com ele simpatizavam. Compreendeu sua afeição por ele e, num olhar, pôde abarcar o mundo feliz no qual tinha entrado.
    “No mesmo instante experimentou um sentimento de angústia pela dor que devia experimentar sua família, e uma grande ansiedade a propósito das consequências que sua morte poderia ter para o país. Esses pensamentos o trouxeram violentamente de volta à Terra.
     “Tendo sabido que William Booth estava mortalmente ferido, veio a ele e curvou-se sobre o seu leito de morte. Nesse momento Lincoln tinha recuperado a perfeita consciência e a tranquilidade de Espírito, e esperou com calma o despertar de Booth para a vida espiritual.
       “Booth não ficou espantado ao despertar, porque esperava a morte. O primeiro
Espírito que encontrou foi Lincoln; olhou-o com muita afoiteza, como se se gabasse do ato que havia praticado. O sentimento de Lincoln a seu respeito, entretanto, não testemunhava nenhuma ideia de vingança, muito ao contrário, mostrava-se suave e bom e sem a menor animosidade. Booth não pôde suportar esse estado de coisas e o deixou cheio de emoção.
     “O ato que ele perpetrou teve vários móveis; primeiro, sua falta de raciocínio, que lho fazia considerar como meritório, depois, seu amor desregrado por louvores o tinha persuadido que ele seria cumulado de elogios e visto como um mártir. 
     “Depois de ter vagado, sentiu-se de novo atraído para Lincoln. Às vezes enche-se de arrependimento, outras vezes seu orgulho o impede de emendar-se. Entretanto, compreende quanto o seu orgulho é vão, sabendo sobretudo que não pode esconder, como em vida, nenhum dos sentimentos que o agitam, e que seus pensamentos de orgulho, de vergonha ou de remorso são conhecidos dos que o rodeiam. Sempre em presença de sua vítima e dela não receber senão manifestações de bondade, eis o seu estado atual e sua punição. Quanto a Lincoln, sua felicidade ultrapassa o que poderia ter esperado.”

    OBSERVAÇÃO: A situação destes dois Espíritos é, em todos os sentidos, idêntica àquela de que diariamente vemos exemplos nos relatos de além-túmulo. Ela é perfeitamente racional e está em relação com o caráter dos dois indivíduos.17

Por que certos Espíritos falam da existência de cidades felizes e de regiões de
sofrimento localizadas no espaço?

      Antes de a Ciência ter revelado aos homens as forças vivas da Natureza, a constituição dos astros, o verdadeiro papel da Terra e sua formação, poderiam eles compreender a imensidade do Espaço e a pluralidade dos mundos? Antes de a Geologia comprovar a formação da Terra, poderiam os homens tirar-lhe o inferno das entranhas e compreender o sentido alegórico dos seis dias da Criação? Antes de a Astronomia descobrir as leis que regem o Universo, poderiam compreender que não há alto nem baixo no Espaço, que o céu não está acima das nuvens nem limitado pelas estrelas? Poderiam identificar-se com a vida espiritual antes dos progressos da ciência psicológica? conceber depois da morte uma vida feliz ou infeliz, a não ser em lugar circunscrito e sob uma forma material? Não; compreendendo mais pelos sentidos que pelo pensamento, o Universo era muito vasto para a sua concepção; era preciso restringi-lo ao seu ponto de vista para alargá-lo mais tarde. Uma revelação parcial tinha sua utilidade, e, embora sábia até então, não satisfaria hoje. O absurdo provém dos que pretendem poder governar os homens de pensamento, sem se darem conta do progresso das ideias, quais se fossem  crianças. (Vede O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III.) 
      18. Nessa imensidade ilimitada, onde está o Céu? Em toda parte. Nenhum contorno lhe traça limites. Os mundos adiantados são as últimas estações do seu caminho, que as virtudes franqueiam e os vícios interditam. Ante este quadro grandioso que povoa o Universo, que dá a todas as coisas da Criação um fim e uma razão de ser, quanto é pequena e mesquinha a doutrina que circunscreve a Humanidade a um ponto imperceptível do Espaço, que no-la mostra começando em dado instante para acabar igualmente com o mundo que a contém, não abrangendo mais que um minuto na Eternidade!
      Como é triste, fria, glacial essa doutrina quando nos mostra o resto do Universo,durante e depois da Humanidade terrestre, sem vida, nem movimento, qual vastíssimo deserto imerso em profundo silêncio! Como é desesperadora a perspectiva dos eleitos votados à contemplação perpétua, enquanto a maioria das criaturas padece tormentos sem-fim! Como lacera os corações sensíveis a ideia dessa barreira entre mortos e vivos! As almas ditosas, dizem, só pensam na sua felicidade, como as desgraçadas, nas suas dores. Admira que o egoísmo reine sobre a Terra quando no-lo mostram no Céu? 
      Oh! quão mesquinha se nos afigura essa ideia da grandeza, do poder e da bondade de Deus! Quanto é sublime a ideia que dele fazemos pelo Espiritismo! Quanto a sua doutrina engrandece as ideias e amplia o pensamento! Mas, quem diz que ela é verdadeira? A Razão primeiro, a Revelação depois, e, finalmente, a sua concordância com os progressos da Ciência. Entre duas doutrinas, das quais uma amesquinha e a outra exalta os atributos de Deus; das quais uma só está em desacordo e a outra em harmonia com o progresso; das quais uma se deixa ficar na retaguarda enquanto a outra caminha, o bom-senso diz de que lado está a verdade. Que, confrontando-as, consulte cada qual a consciência, e uma voz íntima lhe falará por ela. Pois bem, essas aspirações íntimas são a voz de Deus, que não pode enganar os homens. Mas, dir-se-á, por que Deus não lhes revelou de princípio toda a verdade? Pela mesma razão por que se não ensina à infância o que se ensina aos de idade madura.
     A revelação limitada foi suficiente a certo período da Humanidade, e Deus a proporciona gradativamente ao progresso e às forças do Espírito.
   Os que recebem hoje uma revelação mais completa são os mesmos Espíritos que tiveram dela uma partícula em outros tempos e que de então por diante se engrandeceram em inteligência. 18
   “No estado de ignorância, o homem é incapaz de captar as abstrações e abarcar as generalidades; nada concebe que não seja localizado e circunscrito; materializa as coisas imateriais; rebaixa até a majestade divina. Mas, à medida que o progresso da ciência positiva vem esclarecê-lo, reconheceu seu próprio erro: suas ideias, de mesquinhas e acanhadas que eram, crescem e o horizonte do infinito se desenrola aos seus olhos. É assim que, segundo a doutrina espírita, as penas de além-túmulo não podem ser senão morais e são inerentes à natureza impura e imperfeita dos Espíritos inferiores; não há inferno localizado no sentido vulgar ligado ao termo: cada um o tem em si, pelos sofrimentos que suporta e que não são menos cruciantes pelo fato de não serem físicos. O Inferno está em toda parte onde há Espíritos imperfeitos. (Vide Paraíso, Fogo Eterno, Penas Eternas)”19

Ocupação dos Espíritos

     A ocupação dos Espíritos de segunda ordem consiste em se prepararem para as provas que terão de passar; por meditações sobre suas vidas passadas e por observações sobre os destinos humanos, seus vícios, suas virtudes, e o que pode aperfeiçoá-los ou levá-los a falir. Os que, como eu, têm a felicidade de ter uma missão, dela se ocupam com tanto zelo e amor, que o progresso das almas que lhes são confiadas lhes é contado como mérito. Assim, esforçam-se por lhes sugerir bons pensamentos, ajudar os seus bons impulsos, afastar os Espíritos maus, opondo sua suave influência às influências nocivas. Essa ocupação interessante, sobretudo quando se é bastante feliz para dirigir um médium e ter comunicações diretas, não dispensa o cuidado e o dever de aperfeiçoar-se.
     Não creias que o tédio possa atingir um ser que não vive senão pelo espírito e cujas faculdades todas tendem para um objetivo, que sabe afastado, mas certo. O tédio não resulta senão do vazio da alma e da esterilidade do pensamento. O tempo, tão pesado para vós que o medis por vossos temores pueris ou por vossas frívolas esperanças, não submete ao seu talante os que não estão sujeitos nem às agitações da alma, nem às necessidades do corpo. Ele passa ainda mais depressa para os Espíritos puros e superiores, que Deus encarrega da execução de suas ordens e que percorrem as esferas num voo rápido.
     Quanto aos Espíritos inferiores, sobretudo os que têm pesadas faltas a expiar, o tempo se mede por seus pesares, seus remorsos e seus sofrimentos. Os mais perversos dentre eles procuram subtrair-se fazendo o mal, isto é, sugerindo-o. Então experimentam essa áspera e fugidia satisfação do doente que coça a sua ferida e que não faz senão aumentar a sua dor. Assim, seus sofrimentos aumentam de tal modo que acabam fatalmente por lhes ministrar o remédio, que não é senão a volta ao bem.
    Os pobres Espíritos que não são culpados senão pela fraqueza ou pela ignorância, sofrem a sua inanidade, o seu isolamento. Lamentam o seu envoltório terreno, seja qual for a dor que lhes tenha causado. Revoltam-se e se desesperam até o momento em que percebem que só a resignação e uma vontade firme de voltar ao bem podem aliviá-los.
Acalmam-se e compreendem que Deus não abandona nenhuma de suas criaturas. 

MARCILLAC, Espírito familiar.

     OBSERVAÇÃO: A estas observações, perfeitamente justas, acrescentaremos que, trabalhando para si mesmo, o Espírito encarnado trabalha para o melhoramento do mundo em que ele habita. Assim, ele ajuda em sua transformação e no seu progresso material, que estão nos desígnios de Deus, de que ele é o instrumento inteligente. Na sua sabedoria previdente, quis a Providência que tudo se encadeasse na Natureza; que todos, homens e coisas, fossem solidários. Depois, quando o Espírito tiver realizado a sua tarefa, quando estiver suficientemente adiantado, gozará dos frutos de suas obras. 20
     Que é a alma no intervalo das encarnações?
     “Espírito errante, que aspira a novo destino; fica esperando.”
     a) Quanto podem durar esses intervalos?
   “Desde algumas horas até alguns milhares de séculos. Propriamente falando, não há limite máximo estabelecido para o estado de erraticidade, que pode prolongar-se muitíssimo, mas que nunca é perpétuo. Cedo ou tarde, o Espírito terá que volver a uma existência apropriada a purificá-lo das máculas de suas existências precedentes.”
    b) Essa duração depende da vontade do Espírito, ou lhe pode ser imposta como expiação?
      “É uma consequência do livre-arbítrio. Os Espíritos sabem perfeitamente o que
fazem. Mas, também, para alguns, constitui uma punição que Deus lhes inflige. Outros pedem que ela se prolongue, a fim de continuarem estudos que só na condição de Espírito livre podem efetuar-se com proveito.”
       De que modo se instruem os Espíritos errantes? Certo não o fazem do mesmo
modo que nós outros?
     "Estudam o seu passado e procuram meios de elevar-se. Veem, observam o que ocorre nos lugares aonde vão; ouvem os discursos dos homens esclarecidos e os conselhos dos Espíritos mais elevados, e tudo isso lhes incute ideias que antes não tinham." 21

O que é erraticidade?

      “Estado dos Espíritos errantes, isto é, não encarnados, durante os intervalos de
suas diversas existências corpóreas. A erraticidade absolutamente não é símbolo de inferioridade para os Espíritos. Há Espíritos errantes de todas as classes, salvo os da primeira ordem, ou puros Espíritos, que, não tendo mais que passar pela reencarnação, não podem ser considerados errantes. Os Espíritos errantes são felizes ou infelizes, conforme seu grau de depuração. É nesse estado que o Espírito, então despojado do véu material do corpo, reconhece suas existências anteriores e as faltas que o distanciam da perfeição e da felicidade infinita. É ainda nessa condição que ele escolhe novas provas, a fim de progredir mais rapidamente.”22
      230. Na erraticidade, o Espírito progride?
    “Pode melhorar-se muito, tais sejam a vontade e o desejo que tenha de conseguilo. Todavia, na existência corporal é que põe em prática as novas ideias que adquiriu.”23

Não há solução de continuidade nas relações entre Espíritos e homens

     Os Espíritos já purificados vêm aos mundos inferiores?
“Fazem-no frequentemente, com o fim de auxiliar-lhes o progresso. A não ser assim, esses mundos estariam entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los.” 24 
     Costumam os Espíritos imiscuir-se em nossos prazeres e ocupações?
     “Os Espíritos vulgares, como dizes, costumam. Esses vos rodeiam constantemente
e com frequência tomam parte muito ativa no que fazeis, de conformidade com suas naturezas. Cumpre assim aconteça, para impelir os homens pelas diversas veredas da vida, e para lhes excitar ou moderar as paixões.”
     Com as coisas deste mundo os Espíritos se ocupam segundo o grau de elevação ou de inferioridade em que se achem. Os Espíritos superiores dispõem, sem dúvida, da faculdade de examiná-las nas suas mínimas particularidades, mas só o fazem na medida em que isso seja útil ao progresso. Unicamente os Espíritos inferiores ligam a essas coisas uma importância relativa às reminiscências que ainda conservam e às ideias materiais que ainda se não extinguiram neles.25

     O Espírito encarnado permanece de bom grado no seu envoltório corporal?
     “É como se perguntasses se ao encarcerado agrada o cárcere. O Espírito
encarnado aspira constantemente à sua libertação, e tanto mais deseja ver-se livre do seu envoltório, quanto mais grosseiro é este.”
       Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
    “Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos. ”
Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?
     “Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire maior potência e pode pôr-se em comunicação com outros Espíritos, quer neste mundo, quer noutro. Dizes frequentemente: Tive um sonho extravagante, um sonho horrível, mas absolutamente inverossímil. Enganas-te. É amiúde uma recordação dos lugares e das coisas que viste ou que verás em outra existência ou em outra ocasião.
Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar seus grilhões e de investigar no passado ou no futuro. “Pobres homens, que mal conheceis os mais vulgares fenômenos da vida! Julgais-vos muito sábios e as coisas mais comezinhas vos confundem. Nada sabeis responder a estas perguntas que todas as crianças formulam: Que fazemos quando dormimos? Que são os sonhos? (…)26
     Os Espíritos amigos que nos seguem os passos na vida serão talvez os que vemos em sonho, que nos testemunham afeto e que se nos apresentam com semblantes desconhecidos?
“Muito frequentemente são; eles vos vêm visitar, como ides visitar um encarcerado.”27

1 O Livro dos Médiuns, item 301, 9ª.
2 Idem, item 76.
3 Idem, item 84.
4 O Livro dos Espíritos, item 134.
5 Idem, item 149.
6 . O Céu e o Inferno - Primeira Parte - Doutrina - Cap. III - O Céu, item 5.
7 O que é o Espiritismo?, cap. II - Noções elementares de Espiritismo - Dos Espíritos, itens 12 e 13.
8 Ver artigo publicado na Revista Espírita de julho de 1859 - Conversas familiares de além-túmulo – Notícias da Guerra – O Zuavo de Magenta.
9 O Livro dos Espíritos, itens 274 a 278.
10 Idem, itens 965 a 970.
11 Idem, item 87.
12 O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III - Há muitas moradas na casa de meu Pai – Diferentes estados da alma na erraticidade.
13 O Livro dos Espíritos, itens 12 a 14.
14 O Livro dos Espíritos, item 1012.
15 O Livro dos Espíritos, itens 16 e 17.
16 O Céu e o Inferno - Primeira Parte - Doutrina - Cap. III - O Céu, item 6.
17 Revista Espírita, março de 1867 - Lincoln e o seu matador.
18 O Céu e o Inferno - Primeira Parte – Doutrina, cap. III - O Céu, item 18.
19 Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas - Vocabulário Espírita – INFERNO
20 Revista Espírita, junho de 1861 - Dissertações e ensinos espíritas - Ocupações dos Espíritos.
21 O Livro dos Espíritos, itens 224 e 227.
22 Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas -Vocabulário Espírita – ERRATICIDADE.
23 O Livro dos Espíritos, item 230.
24 Idem, item 233.
25 Idem, item 567.
26 O Livro dos Espíritos, itens 400 a 402.
27 Idem, item 343.

Geak - Grupo de Estudos Allan Kardec


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